EDUARDO LUCIANO
A ESTUPEFACÇÃO E A ESTUPIDIFICAÇÃO
Era perfeitamente previsível que 2019 começasse como acabou o ano
anterior. Ainda assim não esperava que o ambiente se agravasse tanto em apenas
três semanas, que a escalada de promoção de ideais fascistas e de figuras
tristes a eles associadas fosse de tal forma incrementada que, de repente, até
os mais condescendentes se assustaram e vieram produzir opinião sobre o
assunto.
Parece
ter começado a corrida entre os canais de televisão para ver quem desce mais
baixo na qualidade da desinformação, na promoção da mediocridade e na
simplificação do discurso até à mais completa imbecilização do receptor.
Depois
é tudo mais fácil de aceitar, incluindo a presença em programas televisivos de
defensores de ideais cuja promoção está expressamente proibida na Constituição
de 1976, justificada por um inenarrável comunicado onde se defende o confronto
de opiniões como se fossem discutíveis questões como a supremacia racial, a
supressão de liberdades, a discriminação em função do género ou da orientação
sexual.
Como
se tudo isto não fosse já suficientemente mau, ainda temos um Presidente da
República que ao participar em programas de televisão de gosto duvidoso dá o
patrocínio institucional a uma certa forma de comunicar. Provavelmente porque
não se esqueceu que foi através da sua construção como figura pop do comentário
televisivo, durante anos, que chegou à vitória eleitoral que o levou até Belém.
O
homem dos afectos descobriu agora, entre uns telefonemas em directo e uns
abraços devidamente registados, que é um defensor da abolição das propinas no
ensino superior.
Quando
a 28 de Maio de 1992 foi debatida a proposta do governo PSD que tornou possível
um aumento das propinas onde estava o então destacado militante desse partido
que agora ocupa o mais alto cargo da nação?
Quando
o PCP propôs a abolição das propinas e os estudantes de diversas academias
encetaram acções de luta com esse objectivo, qual era a opinião do homem que
veio mais tarde a ocupar o lugar de presidente do PSD?
Quando
o PCP argumentava que o aumento das propinas era desconforme com os princípios
constitucionais, o insigne professor de direito tomou posição pública sobre o
assunto?
São
perguntas de retórica, como seriam outras que poderia fazer aos que agora
agarram na bandeira, ignorando que quando a luta começou nem sequer existiam.
O
ano começa com estupefacção e com o reforço da tentativa da estupidificação
massiva. Começa com o reforço da necessidade de regresso aos combates mais
básicos e onde é precisa mais coragem e firmeza.
Até
para a semana
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