Na
madrugada do passado sábado Estados Unidos, Reino Unido e França lançaram um
ataque conjunto à Síria.
Um ataque condenável a todos os títulos, não apenas porque foi uma
retaliação contra o uso de armas químicas pelo Governo de Bashar Al-Assad,
quando não há ainda provas quanto à autoria, mas porque foi um acto de guerra
praticado à revelia do direito internacional sem cobertura das Nações Unidas e
quando uma equipa de especialistas da ONU estava à beira de iniciar a
investigação sobre o uso de armas químicas contra a cidade de Douma, em Gouta
Oriental, que fez 75 mortos e 500 feridos no passado dia 7.
A condenação do uso de armas químicas, quaisquer que sejam as
circunstâncias, não pode deixar de ser feita e de forma clara e inequívoca.
O uso em Douma é inaceitável e tem que ser condenado pela
comunidade internacional, tenham elas sido usadas por Bashar Al-Assad apoiado
pela Russia ou pelos rebeldes.
Mas, antes de mais, é preciso provar quem são os responsáveis.
Ora, a pressa com que Trump, Teresa May e Emmanuel Macron decidiram retaliar,
não augura nada de bom. Faz-nos lembrar a invasão do Iraque há 15 anos,
precisamente com fundamentos idênticos. Mais tarde ficamos todos a saber que
não havia provas alguma da existência dos armamentos que justificaram a
invasão. Que tudo tinha sido uma encenação.
Também no caso do Iraque como agora a pressa do ataque antecipou-se
ao trabalho dos peritos das Nações Unidas.
Desta vez, os objectivos anunciados foram punir o que Trump
classificou como um acto monstruoso de Bashar Al-Assad pelo uso de armas
químicas e destruir as bases onde supunham que a Síria produz e armazena o
arsenal de armas químicas e biológicas.
Foram atacados 3 pontos alegadamente estratégicos, foram lançados
100 misseis, mas no final não sabemos se havia ou não os depósitos de armas
químicas que o ataque visou destruir. A Síria veio mostrar a destruição de uma
fábrica de medicamentos, alegadamente contra o cancro, procurando também assim
capitalizar a seu favor o ataque.
Não está em causa fazer a defesa do regime de Bashar Al-Assad que
tem explorado os sírios e tem feito desaparecer, prendido e morto muitos
milhares de civis que politicamente se lhe opõem e que, também, nesta guerra,
tem cometido muitas atrocidades contra o seu povo.
Não está em causa a defesa do regime sírio, um regime autoritário.
Bashar al Assad é presidente porque simplesmente sucedeu em 2000 ao pai, e não
o é em resultado de qualquer eleição. E o pai Hafez al -Assad também ele tomou
o poder em 1970 num golpe militar.
Não pode é legitimar-se a actuação desta coligação ocidental, nem
deixar de condenar o ataque dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido em
violação do Direito Internacional.
E o Governo português, apesar de não dar o seu apoio claro ao
ataque veio classifica-lo como “compreensível e oportuno”. Marcelo Rebelo de
Sousa veio secunda-lo.
Não, não é nem compreensível nem oportuno o ataque à Síria. Pelo
contrário é uma escalada irresponsável de incitação à guerra que não sabemos
até onde pode levar.
Legitimar a actuação dos Estados Unidos, da França e do Reino
Unido e este ataque em violação do Direito Internacional não é o caminho. É
preciso que a comunidade internacional se empenhe e que prossigam os esforços
para a resolução do conflito sírio, garantindo a todos os povos sírios,
incluindo os curdos, a possibilidade de escolherem o seu futuro livre e
democraticamente.
Até para a semana!
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