Um "bodo"
aos pobres
E, a tradição já não é o que era.
Não será, mas pode
voltar nos escritos memoriais de quem não a esqueceu, nem a esquecerá, de quem
a viveu, de quem não a renega e a ressuscita e, cuja intensidade com que a
gravou no seu cérebro, lhe permite, ainda, vivenciá-la e partilhá-la com os
amigos, sobretudo aqueles que não renegam as suas raízes, a sua maneira de ser
e de pensar, a que poderemos chamar identidade.
Estamos no começo
das FESTAS que irão popular por todo o País, nos lugares mais recôncavos e
tristonhos, nos mais alegres e vistosos.
Por todos os
povoados irão surgir festejos, aglutinadores de pessoas, que se dignam ir à
Festa. Umas irão à festa pela festa, outras e aqui reside a maioria,
normalmente, na Festa das aldeias ou das pequenas povoações, para visitarem a
família.
É salutar este
procedimento, louvável nos decorrentes tempos em que o individualismo e o
esquecimento são elementos que se sobrepõem à solidariedade.
Quem não se lembra
dos "jantarinhos de carne" ou dos "fritos"? - Que eram oferecidos a quem caísse na desgraça, ou
sofresse um profundo desgosto. Era um meio de alívio à dor ou à desgraça, um
ato caridoso, não tanto pelo envio, mas pelo afeto que o ato em si
representava, uma ação solidária em dia de Festa.
Inesquecível.
O feriado do
Concelho está próximo e com ele a Festa
da Boa Nova, a Festa dos Prazeres e, quantos atos como os que acabei de
descrever presenciei.
A família Camões,
não a do maior poeta português, Luís Vaz de Camões, que, penso, não ficaria
mal, nem destoaria do sentido deste texto, evocar o poema "Todo o mundo é composto de mudança", mas
a família Camões, do monte de Bacelos, que na década de quarenta, cinquenta,
ainda mantinha a tradição de oferendas.
Na igreja de Santo
António, em Terena, na manhã de Domingo de Prazeres, aquela família em parceria
com a família Neves, em mesa comprida, feita de propósito para o efeito,
distribuíam alimentos pelas pessoas mais carenciadas, com as viúvas em primeiro
lugar.
Naquele tempo em
que o trabalho escasseava fora das épocas sazonais, vivendo-se muitas vezes do
fiado e da esmola, qualquer oferta era considerada uma bênção, aqui acrescida e
elevada por ser dia de Festa.
Talvez, e aqui
fazendo uma analogia com a distribuição
dos "Pãozinhos de Santo António"
pelo Pároco do Concelho, no dia 13 de Junho, dia daquele Santo e o ato de
distribuição de alimentos, outrora, Domingo de Prazeres pelas duas famílias
Camões e Neves, não seja grande erro afirmar-se que a Tradição teima em não morrer.
Hélder Salgado
21-04-2017.
1 comentário:
5 estrelas para estas "lembranças" muito bem descritas pelo Hélder.
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