sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CRONICA DE OPINIÃO DE HOJE TRANSMITIDA NA DIANA/FM

                                           Eusébio

Sexta, 10 Janeiro 2014 08:39
É incontornável. Tinha hoje de falar de Eusébio.
Não sou dos que assistiram aos jogos em que o Eusébio deu inúmeras alegrias aos adeptos quer do seu clube quer da selecção nacional. Tinha acabado de nascer quando o mundial de 1966 ocorreu e, portanto, pertenço àquele conjunto de pessoas que fala de Eusébio pelo seu legado.
É unânime o reconhecimento que todos têm pelo talento de Eusébio. Não sei se foi, no seu tempo, o melhor do Mundo. Mas foi seguramente um dos melhores do Mundo – o Mundial de 66 mostrou isso mesmo.
É unânime também o reconhecimento, por parte dos que o conheceram de perto, de que o Eusébio era uma pessoa extraordinária. Muito humilde, muito generoso e, como se costuma dizer, muito boa pessoa. E foi essa a imagem que deixou – a sua vida mostrou isso mesmo.
É unânime ainda o reconhecimento de que quando Eusébio estava a jogar, fosse onde fosse, pensava sempre mais em quem estava a representar, pensava sempre mais no seu clube ou na selecção nacional, e, dizem todos, nunca em si mesmo – as muitas operações que fez, em particular, a um dos joelhos, e a forma como continuava a jogar mostraram isso mesmo.
É, portanto, unânime o reconhecimento de que Eusébio era um futebolista fora-de-série e um atleta de eleição, uma pessoa ímpar e uma personalidade de excepção. Como poucos neste Mundo foram. Tornou-se, portanto, num símbolo.
Eusébio foi o primeiro grande jogador português e o primeiro jogador de origem africana a ter sucesso no futebol mundial. Ganhou onze títulos de Campeão Nacional, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus e quatro Taças de Portugal. Foi sete vezes o melhor marcador do campeonato nacional e recebeu, por duas vezes, a “bota de ouro” de melhor marcador europeu. Na galeria de troféus também está a “bola de ouro” de melhor jogador europeu. Chegava para qualquer pessoa se tornar num símbolo nacional. Mas a personalidade de Eusébio e a sua maneira de ser tornaram-no ainda mais símbolo.
Dei por mim a procurar uma imagem que me tivesse sido transmitida de Eusébio, em que Eusébio estivesse a reclamar com um árbitro. Admito que possa ter havido, mas não encontrei. A imagem com que fico dele é, justamente, a de querer sempre jogar o jogo pelo jogo. E a de querer ganhar. De ganhar, sim, mas não querendo o mal dos outros. Queria apenas ganhar, na lógica simples do “que ganhe o melhor!”. E ganhar, para Eusébio, pareceu sempre ser isso mesmo: ganhar porque tinha sido o melhor e porque tinha sido o melhor o resultado só poderia ser esse: a vitória. Foi esta atitude que explicou as lágrimas de Eusébio no tal jogo contra a Inglaterra que ditou o afastamento de Portugal da final do Campeonato do Mundo de 66. Ele sentiu que Portugal merecia ter ido à final porque era melhor, porque tinha sido melhor.
Depois de uma vida que poderia ter sido muitíssimo mais fácil para o “Pantera Negra”, não fora um conjunto de várias desinteligências de que foi vítima, é, agora, tempo de lhe ser prestada a justa homenagem.
Que Portugal saiba honrar Eusébio como Eusébio honrou Portugal!

Lisboa, 9 de Janeiro de 2014
Martim Borges de Freitas


Sem comentários: