Desconhecidos pela maior parte de todos aqueles que felizmente se
interessam pela Sétima Arte, dado que a maioria não passou pelos circuitos
comerciais, iniciamos com Abraham
Lincoln, uma série que se irá prolongar ao longo de várias semanas, em que o
leitor interessado poderá entre outros descobrir algo de novo nos mandatos de:
Bill Cliton, Truman, Tomas Hendrik – Roosevelt – Kennedy, entre outros.
Abraham Lincoln – um filme de Gustavo Menendéz
Abraham Lincoln, Franklin D. Roosevelt e
John F. Kennedy são, talvez, os mais conhecidos presidentes dos Estados Unidos
da América. Achamos que apenas o segundo – e mesmo assim forçando a nota - cabe
na qualidade de grande presidente. O primeiro e o terceiro (continuamos nós a
achar) foram ultrapassados por outros presidentes que marcaram mais
profundamente (para o melhor e para o pior) os destinos daquele país. A verdade
é que não queremos deixar de comentar os filmes que visionámos recentemente e
que pretendem contar-nos um pouco da vida destes três homens. São filmes que
não passaram no circuito comercial em Portugal, não se encontrando, portanto,
legendados em português. São filmes oriundos duma área de cinema
independente dos Estados Unidos, realizados já há alguns anos, e completamente
fora dos processos de produção de Hollywood. De referir que no filme que hoje
nos interessa, e que diz respeito a Abraham Lincoln, todos os actores e
actrizes são amadores, assim como o resto das funções são da responsabilidade
de alunos do curso de cinema da Escola de Groton, Massachusetts, sendo que o
filme apenas pode ser encontrado numa pesquisa rigorosa na internet. Apenas por
interesse suplementar, este filme foi passado durante o Festival de Cinema
Amador de Montreal, no Canadá, em 1954, tendo recebido uma Menção Honrosa.
Ano de Produção: 1953
Idioma: Inglês
Realização: Gustavo Menendéz
Argumento: Gustavo Menendéz, Sakall
Phillips e Berrit White
Música: -----
Elenco: James Conwey, Kathryn Noizet
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Penúria de meios de realização é a
primeira coisa que salta à vista quando vemos as primeiras imagens deste filme.
Durante todo o filme, que dura cerca de noventa minutos, essa penúria é
evidente. Aquela rapaziada bateu-se com uma clara falta de dinheiro … e no
entanto … no entanto … achámos o filme interessante. Não que nos deslumbrasse a
interpretação dos artistas – até eram bastante toscos – não que ficássemos
presos a primores da realização – por acaso bastante básica – e a música é
praticamente inexistente: com o som sempre agudo de mais para os nossos
ouvidos. Enfim, tinha todos os condimentos para ser considerado uma lástima
senão fosse o argumento. E mesmo este, sendo bom, não é brilhante. É uma
história contada de trás para diante, sem qualquer interpretação analítica
sobre a vida de Lincoln, e as contingências que fizeram dele o presidente
americano mais famoso de sempre. A verdade mesmo é que o argumento, de certo
modo, espatifa a reputação de Lincoln.
É verdade que algumas das coisas o filme
nos conta, já nos tinham chegado por via doutros escritos e doutros filmes. É
verdade que já nos tinha chegado a versão de que aquele homem não era o poço de
virtudes que todos, ou quase todos, sempre exaltam.
O filme começa por nos mostrar a
Convenção do Partido Republicano, realizada em Chicago, em Maio de 1860,
convenção em que Lincoln é escolhido para representar o partido nas
eleições de Novembro. Assim foi escolhido este advogado, nascido no Kentucky e
estabelecido no Ilinóis. Este homem, reflectido e bom comunicador, verdadeiro
“self-made-man”, chegou à nomeação pelo Partido Republicano para presidente dos
Estados Unidos, sem nunca ter referido se era ou não a favor da emancipação dos
negros. Isto, num país que estava à beira de uma sangrenta guerra civil,
exactamente por causa da escravatura. Aliás, como o filme também mostra, a cena
política norte-americana estava claramente fragmentada. O Partido Democrata
apresentou dois candidatos: um nortista, outro sulista. E ainda um outro
partido, com grande implantação na altura, o Partido Constitucional da União,
apresentou também um candidato.
Finalmente em 6 de Novembro de 1860,
Lincoln foi eleito presidente dos Estados Unidos da América, por margem
tangencial. Estes são os factos históricos, facilmente confirmáveis, mas a
questão é que o filme a que nos referimos não se limita aos factos históricos
já conhecidos.
E desde que o homem toma posse, até à
sua morte, o presidente Lincoln é apenas um saco de pancada. Chega a ser dito –
no filme – que teria preferido a derrota do norte na Guerra da Secessão. Guerra
essa que durou todo o seu primeiro mandato e ainda apanhou parte do segundo.
Assim, o 16.º presidente dos Estados
Unidos da América, que entre a sua eleição em Novembro de 1860 e a tomada de
posse em Março de 1861, vê a maior parte dos estados do sul a tentar criar um
novo país, em regime de confederação, assiste ao deflagrar de uma guerra civil
que faria mais de um milhão de mortos, e acaba por ser assassinado a tiro,
quando assistia a um espectáculo teatral.
A nós, que sentimos por Lincoln alguma
(relativa) admiração, parece-nos que a sua memória foi muito maltratada neste
filme. E como obra de arte não é nada de especial. Daí que não o recomendemos.
Rufino Casablanca – Monte do
Meio. 12/ Maio de 1997
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