Não devia porque já é hábito, mas fiquei chocado com as notícias que, durante dias,
deram enfoque único a um país comprimido entre dois estádios de futebol, numa
tal Circular a que chamam Primeira. Tudo porque um treinador mudou de clube, na
medida em que, e os motivos são muitos mas reduzidos num só, a coisa lhe
interessou.
Os meandros desta mudança não
se conhecem com a clareza necessária para uma análise igualmente clara. E como
o povo (e os meios de comunicação) gostam de coisas assim, obscuras,
surpreendentes e a raiar o mafioso, esqueceu a taxa de desemprego, os assaltos
do Governo aos nossos bolsos cada vez mais vazios, os sem-abrigo, ás centenas,
em Lisboa e noutras cidades do país, a taxa de emigração de jovens e de menos
jovens, verdadeiramente expulsos desta terra como personae non gratae, os
dentes afiados de quem, salivando, vai, se ganhar as eleições, continuar com as
mesmas políticas, porque, como dizia o outro, mudam só as mosquinhas. Não. Nada
disto merece a atenção dos meios de comunicação social, que deram, todos eles,
constantes e contínuos maus exemplos de jornalismo e de opções editoriais.
Porque o resto já não vende. Porque o povo gosta do imbróglio, de tricas, de
tristes, de futebol às carradas fora das quatro linhas.
Não me lembro de alguma vez ter
tido ídolos. Desde puto percebi (e acho que devo isso ao meu Pai) que os homens têm, tal como as moedas, duas
faces – a cara e a outra face, que muitos poderão desconhecer.
João Luís Nabo
Publicado in “Montemorense” –
Junho 2015
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