E eu ao ler o que
escreve Tiago Salgueiro acode-me à lembrança o Soneto do Bocage que diz:
Camões, grande Camões, quão
semelhante
Acho teu fado* ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
* Terra
Acho teu fado* ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
* Terra
FALTA MUITO
PARA AS AUTÁRQUICAS?!
Muito se tem
discutido, nas redes sociais e também nos blogues de autoria desconhecida,
sobre a realidade turística de Vila Viçosa e o deficit de medidas que proporcionem um melhor
serviço ao visitante.
O panorama
calipolense, em termos de oferta, é até bastante diversificado.
Há um leque
de opções patrimoniais e turísticas com elevado motivo de interesse e que
podiam contribuir para um significativo aumento da procura relativamente a este
nosso território. No entanto, sem um trabalho conjunto em termos de estudo,
conservação e divulgação, como sempre tenho defendido, é impossível definir
estratégias de sucesso a este nível. O que não é conhecido, certamente não é
procurado!
O município
calipolense, imbuído de uma forte vontade em propagandear iniciativas e
projetos ao nível turístico, peca pela débil apresentação de resultados
concretos e eficazes.
O que tem
sido feito, para além da recente presença na BTL? Será suficiente? Terá algum
tipo de retorno?
Fala-se
muito em apoio a iniciativas da sociedade civil, no que concerne à defesa do
património, mas na hora da verdade, nada se concretiza… Advoga-se que a
comunidade deve ter uma participação ativa, mas quando alguns têm algum tipo de
empreendimento, são sistematicamente marginalizados. E todos sabemos os motivos
pelos quais isso acontece!
Qual foi o
último projeto apoiado pela Câmara, em termos de estudos do património? Alguém
se recorda? Concretizou-se alguma iniciativa de reabilitação patrimonial que
pudesse vir a constituir uma mais-valia, em termos turísticos?
Se se
proclama aos quatro ventos que o turismo com base numa forte componente
patrimonial deve ser uma aposta no presente e no futuro (e quase todos os já
conhecidos candidatos defendem este princípio), a verdade é que a poucos meses
do fim do mandato autárquico, continuam sem aparecer os resultados concretos e
visíveis, porque o investimento nesta área é quase nulo.
Muitos
municípios, não muito distantes de nós, têm feito uma aposta bem-sucedida na
identificação e reabilitação de monumentos e conjuntos históricos, através de
medidas que permitem a participação da comunidade, a divulgação dos bens de
maior interesse e a articulação com outros agentes de desenvolvimento, de modo
a permitir a disponibilização de uma oferta de qualidade, que cative os
turistas.
Por vezes, a
partir de uma pequena história ou de um monumento, são criadas “narrativas” que
“seduzem”, de forma positiva, os potenciais interessados e os levam a fazer uma
visita até esses locais. E vamos assistindo, impávidos e serenos, a iniciativas
que incluem a criação de aplicações (as designadas MOBILE APPS), que
disponibilizam informações atualizadas para sistemas móveis operativos, sobre
os locais a visitar, os horários, os preços, os restaurantes e todo um conjunto
de informações uteis. Tudo isto, à distância de um telemóvel.
No entanto,
por cá, estas novas possibilidades ainda parecem fazer parte de um futuro muito
distante. E por isso, continuamos parados no tempo, como se não precisássemos
de nada fazer para divulgar o que temos. Para além dos meios convencionais de
divulgação deixarem muito a desejar, nem sequer são equacionadas ou discutidas
estas hipóteses. Continuamos a viver cada vez mais isolados e as queixas de
empresários da hotelaria e da restauração são recorrentes.
Para
combater a sazonalidade das visitas (que ocorrem maioritariamente nos meses de
primavera e verão), há que oferecer programas turísticos que possibilitem a
vinda de fluxos turísticos nos períodos menos convencionais. Infelizmente, não
tem havido essa preocupação por parte de quem deveria tê-la.
Se em termos
geográficos não somos favorecidos, por estarmos longe dos grandes centros
urbanos, importa direcionar a divulgação para o vizinho mercado espanhol. A
aposta em promover e divulgar Vila Viçosa de forma qualitativa e eficiente tem
vindo a ser sistematicamente adiada.
A aposta em
soluções interativas que complementem a visita a espaços históricos (Castelo,
Igrejas, Arquitetura da Água, etc.), combinando o turismo com a inovação
tecnológica, seria certamente uma medida eficaz. O investimento em áudio-guias
que permitam, em diferentes línguas, a descrição e interpretação do património
e da história calipolense (nomeadamente no centro histórico), dando uma ideia
da evolução urbana, poderia ser outra hipótese bastante apelativa.
A recriação
virtual da vila medieval, do castelo primitivo, da cerca nova que envolvia o
aglomerado quinhentista e dos seus habitantes, iniciativa que poderia contar
com o apoio de Universidades e centros de investigação, sem dúvida que daria
uma nova visão sobre Vila Viçosa e a sua evolução ao longo do tempo.
Quem tem
este tipo de responsabilidade, em diversificar, qualificar e inovar na oferta?
Estes projetos requerem investimentos iniciais, que serão rentáveis a médio
prazo e que poderiam trazer resultados concretos.
Muitas
empresas especializadas neste sector já tentaram negociar estes projetos com o
município e nem sequer foram recebidos, o que dá conta dos elevados níveis de
autismo por parte de quem decide… E há bastantes apoios nos fundos comunitários
para estas iniciativas, que continuam sistematicamente a ser perdidos…
Eu tenho
tentado, através das rede sociais, avançar para uma identificação e
inventariação do património local, como uma tentativa de chamar a atenção
relativamente a muitos edifícios e espaços que possuem potencialidades, mas que
em muitos casos, se encontram em avançado estado de degradação.
O objetivo
consiste sobretudo em permitir o conhecimento e a salvaguarda destes bens,
dando-lhes alguma visibilidade e proteção. Os meios de que disponho são
reduzidos, pois não contam com nenhum tipo de apoio institucional, mas penso
que têm servido para que, pelo menos, a comunidade os conheça em maior
extensão. E é essa identidade que pode ser mais um fator de atração para quem
nos procura e para quem nos visita.
Poderia ser
uma base preliminar de trabalho para muitas outras iniciativas.
Esta é a
minha visão (subjetiva) de “serviço público”, que certamente permitiria a
criação de um suporte de carácter turístico de grande utilidade. Vila Viçosa
tem muitos bens de relevância cultural que estão subaproveitados, também por se
encontrarem esquecidos e degradados. Houvesse vontade política de encontrar
soluções para estes problemas e certamente que a nossa oferta turística teria
muito maior qualidade!
Pela minha
parte, tentarei cumprir esta missão de dar a conhecer o que o tempo foi
degradando, convicto de que muito do que existe, bem conservado, divulgado e em
regime de abertura ao público, constituiria um excelente fator de atratividade.
Tiago Salgueiro
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