quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

COLABORAÇÃO DE LUÍS DE MATOS

É com enorme satisfação que publicamos hoje o primeiro trabalho de um amigo da juventude, natural de Terena que teve a amabilidade de nos enviar o texto que se segue.
Trata-se do Luís de Matos, pessoa sobejamente conhecida em todo o Concelho e não só, e que sobre literatura já conta com diversas obras editadas:




Neste seu primeiro trabalho literário, que temos o prazer e a honra de publicar no  Al Tejo, Luís de Matos coloca  a nossa Ribeira do Lucifecit como cicerone para nos transportar numa viagem a locais de referência de todo o vasto Concelho do Alandroal.
Esperamos que nos continue a brindar com muitos mais textos que por certo muito vêem contribuir para o enriquecimento deste nosso espaço.
Obrigado Luis

Chico Manuel 

                                      LUZ SE FEZ

No segredo das águas…

Terras do Endovélico


Há muitos, muitos anos, nasceu uma menina a que foi dado o nome de Lucefécit.
A menina não tinha casa. Tinha nascido sob a luz da lua e das estrelas, junto a uma pequena aldeia chamada Santiago Rio de Moinhos, próximo da Serra de Ossa. Apesar da aldeia ser muito bonita e gostar do sítio onde vivia, Lucefécit começou a pensar que gostaria de conhecer outras meninas e meninos e ser feliz.
Foi com este pensamento que adormeceu. Nessa noite, Lucefécit dormiu um sono profundo, que dá saúde para retemperar as forças e enfrentar um novo dia. Quaisquer meninos e meninas que encontrasse iria falar com eles. Tentar conhecê-los e depois, talvez viessem a ser amigos.
Lucefécit, não fazia ideia dos amigos que iria encontrar e quem eram, mas uma coisa, ela tinha a certeza, seguiria o seu caminho e esforçar-se-ia para concretizar o seu desejo. Sabia de onde vinha, desconhecia o seu percurso e não sabia onde iria terminar a sua viagem. 
Assim, logo pela manhã, ainda o sol não tinha nascido, levantou-se, esfregou os olhos, espreguiçou-se e preparou-se para iniciar o caminho à procura de possíveis amigos.
Estava um bonito dia de sol de Primavera. Atravessou a aldeia, devagarinho, andou, andou sempre pela planície alentejana até que encontrou pela frente, uma enorme montanha. Era o seu primeiro obstáculo e uma grande confusão. 
Que montanha tão grande e com tantas árvores! 
Lucefécit teve algum receio, mas tinha que continuar a sua viagem para ir procurar os possíveis amigos deixando para trás, do seu lado direito, a montanha que se chamava Serra d `Ossa. Continuou a sua marcha, mas eis que, a uma curva graciosa, ao seu lado direito, dá de caras com a Fonte e a Igreja de Nossa Senhora da Fonte Santa. Olhou para elas, virou à esquerda e continuou o seu caminho. Tinha agora à sua frente, um enorme obstáculo rochoso e muito alto, que era para ela completamente novo e que a Lucefécit nunca tinha visto, chamado Rocha da Mina. Como não o pôde vencer, passou-lhe ao lado direito, deu uma grande curva para seguir em frente e encontrar do mesmo lado, o Moinho da Rocha da Mina. A seguir passou por baixo da Ponte dos Ouros, deixando do lado esquerdo, o Moinho do mesmo nome. 
No seu percurso já difícil, um pouco mais abaixo, encontrou do seu lado direito, uma menina, pequenina como ela, chamada Ribeira da Silveirinha. Deste encontro nasceu uma boa amizade e a Lucefécit ficou muito feliz por ter encontrado a sua primeira amiguinha. Seguiram as duas juntas, de mãos dadas, até encontrarem, desta vez do seu lado esquerdo, um menino chamado Ribeiro da Mota.
- Queres vir comigo menino amigo? Perguntou-lhe Lucefécit.
- Que convite misterioso, pensou desconfiado, mas ao mesmo tempo com vontade de satisfazer o desejo de uma menina tão bonita como Lucefécit, embora não soubesse onde o podia levar e por que o estaria a convidar. Resolve então perguntar-lhe: Para onde te diriges?
- Não sei. Não faço a mínima ideia. Talvez para o mar ou para um rio, respondeu Lucefécit. Quando saí da terra onde nasci, foi com a intenção de conhecer outras meninas e meninos e ser feliz.
-Pensei que ias fugir de alguma coisa, pois tenho vindo a reparar que às vezes fazes grandes curvas, como que a quereres esconder-te de alguém.
-Eu, fugir de quê? Respondeu Lucefécit.
-Não sei, apenas fiz uma pergunta. O ribeiro disse-lhe que se chamava Ribeiro da Mota e que devido à aridez dos montes onde tem vivido, anunciou-se aos tropeções, entregando-se depois ao prazer visual de admirar as flores da esteva, do rosmaninho e da rosa silvestre, como só o engenho das crianças transportam para o mundo dos sonhos.
-Bem sei que as rosas e o rosmaninho são flores de luxo, cujo perfume me entontece e talvez por isso, me vi obrigada a dar tantas curvas, desculpou-se Lucefécit.
Entretanto e logo a seguir, do lado direito, surgiu um outro ribeiro chamado Alfardagão. Imediatamente se fizeram amigos e os quatro lá foram cantando e rindo à descoberta de novas emoções.
Iam todos de mãos dadas, brincando, saltando aqui e ali por entre rochedos que insistiam em dificultar o seu caminho, rodeando algumas encostas de pequenos montes que, para os quatro amigos lhes pareciam enormes.
À medida que ia conhecendo outros vales e montes, Lucefécit deparava-se com novas dificuldades. Eis que, um pouco mais abaixo, do lado esquerdo, encontrou um esporão rochoso e paredes quase a pique, a que deram o nome de Castelinho. Contornou-o, mas eis que surge imediatamente a seguir e do seu lado direito, um rochedo tão alto, que se erguia como uma torre, chamado Castelo Velho. 
Lucefécit, pôs-se a pensar como o conseguiria vencer mas, logo se apercebeu que isso era impossível e decidiu então, passar-lhe pelo lado esquerdo.
Ultrapassado este obstáculo, foi encontrar, do seu lado direito, um outro menino chamado Ribeiro do Lobo. Era mais um menino simpático e acolheu-o de braços abertos, tal como viria a fazer com o Ribeiro do Olival da Rocha que encontrou um pouco mais abaixo do seu lado esquerdo.
Lucefécit, que se tinha levantado muito cedo, apresentava já sinais de cansaço. Por isso mesmo, foi andando devagarinho e conversando com o seu amigo. Quando mal se aperceberam, tinham pela frente, do lado esquerdo, um outeiro muito grande chamado S. Miguel da Mota. Durante a viagem, Lucefécit já tinha ouvido dizer que a lua se escondia por detrás daquele outeiro muito alto e que dominava uma boa parte da planície. Ouviu ainda mais: ouviu dizer que, naquele local, existiu há milhares de anos, um guardião muito famoso pelos seus feitos sagrados, chamado Deus Endovélico. 
A Serra de Ossa, a Fonte Santa e a Igreja de Nossa Senhora da Fonte Santa, já tinham ficado para trás e do seu lado direito. Agora, Lucefécit, deixava o Deus Endovélico lá bem no alto e do seu lado esquerdo, tendo continuado a descer, para encontrar logo a seguir e do mesmo lado, outro amigo, chamado Ribeiro do Bragado. 
Lucefécit tropeçava e hesitava aqui e acolá, sempre com o desejo de descobrir terras nunca vistas e sonhadas. Lucefécit, estava ansiosa por terminar a sua viagem. Mas, andou mais para baixo e encontrou-se com outra amiga que já vinha de longe, chamada Ribeira do Alandroal, vestida de saia e blusa da cor das flores dos alandros. 
Ao fazer esta nova amizade, Lucefécit, era já uma senhora e tinha feito muitos amigos, mas como tinha de continuar o seu caminho, foi em linha reta até ao Moinho da Volta para, logo a seguir dar de caras com o Alto de São Gens, que lhe barrava o caminho. Como não o podia passar, virou à sua direita e, serenamente, passou pela Ponte Velha. Andou um pouco mais para baixo, até que encontrou do seu lado direito, um outro menino chamado, Ribeiro da Cruz, que vinha dos lados de Terena e acolheu-o no seu regaço. 
Olhou para cima e, lá ao longe, viu Terena com o seu imponente Castelo que, lá do alto da colina vigia tudo à sua volta.
Lucefécit não se deixou intimidar pela sua imponência. Olhou para ele, de soslaio, deixou-o ao seu lado direito. Até ao momento, tinha galgado terreno agreste, passando agora a dar lugar à horizontalidade da terra, e assim seguir em frente pela planície, já mais aberta e ampla a perder de vista, até que chegou à Igreja de Nossa Senhora da Boa Nova. Quase a beijou e decidiu descansar um pouco sob um manto de lírios e malmequeres brancos e amarelos.
Seguiu novamente em linha recta para receber mais abaixo, nos seus braços, três amigos chamados Ribeiro dos Barrancos, que surgia ao seu lado direito, Ribeiro do Negro e Ribeira do Alcalate, que surgiam ao seu lado esquerdo.
Continuando o seu caminho pela planície adentro, feita a amizade com os Ribeiros do Belo e dos Apóstolos que vêm do seu lado esquerdo, um pouco mais abaixo, do seu lado direito, Lucefécit não consegue vencer um esporão rochoso chamado Castelinhos, para logo a seguir, acenar pela última vez,ao Moinho e à Igreja de Nossa Senhora das Neves, ao Moinho e aos montes do Roncão e do Aguilhão, que lá do alto, vigiam o rio Guadiana. 
Lucefécit, inicialmente plena de energia e apesar da força acumulada ao longo do seu difícil caminho, já não tem força para vencer a Rocha de Santa Catarina. É aqui, que dá então o seu primeiro e receoso mergulho no Rio Guadiana. 

E assim, decide terminar a sua longa e penosa viagem, mas ao mesmo tempo muito rica, pois tinha feito muitos amigos, tal como havia imaginado poder vir a acontecer.

Évora, 9/01/2010 Luís de Matos

7 comentários:

Anónimo disse...

cinco estrelas, Luís!
um amigo.

Anónimo disse...

SR. Administrador existe muita coisa para conhecer sobre este seu ilustre colabarador, mas compete-lhe a ele refrletir sobre a sua continuação com esta colaboração,pois vai estar exposto a comentários que tenho a certeza que ele próprio não deseja, mas a continuar a eles estará sujeito

francisco tátá disse...

Pode o Luis de Matos estar descansado e continuar a fazer chegar textos desta beleza pois à semelhança de muitos outros Colaboradores, comentários de teor ofensivos ou sem cabimento nunca serão publicados.
Já lá vai o tempo. A experiência ensina muitas coisas...
Administrador

Anónimo disse...

Tem toda a razão se assim continuar, caso contrário até o sr. terá muito que houvir

Anónimo disse...

Certamente "comentários" que o corajoso do comentador não é capaz de fazer pessoalmente ao Sr. Luís. E vai daí "ameaça" já de vir para aqui conspurcar este espaço...Não o permita Sr. Francisco. Lindo texto e bela história.

francisco tátá disse...

Permita-me apenas acrescentar que já o tentou de diversas maneiras, mas vem mal...o caixote do lixo é muito grande.
Não vai conspurcar,como diz e bem este belíssimo texto
Administrador

Anónimo disse...

Para o Luís de Matos,
expressamente.
O primeiro comentário, aquele das cinco estrelas, fui eu que o fiz. Na altura não me alonguei porque estava com a pressa de xxxxxxxxx, e o tempo não deu para mais. Agora, que já estou com mais vagar, xxxxxxxxxxxxxxapesar, quero acrescentar alguma palavras ao que disse no princípio.
Este texto, esta bonita estória, esta lição de geografia local, só foi surpresa para quem não conhece outros escritos do Luís. Eu, que há um punhadão de anos lhe conheço o verbo e a pena, não fiquei nada surpreendido. Apenas confirmei que o Luís continua a manter uma enorme paixão pela terras que o viram nascer e medrar.
E olha que a foto tua que aparece a acompanhar a prosa, é uma foto muito antiga. Se te alargasses mais um pouco ainda colocavas no blogue uma fotografia do tempo em que foste para Elvas. É assim mesmo, amigão. Recebe um abraço deste que te conhece bem, e que nunca deixou de pensar, nem por um minuto sequer, que tu és um gajo porreiro. Tudo o resto que aqui venham insinuar é aquilo que nós bem conhecemos e de que já falámos algumas vezes.
Tenho quatro ou cinco chamadas tuas no telemóvel. Desculpa ainda não ter respondido. Tenho andado cá com umas "fezes" que nem imaginas.
Outro abraço e, mais uma vez, parabéns pelo texto.

um amigo