quinta-feira, 18 de maio de 2017

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

                                       MAIORIDADE
Há dezoito anos, meados de Maio, comecei a habitar na cidade de Évora. Lembro-me de tudo me fascinar, da tranquilidade ao património, da escassez de trânsito e do meu espanto quando ouvia dizer que a circulação era um caos.
Adorava caminhar por ruas desertas e descobrir espaços, nesta cidade onde se adivinhavam as memórias de outros tempos e se tinha a sensação de que cada local era a nossa casa, o ponto de chegada.
Os primeiros anos foram estranhos e não me permitiram perceber como é que os eborenses viviam e sentiam a sua cidade. Saía muito cedo para o trabalho, que ficava a 100 km, e regressava demasiado tarde para poder estabelecer laços com pessoas e para descobrir a forma peculiar de viver numa cidade de província, com características de centro de um vasto território para o qual olhava com alguma sobranceria.
Algum tempo depois comecei a viver e a trabalhar na cidade, a construir um outro tipo de conhecimento sobre o que se via e o que era invisível e apesar disso determinante para se sobreviver tranquilamente entre círculos que nunca se cruzavam e que marcavam (marcam o território),
Envolvi-me intensamente na vida da cidade e fui descobrindo particularidades que a alguém que nasceu numa vila operária, bastião da resistência, pareciam estranhas como a importância do nome de família, da origem social, de ser ou não respeitador da iconografia construída e dos seus acérrimos defensores,
Passado o tempo da estranheza, aprendi a viver entre códigos que não eram os meus e a construir ligações de intensidade diversa com os tais círculos que não se intersectam e nessa aprendizagem tornei-me num eborense. Talvez um pouco diferente, mas ainda assim um eborense.
Bem sei que para alguns serei sempre um paraquedista, alguém que veio de fora e que não tem nada a ver com a cidade. Deixem-me dizer que considero este epíteto um elogio. Um paraquedista tem uma visão mais abrangente do território, tem a coragem de saltar no vazio e a liberdade para decidir se volta ou não a saltar.
Passados dezoito anos sobre a minha vinda para residir em Évora, nada beliscou o fascínio inicial pela cidade, nada me impede de continuar a descobrir a cidade invisível, umas vezes entusiasmada e emocionada, muitas vezes descrente sem conseguir que o espelho lhe devolva a imagem da mais bela de todas.
Após 18 anos de vida em Évora tornei-me num dos seus, sem perder as características que o tempo de vida noutras cidades me moldaram.
Gosto da marca que a cidade deixa em mim, gosto de cada recanto da cidade com e sem pessoas. Gosto da generalidade das pessoas e não espero nenhum tipo de reciprocidade de nenhuma delas.
Desculpem lá esta conversa de quem acha que a maioridade se atinge aos 18 anos e que, apesar disso, não podemos deixar morrer o Peter Pan.
Até para a semana
Eduardo Luciano



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