Desde
a fundação da nacionalidade até meados do século XVI o ensino esteve sob a
tutela da igreja. Em 1759, com a expulsão dos jesuítas decretada pelo Rei D.
José I, foi ordenada a “geral reforma”, na qual o Marquês de Pombal procede à
estatização do ensino, criando aulas régias gratuitas. Na sequência da reforma
operada por Sebastião José de Carvalho e Melo foram criadas centenas de
escolas, nas quais foram colocados 479 mestres de ler, escrever e contar, que
utilizavam a cartilha “Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar” do
padre jesuíta Manuel de Andrade de Figueiredo.
Durante
o século XIX as referidas aulas régias irão dar origem ao ensino primário,
tornando-o obrigatório. Entanto, essa obrigatoriedade nunca sai do papel e só
virá a ser efectivada já durante o Estado Novo.
O
que hoje designamos por Ensino Secundário tem a sua origem no princípio do
século XVI. Foi então que se estabeleceu, entre nós, duma forma estruturada um
conjunto de matérias, e se criaram escolas próprias para as ministrar, tendo
como objectivo fundamental preparar uma elite social e cultural para a
frequência de cursos superiores (Direito Canónico, Direito Civil, Medicina e
Teologia). A idade mínima de ingresso nos cursos superiores variava,
geralmente, entre os 16 anos para cânones e leis, e os 18 para medicina e
teologia.
Com
o apoio de D. Manuel, começa a ser instituído nos mosteiros de algumas ordens
religiosas, o ensino secundário, então designado de “Artes”.
No
dia 5 de Dezembro de 1836, o Ministro do Reino, Manuel da Silva Passos, mais
conhecido por Passos Manuel, criou o Ensino Liceal (um liceu em cada distrito e
dois em Lisboa).
Quantos
alunos com enorme capacidade intelectual ficaram para trás por falta de
condições económicas para frequentarem os liceus que só existiam nas sedes de
distrito?
Em
1844 os seminários eclesiásticos são transformados em liceus, o que permite
ampliar a rede liceal do país.
Em
1895 o ensino passa a estar dividido em dois cursos, o Curso Geral e o Curso
Complementar, que prepara os alunos para o ensino superior. O número de alunos
nos liceus públicos continua a ser muito reduzido, a grande maioria continua a
preferir o ensino particular ou o doméstico.
Por
exemplo, no ano de 1900, já após a reforma de João Franco e Jaime Moniz operada
em 1894 e 1895, dos 4606 alunos existentes, 247 discípulos, frequentavam o
ensino doméstico.
Com
a implantação da República em 1910, foram publicados dados estatísticos do
ensino liceal: Liceus – 32 (28 no continente e 4 nas ilhas); professores – 510;
alunos – 8.275, sendo 924 raparigas.
Ao
longo dos anos, o ensino liceal sofreu variadíssimas reformas, até que em 1948
se procedeu à publicação dos estatutos do ensino liceal e do técnico:
a)
O ensino liceal, dá acesso aos cursos superiores, sendo frequentado por alunos
predominantemente oriundos das classes de maiores rendimentos. Estava dividido
em três níveis: O 1.º Ciclo (com dois anos), a que se seguia o Curso Geral dos
Liceus (com três anos) e Curso Complementar dos Liceus (com dois anos), que
dava acesso aos cursos superiores.
b)
O ensino técnico, que dá acesso aos institutos comerciais e institutos
industriais, é frequentado, sobretudo, pelos filhos das camadas de menores
rendimentos da população. Este ensino, possui cursos nas áreas dos serviços,
formação feminina, industria e artes.
Só
no dia 2 de Janeiro de 1960 é que Montemor-o-Novo inaugurou a desejada Escola
Industrial e Comercial. Foi uma enorme conquista, pois até então, só um número
reduzido de famílias podia arcar com a despesa da educação dos filhos no ensino
privado.
Na
sequência da Revolução dos Cravos, a separação entre o ensino liceal e o ensino
técnico, é alvo de uma enorme contestação, impondo-se rapidamente, a exigência
da sua unificação. A consequência imediata, foi a transformação dos liceus e
das escolas técnicas, em escolas secundárias.
Depois
deste preâmbulo, vamos relatar um pouco do historial do Externato Mestre de Avis:
Em
data que se desconhece, o Dr. João de Freitas Monteiro fundou na Rua do
Quebra-Costas a “Escola Mestre de Avis”, que começou a leccionar apenas o
primeiro ciclo liceal.
No
Bi-Semanário “A Folha do Sul” de 1 de Setembro de 1935 está inserido um anúncio
à Escola “Mestre de Avis”: “Remodelada e com as suas instalações
convenientemente ampliadas reabrirá em 9 de Outubro”.
Após
alguns anos de actividade, leccionando já todo o Curso Geral dos Liceus, em
1938 passou para as mãos do Dr. Mário Nunes Vacas.
Promulgado
em 1949 o Estatuto do Ensino Particular, este estabelecimento de ensino passou
a designar-se “Externato Mestre de Avis”.
Até
1953 funcionou no primitivo edifício. As suas instalações eram, porém,
deficientes e as exigências cada vez maiores, quer pela crescente frequência
escolar, quer pela necessidade de completar e aperfeiçoar os meios de ensino e
formação de alunos.
Em
Outubro de 1953 o “Externato Mestre de Avis”, após a transferência de todo o
recheio, começou a funcionar no seu novo edifício, especialmente construído
para o efeito, na Avenida Gago Coutinho. O novo edifício dispõe de salas
amplas, laboratórios de física e química devidamente apetrechados, de um vasto
ginásio, de um ringue de patinagem, de uma caixa de saltos, de campos de jogos,
de sedes para a Mocidade Portuguesa masculina e feminina, e de recreio para
rapazes e meninas (nada de misturas...).
Pouco
depois, em instalações provisórias, começou o colégio a ministrar também o
ensino infantil pré-primário. Não tardou muito que surgisse um sector lateral
ao do Ensino Secundário, um belo pavilhão destinado expressamente a ministrar o
ensino infantil e o ensino primário para rapazes e meninas, tendo anexos,
ringue de patinagem, parque infantil, campo de jogos e recreios.
Finalmente,
o plano completou-se com um óptimo conjunto de piscinas, dispondo da competente
estação mecânica de purificação da água. A utilização das piscinas, foi
facultada ao público externo, originando deste modo, um benefício à terra.
Junto às piscinas, que possuíam todos os requisitos para competições
desportivas, funcionou um bar, servido por uma unidade de restauração da vila.
No
dia da inauguração, dia 28 de Julho de 1968, as piscinas do “Externato Mestre
de Avis” registaram uma enchente, vendendo-se mais de seiscentos bilhetes.
Em
estreita união com os Directores do “Externato Mestre de Avis”, Dr. Mário Nunes
Vacas e Dr.ª Ana Ribeiro da Mota Nunes Vacas, sua esposa, trabalhou uma
escolhida e dedicada equipa de professores, empenhados na tarefa comum de
formar os futuros homens e mulheres.
Em
2 de Janeiro de 1960 começou a funcionar nas antigas instalações da Escola
Central, sob a direcção do Dr. Adriano Vaz Velho, a Escola Industrial e
Comercial de Montemor-o-Novo. Este estabelecimento de ensino público “quase
gratuito”, foi reduzindo o número de novos alunos do “Mestre de Avis”.
No
ano lectivo de 1967/68, a frequência do colégio foi de 180 alunos, sendo 140 do
ensino liceal e os restantes do sector primário.
No
final do ano lectivo de 1971/72 o “Externato Mestre de Avis” encerrou as suas
portas.
Decorrido
um ano sobre o seu encerramento, o colégio foi adquirido pelo Ministério da
Educação Nacional para aí funcionar o Ciclo Preparatório, que estava instalado
no Rossio em pré-fabricados em segunda mão, vindos da Ilha da Madeira. No
Cartório Notarial de Montemor-o-Novo, em 22 de Março de 1974, foi assinada a
escritura de compra pelo Estado das instalações do “Mestre de Avis”. Por parte
do Estado, interveio na escritura o Exmo. Senhor Chefe da Repartição de
Finanças, Manuel Rodrigues Allen Revez.
Com
a inauguração das novas instalações do Ciclo Preparatório, (actual C+S), por
despacho ministerial de 27 de Abril de 1992 foi efectuada a cessão do direito
do usufruto por 30 anos, a título precário e gratuito, nos termos do
Decreto-Lei n.º 24.489, de 13 de Setembro de 1934, das instalações à Câmara
Municipal de Montemor-o-Novo, para nelas desenvolver actividades educativas e
culturais, e ainda, à instalação de um Centro de Recursos Educativos. Voltará á
posse da entidade cedente, por simples despacho ministerial, se lhe for dada
aplicação diversa daquela para que foram cedidas.
Para
celebrar o 50.º aniversário da fundação do “Externato Mestre de Avis”, antigos
alunos e professores reuniram-se no dia 16 de Novembro de 2002 para rever amigos
que as estradas da vida afastaram, mas que todos os anos teimam em reunir-se.
Entre
muitos, disseram presente a esta chamada a Dr.ª Ana da Mota Vacas, esposa do
Director do Externato, Dr. Mário Nunes Vacas, já falecido, e os Padres António
Lavajo Simões e Alberto Dias Barbosa. Assim, de manhã, após a concentração no
Convento de S. Domingos, fizeram uma visita ao Museu. Depois foi a missa
celebrada na igreja daquele convento, em memória de todos os professores e
alunos que já partiram. O Restaurante “Ao Pôr do Sol” foi o local escolhido
para um almoço convívio que se prolongou pela tarde, com poesia, canções, e
sobretudo memórias de outros tempos.
Augusto Mesquita
Outubro/2018
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