Terça, 16 Junho 2015
Agent provocateur, que se traduz por
agente provocador mas é uma expressão normalmente usada em francês, designa uma
pessoa que secretamente um determinado grupo infiltra noutro, para incentivar
os membros deste a cometer actos ilícitos ficando-lhes assim associados.
O objectivo pode ser mais leve, digamos
assim, e tentar-se “só” diminuir a sua credibilidade, levando-os a adoptar
comportamentos radicais, ou até mesmo cometendo-os ele próprio em nome do
grupo.
Normalmente, os agents
provocateurs são designados para provocar agitação e violência, mas
também, e mais discretamente, o debate e a controvérsia até ao limite
pretendido do descrédito. Poderíamos usar a metáfora fabulística da raposa no
galinheiro, em alguns casos e, noutros, dizer que são assim uma espécie de
incendiários disfarçados de bombeiros. Infelizmente, esta sua subespécie menos
policial, é mais comum do que raríssima em muitas organizações da sociedade
contemporânea, que é a que nos interessa por ser aquela em que vivemos.
A actividade de agent
provocateur pode até ser legal em alguma latitude do nosso planeta,
mas num sistema democrático como tem sido o nosso dificilmente se justificará.
Sendo uma prática que evoca clandestinidades ultrapassadas, suponho que ainda
circulará em alguns corpos, socialmente falando, compostos por guerrilheiros e
revolucionários de pacotilha, a mando dos mais diversos e inesperados
interesses, onde o pessoal não deve ser ignorado.
É talvez mais comum
nos dias que correm, e de certa forma aparece branqueado aos ouvidos mais dados
à actividade intelectual, apelidarem-se este tipo de activistas de “cínicos”,
entendendo-se mesmo por cínico aquele descendente da histórica seita filosófica
que desprezava as conveniências sociais. O problema é que quem é mais
cauteloso, ou exerce funções para as quais outros delegaram em si um voto de
confiança, terá sempre tendência a desconfiar, ou pelo menos a acautelar-se,
com aquele tipo de proposta só aparentemente bondosa. Isto cria um clima
terrível de constante tensão, exige uma resistência e um savoir-vivre por
parte de quem circula nestes meios onde as acções que, vulgarmente, o cidadão
comum baptiza de “políticas”, tomando o seu sentido mais rasteirinho e muitas,
se não a maior parte das vezes, até distante do verdadeiro mundo da política e
dos partidos, e próximo de qualquer organização ou instituição que implica as
figuras de quem governa e quem é governado.
Num regime civilizado,
em que os cidadãos possam confiar nas suas instituições, o agent
provocateur poder-se-á juntar à galeria onde figura o espião, até na
sua imagem mais romanesca, e ao bufo. Estes estão para os círculos de poder
como a alcoviteira, o coscuvilheiro e o intriguista estão para os círculos mais
restritos. E são um problema para quando se pretende resolver os assuntos da
forma mais transparente, consciente e justa possível. Porque é aqui que o
cidadão comum se começa a sentir sozinho e rodeado de agents provocateurs,
tornando-se desconfiado e deixando de participar. O que é uma pena porque,
desistindo, deixa nas mãos de quem provavelmente não queria os destinos que
também o governam.
Cláudia Sousa Pereira
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