MARIA HELENA FIGUEIREDO
Esta é a madrugada
que eu esperava…
Esta semana levantaram-se vozes
contra a comemoração solene do 25 de Abril na Assembleia da República.
A
gente sabe que apesar de estarem a passar 46 anos sobre aquela madrugada em que
se abriram as portas da democracia, hoje como há 46 anos há quem não queira que
se celebre a liberdade ou melhor, há quem ainda não consiga conviver com a
liberdade.
Hoje,
46 anos passados, há quem não tenha pejo em se aproveitar da natural ansiedade
e até medo que o COVID 19 infunde nas pessoas, para construir um discurso que,
sob a capa da protecção da saúde e igualdade de obrigações entre o Parlamento e
os cidadãos, tem servido para acicatar revolta e virar o povo contra a
celebração da liberdade.
Sim
porque é isso que no fundo pretendem aqueles que iniciaram o ataque à Assembleia
da República quando esta, democraticamente, decidiu comemorar o 25 de Abril com
uma sessão solene em que estarão presentes 130 pessoas, das quais apenas 77 dos
230 deputados.
Alguém
acredita verdadeiramente que são as questões de saúde pública que mobilizaram o
CDS ou o deputado Ventura, para quem tudo é uma vergonha, contra a sessão
solene de celebração do 25 de Abril?
Se
assim fosse porque não protestaram quando 36 deputados do PSD estavam no
parlamento quando tinham acordado que apenas metade lá deveria estar? Esse
número é superior ao número dos que estarão nessa bancada na sessão solene do
25 de Abril.
Não
protestaram, nem sequer pestanejaram, porque a motivação não é o COVID 19, é
mesmo uma raiva incontida ao 25 de Abril e à liberdade que com ele veio, uma
raiva que não disfarçam e que manifestam sempre que podem.
Mas
a verdade é que nem a Democracia está suspensa, nem a Assembleia da República
encerrou as portas, nem os deputados estão confinados.
Como
acontece com centenas de milhares de trabalhadores, os deputados continuam a
exercer funções, fazem-no nos seus gabinetes e também no Plenário da Assembleia
da República; o Parlamento tem estado, como deve, a funcionar, cumprindo as
normas sanitárias e de afastamento físico.
A
Assembleia da República está aberta e no dia 25 de Abril não vai fechar. Não
vão haver paradas ou desfiles, nem as bancadas e as galerias vão estar cheias
com centenas de pessoas, como acontece todos os anos; A Assembleia da República
vai celebrar o 25 de Abril, de forma contida, haverá alguns convidados,
seguindo todas as regras de afastamento físico e de protecção que são
recomendadas, no caso concreto, pelo Ministério da Saúde.
Celebrar
Abril é sempre importante, ao celebrar Abril estamos a celebrar o momento
fundador da nossa Democracia e a homenagear os jovens capitães que
generosamente nos permitiram construir um país livre.
Mas
este ano celebrar Abril reveste ainda um sentido especial, não apenas como
celebração de tudo o que foi alcançado, mas porque foi Abril que nos trouxe um
Serviço Nacional de Saúde, que se quis público, gratuito e universal, que
integra profissionais competentes e dedicados, e que, apesar dos ataques de que
tem sido alvo, está a demonstrar que consegue ultrapassar-se e prestar um
serviço inestimável ao povo face à pandemia da Covid 19.
Celebremos
nós também Abril nas palavras de Sophia de Mello Breyner
“esta
é a madrugada que eu esperava,
o
dia inicial inteiro e limpo,
onde
emergimos da noite e do silêncio
e
livres habitamos a substância do tempo”.
Fiquem
bem, fiquem livres!
Até
para a semana
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