segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM



MARIA HELENA FIGUEIREDO
                              CHARROS DE HIPOCRISIA
Na semana passada foram a votação na Assembleia da República propostas do Bloco de Esquerda e do PAN para a legalização da canábis para uso pessoal.
O PSD, CDS e também o PCP chumbaram estes projectos de Lei.
Esperava-se que o PSD desse o seu acordo, permitindo aprofundar a lei em especialidade, já que no seu congresso tinha aprovado uma moção a favor da legalização.
Do PS 25 deputados votaram a favor da proposta do Bloco de Esquerda e a maioria dos deputados socialistas absteve-se. O mesmo fizeram os Verdes.
Alguns dirão que há assuntos mais importantes que este.
Contudo, se quisermos ter uma sociedade responsável, informada e que respeita as liberdades individuais o caminho não é enterrar a cabeça na areia, ignorar a realidade e proibir.
Um número crescente de portugueses e portuguesas, jovens e menos jovens, com as mais diferentes profissões, as mais diversas opções politicas e de todas as classes sociais consomem regularmente canábis, seja em planta – a marijuana, seja em resina, o haxixe.
De acordo com os últimos dados disponíveis podemos concluir que 8% dos portugueses com idades entre os 15 e os 44 anos consomem canábis e dos homens entre os 15 e os 34 anos 10,9% são consumidores. Ou seja, só entre os 15 e os 44 anos estamos a falar de 300.000 consumidores.
A maioria destes consumidores recorre à compra clandestina de haxixe, que chega a Portugal através de redes de tráfico que por cá vendem produto de má qualidade, porque o melhor vai para o norte da Europa, para os países com maior poder de compra.
Manter ilegal o consumo e a manutenção de plantas para autoconsumo é não olhar de frente para esta realidade e é compactuar com problemas graves como a adulteração de substâncias que envolvem sérios perigos e são efectivamente um problema de saúde pública e também engordar os traficantes.
Legalizar, pelo contrário, é combater as redes de tráfico, promover a saúde pública e o consumo informado.
Não me atrevo a dizer que alguns dos ilustres votantes também já consumiram canábis mas muitos deles acham que basta fechar os olhos ao consumo por centenas de milhares de portugueses. Em qualquer caso, condene-se ou fechem-se os olhos, a posição é velha, cheira a mofo e é pouco consonante com os tempos que correm. Sobretudo é uma posição hipócrita.
Uma coisa é certa: A lei não passou agora, mas irá passar no futuro, porque é esse o caminho que países tão diferentes como a Noruega ou a África do Sul estão a fazer ou os Estados Unidos, em que a legalização ocorreu já em 10 Estados.
É esse o sentir das pessoas e é caminho para uma sociedade mais livre e mais respeitadora dos direitos e liberdades individuais.
É esse o caminho do Século XXI.
Até para a semana!

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