EDUARDO LUCIANO
A política, essa ausente das
campanhas eleitorais
Neste ano de duas campanhas eleitorais de âmbito nacional, seria
de esperar que a política estivesse no centro de todos os debates, enquanto
confronto de ideias e de ideais, de afirmação de posições sobre os caminhos a
seguir, de debate ideológico, de luta pela defesa de avanços ou pela bondade de
retrocessos na melhoria das condições de vida.
Seria de esperar mas não é o que está a acontecer. O que se vê e
ouve está fora de tudo o que é uma discussão política séria, assente em
propostas concretas e caminhos apontados a um qualquer futuro. São horas a
discutir relações familiares até à quinta geração, a contabilizar novidades por
oposição a permanências ou a tentar roer a maçã do vizinho até encontrar uma
qualquer mancha que indicie a presença de uma qualquer podridão.
As campanhas eleitorais transformaram-se em escrutínios de pureza
moral, com os candidatos da extrema-direita a cavalgar nessas ondas de
indignação e a arregimentarem apoios contra a “política” e os “políticos”. Não
importa o que se propõe mas quem propõe, o aspecto físico que tem ou as suas
relações familiares.
De campanha em campanha tudo se parece deteriorar e a vida dos que
tentam fazer de forma diferente fica mais difícil.
Imaginem numa campanha para o Parlamento Europeu uns estarem a
explicar que Europa e União Europeia são coisas diferentes e que ser contra a
segunda não significa querer sair da primeira e outros estarem a dizer que são
melhores porque o adversário é alto ou mais baixo, mais gordo ou mais magro,
mais eticamente inatacável ou menos exposto a tentações.
Depois os cidadãos confundem isto com política e desistem de levar
a sério todo e qualquer processo que, não sendo político, é conotado com a
nobre actividade de cidadania que é a política.
Começou agora? Foi por causa de processos eleitorais como o do
Brasil e dos Estados Unidos, que vieram demonstrar que o caminho do sucesso dos
votos não era a política mas o submundo da mentira e da manipulação de massas
que a tecnologia veio armar como nunca antes tinha acontecido?
É possível, mas este é um caminho que vem de longe e que
rapidamente afunilou no estado a que chegámos e que também passou pelo
amaldiçoar de algumas palavras. Passou por ser possível alguém dizer “voto
contra este ou aquele documento por ser demasiado ideológico” em vez de afirmar
que se votava contra por razões ideológicas. Por dividir os que lutam por
causas em bons e maus, sendo que os maus são militantes e os bons são
“activistas”, deixando de importar a causa pela qual se assumem. Por valorizar
as “ONG” como fontes de toda a verdade e candura, sem distinguir origens,
fontes de financiamento e objectivos, como se bastasse um carimbo para garantir
a honestidade dos fins.
Não sabemos como começou, podemos divergir sobre como se
desenvolveu, mas se formos honestos teremos de admitir que sabemos como pode
terminar.
A luta dos
que mantêm firmes e sem concessões a uma suposta modernidade, que é velha como
tudo o que é podre, não se adivinha fácil, mas este não é o melhor momento para
desalentos. É mesmo o momento para avançar, apesar do vento que sopra em
sentido contrário. Por razões ideológicas, de forma militante.
Até para a semana
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