A prestigiosa agência de divulgação Blue
Oak divulgou recentemente o estudo realizado pelo nosso conterrâneo e
colaborador A.N.B. sobre Diogo Lopes de Sequeira, Figura Maior da História do
Alandroal.
Tal ensaio foi apresentado no passado
ano quando da realização do almoço/confraternização dos antigos alunos do
E.D.L.S.
Licenciado em História
Relações internacionais
Relações internacionais
DIOGO LOPES DE SEQUEIRA: UM VICE REI DA INDIA, NAVEGADOR ALENTEJANO DO
ALANDROAL
O Alandroal é uma
terra com “o benefício e a sorte histórica” de ser mencionada, directa e
indirectamente, duas vezes nos Lusíadas de Camões, essa obra fabulosa da
literatura e poesia universal onde aparece tudo (assim como as orações por
dividir). No Canto VIII, Estância 33, e no Canto X, Estância 52, estão as
referências a Pero Rodrigues, amigo de grande confiança pessoal de D. João I, o
Mestre de Avis; e a Diogo Lopes Sequeira que foi também amigo pessoal de Afonso
de Albuquerque, o grande visionário e construtor do Império português na Índia.
Apesar de que o
Alentejo ainda “que quase não tenha mar”, deu grandes asas e bastantes
personagens à saga das Viagens e dos Descobrimentos.
Basta recordar que
Vasco da Gama cujos avós paternos seriam de Elvas com parentes em Olivença, foi
escolhido para a sua primeira viagem á Índia, em Janeiro de 1497, estando o Rei
D. Manuel em Estremoz. Isto enquanto a empresa-viagem à Índia terá ficado
decidida em Montemor. Como é sabido, Vasco da Gama, nasceu em Sines, onde o pai
D. Estevão da Gama, casado com D. Isabel de Sodré, está atestado como Alcaide
de Sines e Comendador do Cercal.
Acrescentemos a Vasco
da Gama, o nome de Pedro Nunes, o astrónomo português de Alcácer do Sal que foi
autor de vários tratados de navegação, o inventor do Astrolábio e comentador da
obra heliocêntrica do polaco N. Copérnico enfrentando o poder espiritual e
material enorme da Igreja e dos Papado de Roma.
Diogo Lopes Sequeira,
que partiu, do Alandroal, para ser Comandante de várias Armadas e Vice-Rei da
Índia ao lado dessa outra grande personagem da História de Portugal, chamada
Afonso de Albuquerque.
Diogo Lopes Sequeira
nasceu no Alandroal em 1465/66 e faleceu em 1530. Filho de Lopo Vaz de
Sequeira, Alcaide-mor do Alandroal e de D. Cecília de Meneses. Casou duas
vezes, a primeira vez com Maria de Vilhena e depois com Maria Freire de
Andrade. Teve 5 filhos: Lopo Vaz de Sequeira, António Lopes de Sequeira, Isabel
de Sequeira, Branca de Vilhena e ainda Diogo Lopes de Sequeira que foi também
Alcaide-mor. Irmãos contam-se três e chamavam-se: Maria de Meneses, João Lopes
de Sequeira e António de Sequeira.
Em termos físicos, a
crer nas descrições dos Vice-reis (Manuel Faria de Sousa) era um homem da
época, um tanto entroncado e porventura mais alto do que baixo. Usava, claro
está, vestes e longas barbas como sinal de nobreza, autoridade e respeito,
usadas nas teocracias árabes.
O que fez Diogo Lopes
Sequeira com a sua longa vida
Foi Fidalgo da Casa
Real, Comandante de Armadas, foi do Conselho do Rei D. Manuel, Almotacé da
Corte. Um militar/oficial de elite como também foi sendo visto e aceite entre
os muçulmanos e indianos.
Logo em 1509, foi
enviado com 4 naus a descobrir Malaca e a assentar Tratado de Amizade e
Comercio com o rei local, Mahamud. Malaca (Malásia), no Golfo de Bengala, era
uma cidade rica de 30.000 fogos e 100.000 habitantes e estava no centro do
comércio da Arábia, Indostão, China, Japão e Filipinas, dominada por
comerciantes mouros.
Nesta missão, Diogo
Lopes Sequeira reconheceu as costas de Madagáscar e esteve na ilha de Sumatra
(Indonésia) onde depôs um Padrão de Armas. Avistou um cabo a que deu o nome de
S. Lourenço. Navegou por outras ilhas às quais chamou de “Santa Clara”. Daqui
partiu para a Índia e chegou a Cochim em 21/4/1509 após um ano de navegação.
Malaca acabou por lhe correr bastante mal. Distraído, jogava xadrez enquanto os
inimigos mouros tentavam apunhá-lo. Salvou-o Fernão de Magalhães. Deixou lá
20/27 cativos que Afonso de Albuquerque haveria mais tarde de resgatar quando
atacou e ocupou finalmente esta cidade. Voltou para Portugal, algo zangado, com
o amigo Afonso de Albuquerque que lhe lamentou o desfecho inglório em Malaca
mas também o facto de ter perdido “ um óptimo oficial e amigo”.
Depois em 1510, serviu
o Rei em comissão militar, no norte de África, comandando armadas no Estreito
de Gibraltar contra a pirataria moura, que infestava as costas do Algarve.
Provavelmente praticando também a guerra de corso. Assim em 1516, levou socorro
a Arzila, cercada pelo reino de Fez e tomou parte nas expedições contra os
reinos mouros de Targa e Araiana.
Como recompensa, foi
nomeado em 1518, Governador da Índia. Para o efeito saiu de Lisboa em
27/03/1518, com 9 embarcações e 1.500 homens. Chegou a Goa em 8 de Setembro.
Dali foi para Cochim onde Lopo Soares de Albergaria lhe entregou o governo
geral da Índia. Nesta missão especial, levava ainda como regimento entrar no
Mar Vermelho e ir ao porto de Maçuá na Etiópia, um reino cristão do imaginário
– Preste João, aliado dos cristãos. Sem grande sucesso, no Mar Vermelho,
ensaiou uma nova expedição contra Diu onde também viria a falhar. De facto,
andava a faltar-lhe o génio estratégico arriscado e espantoso do amigo Afonso
de Albuquerque.
Não obstante, Diogo
Lopes Sequeira, conseguiu estabelecer relações comerciais proveitosas com o
reino de Pegú graças ao seu empenho diplomático. Era afinal um bom diplomata.
Por isso mesmo, deixou uma fortaleza construída em Chaúl e uma feitoria nas
Ilhas Maldivas que era uma das escalas de navegação clandestina dos muçulmanos
para o Mar Vermelho e para o Golfo Pérsico.
O seu sucessor, Duarte
de Meneses, desde Janeiro de 1522, haveria entretanto de exercer um menos bom
governo como prova o levantamento do Rei de Ormuz contra o nosso domínio.
Lembrando um episódio
bastante curioso
Em Maçuá, reino da
Etiópia, que Camões (?) no Canto X, Estância 52, invoca por ter “ as cisternas
de água cheias”, Diogo Lopes Sequeira, não teve com meias medidas e mandou “
Purificar e Benzer uma das suas mesquitas convertendo-a em “Capela de Nossa
Senhora da Conceição”, padroeira do Alandroal, onde se celebrarão os santos
mistérios”, do cristianismo, é claro!
Finalmente, em 1522,
Diogo Lopes Sequeira, fez-se “de vela” para Portugal e deve ter regressado ao
Alandroal. Tornamos a encontrá-lo, ainda em 1524, a prestar testemunho no
processo litigioso entre D. João III e o Imperador Carlos V sobre a posse das
Molucas. Também conhecidas pelas Ilhas do Cravo ou das drogas ricas.
Anota-se que, Carlos
V, ordenou várias expedições às Molucas, o que originou combates entre
espanhóis e portugueses em Ternate e Tidore e que o Papa Adriano IV estaria
preparado para enviar um navio que serviria de árbitro na fixação da linha de
demarcação da latitude das Ilhas, tendo em conta as disposições do Tratado de
Tordesilhas.
Foi assim até que, em
Fevereiro de 1524, os dois soberanos combinaram nomear de parte a parte: 3
astrónomos, 3 pilotos e 3 sábios que se reuniram entre «Elvas e Badajoz» para
resolver este conflito político-geográfico. Entre os 3 Pilotos lá estava Diogo
Lopes Sequeira.
Esta real contenda, só
haveria de terminar pelo Tratado de Saragoça de 23/04/1529, um ano antes de
Diogo Lopes Sequeira morrer, pelo recuo da linha de partilha proposta no
Tratado de Tordesilhas além do pagamento de 250.000 ducados pelo Imperador
espanhol. E, finalmente, pelo abandono de Carlos V das pretensões à posse das
Molucas dado que foram os portugueses os seus primeiros ocupantes.
Diogo Lopes Sequeira
terá acompanhado e estado sempre a par destas complicadas negociações!
Importa deixar
assinalado que, só após a sua morte, foi elevado à categoria de Vice-rei como
era usual e aconteceu com Afonso de Albuquerque.
Relações com Afonso de
Albuquerque
Afonso de Albuquerque,
foi descrito pelos cronistas da época como um notável e destemido navegador e
um príncipe do Renascimento. O grande construtor do Imperio na Índia. Senhor de
Vila Verde dos Francos, discípulo de Pedro Nunes, Camões dedica-lhe inteira, a
Estância 40 do Canto X.
Católico fervoroso,
devoto da Ordem de Santiago de cuja ordem era Cavaleiro, tinha escolhido como
seu modelo e prestígio de conquistador e guerreiro, Alexandre – o Grande,
sabendo-se que chegou a planear em segredo (com D. Manuel) a reconquista da
Terra Santa. Lobo vencedor de batalhas navais e de guerras marítimas temível,
político de vistas largas, diplomata capaz de todas as astúcias e finuras, era
também (e para que se saiba) um pouco comediante e grande orador. Os seus
relatórios e cartas ao Rei, são consideradas obras-primas de estadista de tão
bem escritas que eram.
Desinteressado de
riquezas imediatas, austero, justiceiro, a sua vida de Conquistador / Almirante
dos mares orientais, foi também marcada por crimes de guerra hediondos. Embora
depois na paz se mostrasse afável e cortês.
Afonso de Albuquerque,
contemporâneo de Diogo Lopes Sequeira, morreu aos 53 anos (em 16/ 12/1515)
deixando fortalezas e feitorias nos portos e enclaves estratégicos fundamentais
da Índia, como Ormuz, Goa, Malaca, Calicut, Cananor (onde chegou a estar preso
por ordem de D. Francisco de Almeida) e Cochim, praças fortes onde se
negociavam as principais especiarias do Oriente. Desde a pimenta, à canela e ao
gengibre, passando pela escravatura.
Doente, desiludido,
amargurado, deixou como testamento espiritual a célebre frase: “ Morro, mal com
El-rei por amor dos homens, e mal com os homens por amor de El-rei” depois de
pedir protecção para o seu filho, D. Braz de Albuquerque.
À sua morte, o seu
prestígio era tal que os reinos e potentados muçulmanos e indianos da época
procuravam estar em paz com ele, desde os reinos de Cambaia, de Java e até à
China.
Perdida ficava também
a hipótese de criar uma nova raça luso-indiana através dos casamentos entre as
bailarinas indianas e os atrevidos e deslavados portugueses. Descontada a cena
escabrosa de «já morto» ser levado num palanque pelas ruas de Goa, com os olhos
abertos, perante os choros e lamentações da população, o que se impõe dizer é
que foi ao grande Afonso de Albuquerque (depois do curto governo sem brilho da
Índia, exercido por Lopo Soares de Albergaria até 1518) que Diogo Lopes
Sequeira veio a suceder.
Conclusões
Segundo C. Boxer ou,
de acordo com C. Cipola, a característica mais espantosa do Império português
da Índia, foi por um lado a sua extrema dispersão. Mas, por outro lado, foi o
poder de fogo e da artilharia pesada das embarcações portuguesas. Autênticas
fortalezas marítimas.
Além disso, Afonso de
Albuquerque nunca esteve sozinho. Teve o envolvimento da Corte de D. Manuel e
de outros grandes navegadores, combatentes e governadores na Índia. Uma
ocupação que durou até ao século XX.
De facto, a história e
a saga da expansão portuguesa na Índia é bastante mais complexa do que aquilo
que deixámos aqui levemente entrevisto sendo a consulta das fontes primárias um
trabalho necessário bastante exigente.
Porém pode-se concluir
que «o perfil humano» de Diogo Lopes Sequeira conduz-nos a ver nele,” um
Fidalgo- mercador …Eficiente e ponderado Comandante das diversas Armadas que
foi organizando”, descrito por Vitorino Magalhães Godinho. Homem dotado
certamente de uma inteligência maior, bastante menos expansivo do que Afonso de
Albuquerque e menos teatral. Bom diplomata e negociador competente, foi um fiel
servidor dos seus três reis (D. João II, D. Manuel I e D.João III) que
acompanhou durante a sua vida embora também tivesse sido um tanto critico do
“Piedoso” na questão das Molucas.
Resta acrescentar que
teve a fama e, talvez, também o proveito de “gostar de enricar” de uma forma
bastante apressada. Uma prática que era, no fundo, bastante comum entre os
Fidalgos da Casa Real que embarcavam para a Índia. Visto que “na Pátria… era
pouca a fartura” como o contou Fernão Mendes Pinto na “Peregrinação” que Fausto
musicou e veio a cantar em «Por este Rio Acima» de uma forma original e
criativa.
Seja como for, Diogo
Lopes Sequeira “ jaz morto e enterrado na Consolação” numa igreja em ruínas, no
Alandroal, à espera que um dia, alguém, lhe torne a erguer e a redescobrir o
seu passado, a sua memória e a conhecer a sua intervenção na História Internacional
de Portugal e do Euromundo percebido por Camões no século XVI. Durante os três
reinados decisivos que fizeram de nós “Senhores da Conquista, Navegação e
Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”. Isto sem esquecer que o Rei de
Portugal e dos Algarves, até 1521, era também Rei “Daquém e de Dalém em Africa
e Senhor da Guiné”.
Um nome de rua (que é
a rua onde nasci) e de Escola já não chegará. Ou chega, cada vez menos, porque
como dizia G. Orwell “só quem conhece o passado possui e controla o futuro”.
“Heróis do mar” que
fomos estamos novamente em lista e à espera de vez para alargar e manter “o mar
português” que anda, cada vez mais, eurocobiçado!
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