Terça, 23 Junho 2015
Eis-nos mais uma vez
em plenas Festas da Cidade de Évora, a Feira de São João. Mais ou menos
ansiosos por que chegue mais uma edição, mais ou menos distraídos sobre o que
acontece de novo no rossio, os que vivem, nasceram, passam ou passaram
frequentemente por Évora não deixam de reparar nela. Nem que seja, no caso dos
declarada e convictamente anti- feiras e quejandos, para a contornar e evitar.
Tratando-se de uma iniciativa municipal,
os sucessivos executivos no poder acabam sempre por ser julgados, de ano para
ano, pelo impacto que cada ano e nesse mesmo ano a Feira tem nos seus
frequentadores. Sim, porque deixemos passar um par de anos e lá nos esquecemos
nós do que de bom ou mau lhe encontrámos e achámos. Não sendo possível, nunca,
agradar a todos, quando esses todos formam uma sociedade plural e livre para o
também livre-arbítrio, os políticos em posição de governo tratam, por estas
alturas também e sobretudo em períodos pré-eleitorais, de agradar ao maior
número possível e cativar os cidadãos, potenciais eleitores. Abrem-se os
cordões à bolsa que antes se dizia vazia, furada no fundo - por outros, claro!,
sempre por outros, nunca por quem exigia, mesmo na oposição, que se gastasse
mais aqui e ali, e não se gastasse nem nestes, nem noutros, afinal já em tempos
em que se “faziam oitos com pernas de noves”, o que significa faltar alguma
coisa nalgum lado. Uma bolsa sempre a perder recheio que, alinhavada por
argumentos que outrora pareciam não servir, miraculosamente em ano de eleições,
estancam e arrecadam aqui e ali alguns cobres, para que os cordões se abram e
que, mesmo lembrando aos cidadãos que, se em casa continuam sem pão – culpa dos
outros, claro! sempre dos outros, e que jeito dá aqui e ali meter essa bucha de
relembrar esses outros que são os que nos tiram o pão e nos obrigam a dar-vos
bolos – na rua há circo para esquecer.
Desfila-se
diligentemente entre os cidadãos, atrás, à frente, no meio ou de lado –
conforme dê mais jeito e onde se seja melhor visto pelos que assistem quanto
mais deslumbrados melhor - aos cortejos que também se chamam, por vezes,
paradas, versão das modernas e internacionais e históricas parades.
Desfile, marcha, cortejo, procissão ou parada são eventos comemorativos onde
pessoas e objetos móveis percorrem um determinado caminho, sucedendo-se uns aos
outros de forma coordenada. Se o desfile é o termo mais neutro, o cortejo é o
mais alegórico e carregado de simbologias e a procissão o de carácter
religioso. Já marcha se usa mais para a manifestação política e a parada, em
português, se associa aos movimentos militares quotidianos. Mas a parade,
ah! a parademistura tudo, numa explosão de festa e de cores que
celebra alegrias, num alarido sonoro que chama as atenções, com disfarces que
realizam sonhos no tempo, curto, do desfilar, desejos negados pela realidade do
dia-a-dia.
Este ano a Feira de
São João celebra o Palácio, o nosso o do Dom Manuel, que cresceu pedra sobre
pedra na mesma época em que tantos outros palácios se erguiam no que é este
espaço chamado Portugal, para albergar os poderosos, os que se sucediam
dinasticamente, os filhos ou sobrinhos aos pais e aos avós, numa linhagem sempre
desejavelmente pura, mas só no sangue Os que governavam os outros, longe, muito
longe ainda do tempo desta Democracia que dá o poder, também do voto e do veto,
ao Povo.
E por mais voltas que
se dê quando se celebra alguma coisa faz-se-lhe um lugar na memória. Para uns
com nostalgias, para outros com repúdio. E para outros, ainda, dando uma no
cravo e outra na ferradura. Uma boa Feira e até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
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