Florbela Espanca
- Um nome esquecido em Vila Viçosa
Nasceu em Évora em 1975. Licenciado em Antropologia pela
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Mestre
em Museologia pela Universidade de Évora. Foi Bolseiro no Bourguiba Institute
of Modern Languages na Universidade de Tunis e na Facultad de Filosofia y
Letras da Universidad de Cádiz. Diplomado em Gestión del Patrimonio pelo ILAM –
Instituto Latinoamericano de Museus.
Florbela
Espanca foi diferente. Nascida em Vila Viçosa no dia 8 de Dezembro de 1894,
desde cedo a sua vida foi marcada por diversas vicissitudes, que influenciaram
profundamente a sua obra literária.~
Irreverente,
ousada e sonhadora, abriu horizontes que contribuíram para uma mudança de
mentalidades, relativamente ao papel da mulher na sociedade portuguesa. O seu
legado representa um novo ciclo a nível literário, a partir de uma perspetiva
feminina. Largamente valorizada no mundo lusófono, do ponto de vista académico,
foi precursora de uma moderna poesia, que a tornou lendária.
Tendo em
conta o seu valor poético e a forma como soube defender os seus ideais,
Florbela é um nome incontornável da cultura em Portugal. Lutou, até ao fim,
pela sua poesia.
Infelizmente,
na sua terra natal, o seu nome tem sido sistematicamente esquecido nas últimas
décadas. Em 2015, em virtude de se poderem perder memórias e objetos
relacionados com Florbela Espanca, decidi avançar com uma petição pública
dirigida ao município calipolense, de modo a que fossem criadas condições para
a instalação de uma Casa-Museu.
O objetivo
desta iniciativa teve sobretudo a ver com a necessidade de salvaguarda de uma
identidade local que está em risco e que poderá ser importante, do ponto de
vista cultural, social e turístico.
Para além da
petição, procedi também ao levantamento de objetos integrados em coleções
particulares, diretamente relacionados com Florbela Espanca e com a sua
família. Esse trabalho está em desenvolvimento e poderá servir de base a um
futuro programa museológico.
Uma
associação local, o Grupo “Amigos de Vila Viçosa”, criada em 1935, detém também
um espólio considerável, de objetos, livros e fotografias, que foram já
estudados pela Universidade de Évora.
Esta
coletividade, desde a sua criação, sempre lutou pela dignificação do nome de
Florbela e conseguiu, depois de muita insistência, trazer os restos mortais da
Poetisa, de Matosinhos para Vila Viçosa, em 1964. No edifício dos Paços do
Concelho, encontram-se também alguns quadros pintados por João Maria Espanca e
que são reveladores do gosto familiar pelas artes. Um deles representa a sua
filha.
Para além
disso, existem mais manuscritos e fotografias inéditas de Florbela em coleções
privadas, que serão certamente elementos fundamentais do discurso expositivo
que está a ser construído, juntamente com o acervo documental da Biblioteca
Florbela Espanca, fundada na localidade em 1949 e que se encontra inativa.
Neste âmbito,
uma referência importante deve ser feita em relação à Fundação da Casa de
Bragança, que adquiriu dois manuscritos inéditos da poetisa, publicados em 2017
e aos Encontros Florbelianos, tertúlias culturais que tiveram um papel
importante na evocação da obra da autora.
Com esta
iniciativa relativa à criação da Casa-Museu, na sequência das anteriores,
pretende-se perpetuar o nome da poetisa e preservar o seu legado, na terra onde
nasceu, reunindo a estudando uma herança que corre o risco de se perder,
definitivamente.
Uma ideia que
surgiu de forma quase imediata foi a proposta para a negociação da casa onde
Florbela residiu, na antiga Rua da Corredoura e que está votada ao abandono.
Apenas uma singela placa em mármore informa os visitantes sobre o facto de ali
ter vivido, durante algum tempo. Inexplicavelmente, em tempos recentes, junto
da fachada, foram colocados pontos de recolha de lixo...
Há uns anos,
o diálogo com os proprietários para aquisição do imóvel, por parte da
autarquia, não terá seguido pelo caminho desejado. Mas com uma nova ronda de
negociações, talvez fosse possível “chegar a bom porto”. É necessário diálogo e
alguma diplomacia. Seguramente que todos ficariam a ganhar com um eventual
acordo.
Como
alternativa, foi igualmente criado um “plano B”.
O lugar onde
Florbela nasceu já não existe. A Rua do Angerino, próxima do Castelo de Vila
Viçosa, foi arrasada aquando das intervenções do Estado Novo, em 1939-40, para
que fosse criada a Avenida Duques de Bragança, que faz a ligação ao Paço Ducal.
Um memorial, criado pelo município em 2013, em forma de pórtico em mármore, faz
alusão à data do nascimento, naquele local.
Na Rua Gomes
Jardim (antiga Rua de Três), está uma outra casa que pertenceu à Família
Espanca e onde João Maria Espanca residiu, até à sua morte, ocorrida em 1954.
Muitos calipolenses ainda se recordam de ver aqui o patriarca sentado, na porta
da rua. Foi nesta casa da família que Florbela casou, em 1913, com Alberto
Moutinho. Seria uma outra alternativa à primeira opção, tendo em conta que o
imóvel também não está ocupado na atualidade. Ideias não faltam!
Gostaria que
as instituições locais e a comunidade se unissem em torno desta causa. Seria
benéfico que Vila Viçosa desenvolvesse um projeto associado ao nome de
Florbela. Existem espaços, coleções e uma memória que permanece viva. São
muitos os que visitam Vila Viçosa e perguntam pela Poetisa. Está na hora dessa
homenagem.
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