segunda-feira, 22 de outubro de 2018

VASCULHAR O PASSADO - Augusto Mesquita

                 O EXTERNATO MESTRE DE AVIS FOI INAUGURADO HÁ 65 ANOS
Desde a fundação da nacionalidade até meados do século XVI o ensino esteve sob a tutela da igreja. Em 1759, com a expulsão dos jesuítas decretada pelo Rei D. José I, foi ordenada a “geral reforma”, na qual o Marquês de Pombal procede à estatização do ensino, criando aulas régias gratuitas. Na sequência da reforma operada por Sebastião José de Carvalho e Melo foram criadas centenas de escolas, nas quais foram colocados 479 mestres de ler, escrever e contar, que utilizavam a cartilha “Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar” do padre jesuíta Manuel de Andrade de Figueiredo.
Durante o século XIX as referidas aulas régias irão dar origem ao ensino primário, tornando-o obrigatório. Entanto, essa obrigatoriedade nunca sai do papel e só virá a ser efectivada já durante o Estado Novo.
O que hoje designamos por Ensino Secundário tem a sua origem no princípio do século XVI. Foi então que se estabeleceu, entre nós, duma forma estruturada um conjunto de matérias, e se criaram escolas próprias para as ministrar, tendo como objectivo fundamental preparar uma elite social e cultural para a frequência de cursos superiores (Direito Canónico, Direito Civil, Medicina e Teologia). A idade mínima de ingresso nos cursos superiores variava, geralmente, entre os 16 anos para cânones e leis, e os 18 para medicina e teologia.
Com o apoio de D. Manuel, começa a ser instituído nos mosteiros de algumas ordens religiosas, o ensino secundário, então designado de “Artes”.
No dia 5 de Dezembro de 1836, o Ministro do Reino, Manuel da Silva Passos, mais conhecido por Passos Manuel, criou o Ensino Liceal (um liceu em cada distrito e dois em Lisboa).
Quantos alunos com enorme capacidade intelectual ficaram para trás por falta de condições económicas para frequentarem os liceus que só existiam nas sedes de distrito?
Em 1844 os seminários eclesiásticos são transformados em liceus, o que permite ampliar a rede liceal do país.
Em 1895 o ensino passa a estar dividido em dois cursos, o Curso Geral e o Curso Complementar, que prepara os alunos para o ensino superior. O número de alunos nos liceus públicos continua a ser muito reduzido, a grande maioria continua a preferir o ensino particular ou o doméstico.
Por exemplo, no ano de 1900, já após a reforma de João Franco e Jaime Moniz operada em 1894 e 1895, dos 4606 alunos existentes, 247 discípulos, frequentavam o ensino doméstico.
Com a implantação da República em 1910, foram publicados dados estatísticos do ensino liceal: Liceus – 32 (28 no continente e 4 nas ilhas); professores – 510; alunos – 8.275, sendo 924 raparigas.
Ao longo dos anos, o ensino liceal sofreu variadíssimas reformas, até que em 1948 se procedeu à publicação dos estatutos do ensino liceal e do técnico:
 a) O ensino liceal, dá acesso aos cursos superiores, sendo frequentado por alunos predominantemente oriundos das classes de maiores rendimentos. Estava dividido em três níveis: O 1.º Ciclo (com dois anos), a que se seguia o Curso Geral dos Liceus (com três anos) e Curso Complementar dos Liceus (com dois anos), que dava acesso aos cursos superiores.
    b) O ensino técnico, que dá acesso aos institutos comerciais e institutos industriais, é frequentado, sobretudo, pelos filhos das camadas de menores rendimentos da população. Este ensino, possui cursos nas áreas dos serviços, formação feminina, industria e artes.
 Só no dia 2 de Janeiro de 1960 é que Montemor-o-Novo inaugurou a desejada Escola Industrial e Comercial. Foi uma enorme conquista, pois até então, só um número reduzido de famílias podia arcar com a despesa da educação dos filhos no ensino privado.
 Na sequência da Revolução dos Cravos, a separação entre o ensino liceal e o ensino técnico, é alvo de uma enorme contestação, impondo-se rapidamente, a exigência da sua unificação. A consequência imediata, foi a transformação dos liceus e das escolas técnicas, em escolas secundárias.
Depois deste preâmbulo, vamos relatar um pouco do historial do Externato Mestre de Avis:
Em data que se desconhece, o Dr. João de Freitas Monteiro fundou na Rua do Quebra-Costas a “Escola Mestre de Avis”, que começou a leccionar apenas o primeiro ciclo liceal.
No Bi-Semanário “A Folha do Sul” de 1 de Setembro de 1935 está inserido um anúncio à Escola “Mestre de Avis”: “Remodelada e com as suas instalações convenientemente ampliadas reabrirá em 9 de Outubro”.
Após alguns anos de actividade, leccionando já todo o Curso Geral dos Liceus, em 1938 passou para as mãos do Dr. Mário Nunes Vacas.
 Promulgado em 1949 o Estatuto do Ensino Particular, este estabelecimento de ensino passou a designar-se “Externato Mestre de Avis”.
Até 1953 funcionou no primitivo edifício. As suas instalações eram, porém, deficientes e as exigências cada vez maiores, quer pela crescente frequência escolar, quer pela necessidade de completar e aperfeiçoar os meios de ensino e formação de alunos.
Em Outubro de 1953 o “Externato Mestre de Avis”, após a transferência de todo o recheio, começou a funcionar no seu novo edifício, especialmente construído para o efeito, na Avenida Gago Coutinho. O novo edifício dispõe de salas amplas, laboratórios de física e química devidamente apetrechados, de um vasto ginásio, de um ringue de patinagem, de uma caixa de saltos, de campos de jogos, de sedes para a Mocidade Portuguesa masculina e feminina, e de recreio para rapazes e meninas (nada de misturas...).
Pouco depois, em instalações provisórias, começou o colégio a ministrar também o ensino infantil pré-primário. Não tardou muito que surgisse um sector lateral ao do Ensino Secundário, um belo pavilhão destinado expressamente a ministrar o ensino infantil e o ensino primário para rapazes e meninas, tendo anexos, ringue de patinagem, parque infantil, campo de jogos e recreios.
                                                                                 Piscinas
Finalmente, o plano completou-se com um óptimo conjunto de piscinas, dispondo da competente estação mecânica de purificação da água. A utilização das piscinas, foi facultada ao público externo, originando deste modo, um benefício à terra. Junto às piscinas, que possuíam todos os requisitos para competições desportivas, funcionou um bar, servido por uma unidade de restauração da vila.
No dia da inauguração, dia 28 de Julho de 1968, as piscinas do “Externato Mestre de Avis” registaram uma enchente, vendendo-se mais de seiscentos bilhetes.
Em estreita união com os Directores do “Externato Mestre de Avis”, Dr. Mário Nunes Vacas e Dr.ª Ana Ribeiro da Mota Nunes Vacas, sua esposa, trabalhou uma escolhida e dedicada equipa de professores, empenhados na tarefa comum de formar os futuros homens e mulheres.
Em 2 de Janeiro de 1960 começou a funcionar nas antigas instalações da Escola Central, sob a direcção do Dr. Adriano Vaz Velho, a Escola Industrial e Comercial de Montemor-o-Novo. Este estabelecimento de ensino público “quase gratuito”, foi reduzindo o número de novos alunos do “Mestre de Avis”.
 No ano lectivo de 1967/68, a frequência do colégio foi de 180 alunos, sendo 140 do ensino liceal e os restantes do sector primário.
 No final do ano lectivo de 1971/72 o “Externato Mestre de Avis” encerrou as suas portas.
 Decorrido um ano sobre o seu encerramento, o colégio foi adquirido pelo Ministério da Educação Nacional para aí funcionar o Ciclo Preparatório, que estava instalado no Rossio em pré-fabricados em segunda mão, vindos da Ilha da Madeira. No Cartório Notarial de Montemor-o-Novo, em 22 de Março de 1974, foi assinada a escritura de compra pelo Estado das instalações do “Mestre de Avis”. Por parte do Estado, interveio na escritura o Exmo. Senhor Chefe da Repartição de Finanças, Manuel Rodrigues Allen Revez.
Com a inauguração das novas instalações do Ciclo Preparatório, (actual C+S), por despacho ministerial de 27 de Abril de 1992 foi efectuada a cessão do direito do usufruto por 30 anos, a título precário e gratuito, nos termos do Decreto-Lei n.º 24.489, de 13 de Setembro de 1934, das instalações à Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, para nelas desenvolver actividades educativas e culturais, e ainda, à instalação de um Centro de Recursos Educativos. Voltará á posse da entidade cedente, por simples despacho ministerial, se lhe for dada aplicação diversa daquela para que foram cedidas.
Para celebrar o 50.º aniversário da fundação do “Externato Mestre de Avis”, antigos alunos e professores reuniram-se no dia 16 de Novembro de 2002 para rever amigos que as estradas da vida afastaram, mas que todos os anos teimam em reunir-se.
Entre muitos, disseram presente a esta chamada a Dr.ª Ana da Mota Vacas, esposa do Director do Externato, Dr. Mário Nunes Vacas, já falecido, e os Padres António Lavajo Simões e Alberto Dias Barbosa. Assim, de manhã, após a concentração no Convento de S. Domingos, fizeram uma visita ao Museu. Depois foi a missa celebrada na igreja daquele convento, em memória de todos os professores e alunos que já partiram. O Restaurante “Ao Pôr do Sol” foi o local escolhido para um almoço convívio que se prolongou pela tarde, com poesia, canções, e sobretudo memórias de outros tempos.

Augusto Mesquita
Outubro/2018

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