UMA EXPOSIÇÃO, UM LIVRO, UMA PEÇA DE
TEATRO
Ontem
o final de dia foi intenso e emotivo. Inaugurámos uma exposição sobre o êxodo
da população de Málaga após o bárbaro ataque das forças fascistas, com o apoio
dos regimes de Mussolini e Hitler, e a consequente tomada da cidade em 8 de
Fevereiro de 1937.
Trata-se de uma
exposição documental da Junta da Andaluzia sobre o que ficou conhecido como o
êxodo da estrada de Almeria com a fuga de milhares de pessoas de uma das mais
ferozes repressões que aconteceram durante a guerra civil de Espanha, onde a
população em fuga foi metralhada pelas tropas de Franco e pela aviação alemã.
Durante a
apresentação da exposição, a representante da Junta da Andaluzia levou-nos pela
mão numa viagem através dos dramas da derrota da república espanhola,
descrevendo acontecimentos de há 80 anos, conseguindo nós vislumbrar cenários
recentes após as intervenções dos donos do mundo em países como a Síria, a
Líbia ou o Iraque.
Não faltou na
descrição o relato da forma como os refugiados de Málaga foram ostracizados na
sua chegada a Almeria, com os mesmos argumentos que são hoje travados os
refugiados das guerras actuais.
À noite fomos à
Sociedade Joaquim António de Aguiar e tivemos a ilustração de proximidade
destes factos, com a apresentação da peça “as espingardas da senhora Carrar” da
autoria de Brecht.
Uma lição sobre
como a neutralidade é sempre o caminho da derrota e de como uma besta não
abandona a sua natureza apenas porque não lhe oferecemos resistência.
Lê-se na folha de
sala distribuída durante a representação “Podia Teresa Carrar, em 1937, não
tomar partido? Pode o homem atento ao mundo, nos tempos que correm, não tomar
partido?”. A resposta encontramo-la nos ensinamentos da história que a
exposição evoca e que não nos podemos dar ao luxo de ignorar.
Entre a exposição
e a peça de teatro, ouvimos Manuel Gusmão falar sobre o seu mais recente livro
de poesia, que é, também ele, a afirmação de que a neutralidade é uma forma de
rendição perante os mais poderosos.
No livro de Manuel Gusmão a poesia não é disfarce ou rodriguinho
para fazer cócegas nas emoções mais básicas, é a afirmação de que não é
possível estar equilibrado em cima do muro escolhendo à vez o lado mais
confortável. É o elogio da terceira coisa, “aquela coisa simples que é difícil
de fazer”. “Quando uma multidão deixa de ser / um rebanho de escravos para
começar a ser / Uma assembleia de humanos livres”.
Não se esqueçam,
nestes tempos de agressões militares e de mentiras repetidas, que é urgente e
necessário tomar partido e que os que dizem que não vale a pena porque são
todos iguais, já tomaram partido por aqueles que os exploram e os condenam à
servidão.
O livro está à
venda, a exposição pode ser vista no Palácio D. Manuel. Incomodem-se. É do primeiro
incómodo que surge a consciência de que é preciso lutar.
Até para a semana
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