O MESTRE MACACO E
A LÍNGUA PORTUGUESA
Parece
que um dos novos fait divers são os erros e gralhas da tese de mestrado do
multifacetado líder da claque dos dragões. Aquele que é conhecido no milieu
como “Macaco” anunciou: “A partir de hoje têm de me chamar Mestre”. Terá
passado mais ou menos despercebida esta graça cheia dela mesma, atitude, feliz
ou infelizmente, cada vez mais vista nos nossos tempos. Digo felizmente porque
é sinal de que os vários níveis de educação estão cada vez mais acessíveis a
todos os que provem ter mérito para os obter, independentemente do berço ou
meio social que frequentem. Digo infelizmente porque, para além de um sinal
exterior sempre um pouco pirosamente pomposo, este alardear significa também
que talvez sejam os únicos da família a consegui-lo, numa tantas vezes injusta
exclusão de gerações e membros dessas mesmas famílias no acesso a essas
oportunidades. Mas adiante.
O estranho que possa
parecer a notícia só agora ser explorada, tendo o caso ocorrido há já alguns
meses, mais precisamente em Novembro do ano passado, desaparece se estivermos
atentos ao facto de o PM António Costa ter inaugurado na sexta-feira passada,
semana em que o fait divers nasceu, umas instalações desportivas no instituto
de ensino superior que conferiu o grau ao dito jovem. É que nem mesmo aquando
do episódio com aquele clube de combate de nome Clube de Futebol Canelas de
Gaia, ou coisa parecida, e de que o “Mestre Macaco” é um dos responsáveis, o
caso académico cresceu. E isto, para quem queira fazer leituras mais profundas,
há de ter a sua razão de ser. Mas adiante.
A tese é, parece-me,
em Gestão do Desporto, como já tinha sido aliás a sua licenciatura na mesma
instituição. O candidato parece ter levado a sua tarefa sempre com diligência
(até porque lhe era matéria querida) o que, de facto, só pode ser provado e
comprovado por quem lhe deu aulas e o avaliou, numa instituição que está para
tal creditada, como tantas outras por esta Europa fora. Curioso que muitas das
notícias que li na Comunicação Social mais insuspeita, onde quer que ela
esteja, deram também elas mostra de muito desconhecimento das designações dos que
são certificados, fazendo anteceder ao grau de Mestre a designação de Doutor em
vez de Licenciado. O que tanto rigor puseram e exigiram noutros casos,
curiosamente também de gabinetes governamentais, abandalharam aqui por
completo. E chegamos ao que me interessa, porque é a única coisa que posso
avaliar no que está disponível e circula por aí do relatório de conclusão do
curso de mestrado do jovem: o abandalhamento também do uso da língua em que
escreve.
Se bem que na opinião
de muitos, que eu partilho sem particular militância e sobretudo por razões
diferentes, o novo acordo ortográfico (novo porque “só” teve um período de
discussão e implementação de 25 anos!) possa contribuir para um ainda maior
abandalhamento do uso que fazemos da língua portuguesa, o que vemos são erros
graves que têm pouco que ver só com ortografia. (E sim, eu sou das que acha que
este AO90 podia ter sido uma verdadeira revolução ou, então, não serve para
mais nada se não alimentar discussões entre o que parecem ser claques de académicos,
mas adiante). É a outros níveis da gramática que verdadeiros pontapés de canhão
são dados. É todo um cuidado que para tão importante obra, como o próprio aluno
sente que é, não existe a vários níveis.
O abandalhamento
parece, pois, estar a tornar-se um novo acordo de tolerância para justificar a
vertigem da contemporaneidade, e não, não acontece só no mundo do desporto.
Aliás, o que mais me tem chocado é ele aparecer, também neste uso da língua
portuguesa, até em candidatos a políticos e alguns com formação superior,
imagine-se, em educação. E isso sim é uma coisa digna de aldeia de macacos.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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