43 ANOS DEPOIS, A
ESSÊNCIA NÃO MUDOU
Há
43 anos aproximava-se o fim de uma longa ditadura no nosso país e iniciava-se
um processo revolucionário que pôs fim à guerra colonial, que permitiu
conquistas e avanços civilizacionais que hoje damos como adquiridos, quantas
vezes esquecendo que coisas tão simples como a liberdade de expressão, o
salário mínimo ou o direito à greve nos estavam vedados. Foram dezoito meses
que correram a uma velocidade alucinante e que nos mostraram um vislumbre do
que poderia acontecer se fossemos donos do nosso futuro.
Tratou-se de um processo
combatido, desde o seu início, pelos defensores do colonialismo, pelos saudosos
do “ordem” dos tempos da ditadura, pelos detentores do poder económico, pela
hierarquia religiosa que suportou o anterior regime e naturalmente pelos Estados
Unidos que se apressaram a enviar para Portugal o organizador do golpe
sangrento que tinha derrubado, meses antes, o governo de Unidade Popular do
Chile.
Lembro isto a propósito das
comemorações da Revolução de Abril e do cerco que se está a apertar em torno da
Venezuela, montado e organizado pelo regime de Washington (para usar uma
terminologia que a comunicação social dominante usa relativamente aos governos
dos países que estão na sua lista negra).
Na complexa situação existente na
Venezuela detectamos a ingerência externa, o boicote económico através da
imposição de sanções, o financiamento de uma oposição interna que lhes segue os
ditames, a permanente ameaça militar supostamente justificada por considerarem
a Venezuela uma ameaça para a segurança nacional e a política externa dos
Estados Unidos.
Quando as coisas assumem estas
proporções não pode haver lugar a hesitações sobre a quem é devida a
solidariedade, a pretexto de ir a reboque do que é “aceitável” pela opinião
pública, diariamente envenenada com a versão dos acontecimentos que o regime de
Washington entende promover.
Discordâncias sobre este ou
aquele caminho escolhido pela revolução bolivariana não podem servir de
desculpa para posições de suposta neutralidade ou equidistância, que apenas
revelam o oportunismo sempre latente de quem procura a onda mais alta para
surfar.
Comemorar Abril também é lembrar
como foi organizada a contra-revolução no nosso País, quem a financiou e quem
se prestou a ser um joguete nas mãos de interesses alheios aos do povo
português.
Comemorar Abril também é voltar a
lembrar a genorosa solidariedade com os chilenos exilados que escolheram o
Portugal de Abril para continuar a sua luta.
Comemorar Abril também é
demonstrar a solidariedade com os venezuelanos que são hoje o alvo de processos
historicamente bem conhecidos.
Comemorar Abril também é lembrar
o direito inalienável dos povos à autodeterminação e a decidirem em paz e sem
ingerências externas o seu destino colectivo.
Também assim se dá sentido e
actualidade a Abril como projecto de futuro.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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