Ermida
de Nossa Senhora da Paz ... e não só…
Diz a lenda, que corriam
os primeiros anos do século dezasseis, e Maria Ana da Câmara, descendente do
donatário da ilha de S. Miguel, era uma jovem monja clarissa do Convento de
Santo André em Vila Franca
nos Açores. Aí ouvia as velhas freiras narrar histórias terríveis de guerra e
cataclismos acontecidos ali na vila. A jovem religiosa entristecia-se com essas
desgraças e pedia a Deus a paz entre os homens.
Uma vez, quando estava a rezar, viu uma pomba branca
pousar-lhe no ombro e segredar-lhe que a Mãe de Deus daria a paz à vila se, sob
a sua invocação, fosse levantada uma ermida no monte que se erguia em frente à
cela.
Nos montes em redor trabalhavam muitos pastores. Num
certo dia, alguns deles recolheram-se a uma das grutas ali existentes e
encontraram uma imagem de Nossa Senhora. Admirados com o achado, levaram-na
para a Igreja Matriz, onde a entregaram ao pároco. No dia seguinte, os pastores
encontraram novamente a imagem, na mesma gruta. Reconduzida à Matriz, o
fenómeno repetiu-se por alguns dias, até que o povo compreendeu que a imagem
desejava ter uma ermida naquele sítio. Os materiais de construção começaram a
ser transportados para um local mais abaixo da gruta, lugar mais abrigado dos
ventos fortes, iniciando-se os trabalhos. No dia seguinte, entretanto, quando
os trabalhadores chegaram para iniciar o dia de trabalho, encontraram o local
revirado, e as pedras colocadas no local onde a imagem fora encontrada pela
primeira vez. Nesse sítio, então, foi erguida a Ermida de Nossa Senhora da Paz,
com o Menino Jesus ao colo, tendo na mão um ramo de oliveira.
A notícia, depressa atravessou o Atlântico, e em muitas
terras do país foram construídas capelas em honra de Nossa Senhora da Paz.
Em
Montemor-o-Novo a ermida foi edificada na actual Cândido dos Reis, em data
imprecisa da segunda metade do séc. XVI. A irmandade cedeu o templete no ano de
1578, às beatas comunitárias de Nª Sª da Luz, que o utilizaram regularmente até
1582, período em que se mudaram para o recolhimento fundado no Rossio da Porta
do Sol. Nos fins
do séc. XIX, extinta a respectiva Confraria, encontra-se sem culto e quase
abandonada: em 1910 sofreu explorações de monta, que abrangeram o recheio
mobiliário e a sacristia, absorvida como imóvel utilitário no regime de
propriedade particular.
O
edifício, de fundação quinhentista, tem frente na linha do sul, com pitoresca
frontaria de pilastras angulares e portada moldurada de verga recta, de mármore
de Estremoz, enobrecida por ancho retábulo de azulejos decorados a azul, com
moldura octogonal e filetes naturalistas, ainda dentro da tradição barroca,
figurado pela imagem titular com a seguinte legenda cronografada:
N. S. / DA
PAZ / ANNO DE / 1729
Sobrepujante
eleva-se o frontão com o enrolamento, de volutas e fogaréus agulhados e
piriformes, nos acrotérios, de alvenaria, centrado por cruz de pedra: telhado
de linhas radiadas cavalgado por lanterneta porticada, de remate esferoide,
alva de cal, populista.
Na
ilharga do ocidente, sem sino, conserva-se o campanário de empena circular,
ladeado de pináculos.
O
interior dispõe-se numa nave de planta quadrada (6,10 x 6,10 m ), com arcadas cegas,
apilastradas, de volta redonda, e cobertura cupular de secção octogonal,
assente em pendentes lisos. Alçados revestidos de quadros geométricos, de
tinta-de água, modernos, ocultando composição losângica e discoide, escaiola,
mais antiga.
O
altar-mor, vazado numa arcada falsa, é da reforma de 1928; nos prospectos
laterais, em forma retabular, beneficiados ou feitos integralmente no mesmo
período, vêem-se as imagens pintadas a óleo, de S. José e Santo António,
de carácter popular.
Bom Crucifixo, de marfim, do tipo
indo-português e muito patinado pelo tempo, se venera no local: mede, de alt. 32 cm . A imagem padroeira, de
roca, é antiga, mas não tem valor artístico. Em mísulas laterais, pregadas nas
paredes, expõem-se duas boas esculturas de madeira estofada e dourada, de
factura portuguesa do séc. XVII, representando a Virgem com o Menino (alt. 85 cm ) e S.
João Baptista (alt. 1,00
m ).
Outra
imagem, também de lenho, reimcarnada, proveniente da Igreja Matriz de Nª Sª do
Bispo, se guarda na ermida – Cristo da
Coluna, peça mais tardia e de menor mérito concepcional (alt. 1,12 m ).
As bases
e degraus do actual púlpito, com caixa de ferro forjado, simples, são os restos
de outro, de mármore, provavelmente o primitivo quinhentista.
Esta
ermida funciona como “Capela dos Passos”.
Há mais
de uma década, que este espaço religioso é utilizado pela Acção Social das Paróquias.
Esta instituição rege-se pela doutrina social da igreja, e orienta a sua acção
de acordo com os imperativos da solidariedade, dando resposta às situações mais
graves de pobreza e exclusão social. Apoia mensalmente mais de três dezenas de
famílias através de alimentos fornecidos pelo Banco Alimentar, vestuário, e
pagamento de contas domésticas, fundamentalmente pagamentos imediatos de luz,
gás, água e medicamentos.
Face à
situação de pobreza que se vive, os voluntários não conseguem dar resposta a todos
os pedidos de auxílio, mas, como afirmou o Cónego José Morais ao Programa 70 x
7 da RTP 2, “não resolvem todos os problemas, mas pelo menos vão minorando as
dificuldades”.
Mas,
infelizmente a situação agrava-se a cada dia que passa, apesar de, cento e dez
mil portugueses terem emigrado apenas em 2013. Segundo o Observatório da
Emigração, Portugal é hoje o país da União Europeia com mais emigrantes em
proporção da sua população residente. O número de emigrantes portugueses supera
os dois milhões, o que significa que mais de 20% dos portugueses vive fora do
país em que nasceu.
Mesmo
assim, de acordo com o Relatório da Crise da Caritas Europa, emitido em 2015,
“entre os 28 estados-membros, Portugal foi o país da Europa onde o risco da
pobreza ou de exclusão social mais aumentou: 2,1 pontos percentuais”. A Caritas
refere ainda, que em Portugal mais de seiscentos e quarenta mil jovens e
crianças estão na pobreza.
Estes
números funcionam como um atestado de incompetência para todos aqueles que nos
(des)governaram, e também, para os políticos que passaram e se mantêm, no XIX
Governo Constitucional, conhecidos como “os obreiros do tal país imaginário”.
Ainda em
relação à situação de pobreza que se vive, consta que, perguntaram à menina do
Barreiro, a quem Passos Coelho prometeu que não haveria cortes nos salários, e
que o 13,º e 14.º mês eram intocáveis, o que pedia ela ao Pai Natal. A resposta
não se fez esperar: em vez de brinquedos, eu quero… que os políticos eleitos
cumpram as promessas feitas.
Será que
o Pai Natal aprova o pedido?
Augusto Mesquita -
Junho 2015
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