Terça, 27 Janeiro 2015 09:33
Se o estrangeirismo de
hoje, pole position, vem do mundo do automobilismo, o assunto da
crónica são as eleições na Grécia e a vitória expressiva do Syriza. Apole
position é o primeiro lugar na chamada grelha de partida de uma
corrida de carros, o lugar destinado ao piloto mais veloz e alcançado,
normalmente, em treinos classificatórios.
No que me parece que se tornará uma
curiosa, ou talvez não, repetição da história e espécie de fado da civilização,
a Grécia reinaugurou a democracia. Não andou para trás, fez antes uma espécie
de upgrade, para usar outro estrangeirismo, dessa democracia,
primeiros passos gregos que deram no que permite irmos atualmente a eleições
escolher quem nos governa, para o bem e para o mal, mas com a possibilidade de,
ciclicamente e quando necessário, mudar-se em paz e com regras.
Não que todos tenhamos
que ter um Syriza e que passará a haver em cada país desta Europa a que
pertencemos, um partido saído da extrema-esquerda a amaciar-se e a deixar de
bradar do lado de lá, na oposição, e passe para o centro das decisões a tomar,
com o bom senso civilizacional, sem retrocessos. Estou quase absolutamente
convencida – há sempre espaço para as surpresas, bem entendido – que se
engrossarão as hostes do lado mais à esquerda do que é a imensa massa de
moderados que alternam nos governos europeus. E o que irá precisamente acabar
são algumas tendências no que aos mais à direita neoliberal diz respeito, e que
se juntarão a outros extremismos que também poderão começar a ganhar a sua
força. Afinal, o que ouvimos ao Syriza e terá contribuído para que tenha ganho
as eleições agora, já ouvimos num documento assinado por muitos que militam e
simpatizam com um Partido do chamado “arco da governação”: renegociação da
dívida e recusa da austeridade pela austeridade, ou seja como fim em si mesma.
Inquestionável é que a
Grécia está agora na pole position para que mude de facto
alguma coisa na Europa, o que já começou a acontecer através do BCE. Uma pole
position muito bem conseguida pelo Syriza não só pelo lado do sempre
popular discurso da contestação, e ainda mais em períodos de crise manifesta,
já que latente é ela sempre nestas almas meridionais banhadas pela nostalgia do
Mediterrâneo. Foi conseguido também pelas provas dadas enquanto governo local e
regional. Na Ática (e noutras regiões das Ilhas Jónicas), o governo Syriza tem
sido o laboratório da experiência. E parece ter tido o êxito suficiente
(multiplicou por seis o orçamento social apesar do contexto não ser nada
amigável, por exemplo) para que a escolha fosse agora para o governo nacional.
Tudo isto requer
atenção, porque há mudança nos ares do velho continente e a confiança de nós
europeus terá de ser reconquistada. Atenção por parte dos Partidos, que são
quem propõe os governantes para irem a votos, mas também por parte dos cidadãos
eleitores que têm no voto a sua mais legítima e eficaz arma para que os
governantes se comportem. Tudo isto com tempo ainda para cuidarmos do nosso
próprio comportamento cívico – quantas vezes, até só por inércia, não pactuamos
com situações que não beneficiam em nada o bem comum? Tudo com tempo também,
aqui por Portugal (e por que não se gostam e ainda lhes chegam os euros) para
uma excursão familiar com a petizada àquilo da Violetta? Tudo uma questão de
escolha possível, quando as circunstâncias são oportunas. De qualquer modo,
como dizia o slogan do movimento Que se Lixe a Troika retirado do discurso do
ator desempregado André Albuquerque de 2013: «Portugal não é a Grécia!».
Cláudia Sousa Pereira
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