Estes
textos são uma mera justificação de gosto, dirigida em primeiro lugar aos
amigos, e não são crítica de cinema, muito menos de teatro ou arte em geral... apenas representam o meu gosto em relação à obra em
causa, e nunca uma apreciação global da sua qualidade, para a qual não me sinto
com competência, além da subjectividade inerente.
Amigos atentos à
Cultura não percam um magnífico filme em exibição, AQUARIUS, do cineasta
brasileiro KLEBER MENDONÇA FILHO, com a nossa inesquecível grande actriz SÓNIA
BRAGA, aqui mais uma vez soberba!
Este ano ainda não vi
melhor! Obra multipremiada em todo o mundo. E se os diálogos que, em português
português, são às vezes difíceis de entender na íntegra aqui, em português
brasileiro, percebem-se muito bem.
AQUARIUS é uma obra
magnífica e não é certamente por acaso que lemos no genérico final, na sua produção,
grandes nomes do Cinema, também do brasileiro, como Carlos Diegues e Walter
Salles.
Esta é uma obra
claramente empenhada politicamente, na medida em que não esconde o estado da
sociedade actual nos países mais desenvolvidos, no Brasil também, com a chegada
ao poder de uma juventude, oriunda em geral da grande burguesia, preparada para
servir o grande capitalismo sem escrúpulos sociais, éticos e humanistas. Em
parte responsável pelo descalabro financeiro que assola novamente o sistema
capitalista, colocando em grandes dificuldades a economia mundial dele
dependente e fazendo sair dos ovos as serpentes do fascismo, para serem
utilizadas pelo grande capital como elementos de violência e repressão sobre os
povos que se revoltam.
Muitos desses jovens quadros
do capitalismo vão estudar para os EUA e/ou frequentam os "MBA's" e
afins, famigerados cursilhos, também responsáveis pela formação desses novos
monstros de colarinho branco, cheios de risinhos e mesuras mas que não recuam
diante de nada para atingir os seus fins pessoais e os objectivos que os
grandes patrões determinam.
Os últimos anos no
nosso País, até Dezembro de 2015 com um governo de extrema-direita, entretanto
afastado pelo voto popular, que os partidos à sua esquerda souberam interpretar
por proposta do partido comunista que possibilitou a formação de um governo
mais democrático, mostraram ao nosso povo, e da maneira mais cruel, como essa
gente de direita e extrema-direita actua, eliminando brutalmente, quando chega
ao poder, os direitos dos trabalhadores e das classes populares para favorecer
o grande capital e os mais ricos.
Em AQUARIUS, a
personagem principal é Clara (Sónia Braga), uma jornalista e escritora que
ainda vive no apartamento onde nasceu e viveu toda a sua vida, com pais, irmãos,
marido, filhos, atravessada por momentos felizes e também trágicos, como a sua
doença (cancro) e depois a morte do marido.
Aquarius foi um grande
edifício, cheio de vida, mas agora Clara é a sua última habitante, visto que
todos os outros foram sendo aliciados e persuadidos a sair, com promessas que
não chegaram a ser cumpridas, por uma construtora com planos para o edifício,
que os novos donos querem transformar num condomínio de luxo. Para isso vão
tentar tudo para que Clara desista dali viver. Mas Clara é uma resistente, como
sempre foi, também nos tempos da ditadura fascista dos militares nos anos 60 e
70. E faz de novo frente ao inimigo.
No papel de Clara está
uma grande actriz, Sónia Braga, que nos encantou há muitos anos com o seu
desempenho em Gabriela, Cravo e Canela, numa das grandes personagens femininas
de Jorge Amado (Mariana, Gabriela, Tieta, e muitas mais). Sónia, volta agora a
mais uma interpretação sublime, a da lutadora Clara.
A selecção e direcção
de actores são magníficas também, com uma nota especial para um novo rosto que
logo nos seduz, Barbara Colen, como Clara muitos anos antes (anos 80). Tal como
a escolha da música que acompanha a obra, relembrando grandes nomes da música
brasileira, de Villa-Lobos a Elis Regina, Maria Bethânia, entre outros. É um
filme inteligente e culto que não esquece referências ao grande cinema -
Kubrick.
As imagens das orgias
da grande burguesia, as "festas", numa grande cidade como o Recife,
local de acção da obra, não chegam a chocar porque são apenas entrevistas.
Por estas razões a
obra tem sido multipremiada internacionalmente: 21 nomeações e 18 prémios em
grandes festivais! Aplaudida pelo público e por grande parte da crítica em
Cannes, onde realizador e actores, na cerimónia de entrega dos prémios,
denunciaram o golpe que a direita, utilizando a sua maioria no parlamento e
senado, executou friamente no Brasil, com o apoio norte-americano e dos media,
estes, lá tal como cá, nas mãos do grande capital, afastando a Presidente
eleita Dilma Roussef e colocando no poder um político desconhecido, menor e
corrupto, Temer, que fazia parte do seu governo, como acontece em geral nestes
golpes.
Egas Branco
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