quinta-feira, 19 de maio de 2011

REVIVER O PASSADO

AFINAL A GENTE TINHAMOS UM ESPÍRITO MUITO CRIATIVO E SABÍAMOS ANDAR À FRENTE DO TEMPO.

Numa história aqui há pouco publicada o Luís Fernando falava-nos da Cova dos Ginetes.
A verdade é que tal local, assim como o Poço da Morte provocava-nos um certo fascínio misto de curiosidade e temor motivado pelos conselhos paternos, devido à perigosidade dos locais em questão, o que por vezes contribuía, para os mais afoitos, uma visita a tais locais, sempre desafiados pelo “não és capaz” provenientes dos mais velhos.
Recordo-me perfeitamente da primeira vez em que desafiado pelo Joaquim de Fátima desci até ao fundo da Cova dos Ginetes. Desci com o coração a tremer e subi com os bofes na boca.
Mas não é disto que vos quero falar:
E o título desta crónica disso dá conta.
Aqueles que ainda tiveram o privilégio de conhecer o local em questão (dizem que foi dali que saíram as pedras para a construção do Castelo, mas disso só o Tói é que nos pode elucidar)), devem estar recordados que havia uma espécie de “estradinha” sinuosa e com vários socalcos pela qual se descia até ao fundo da cova.
Pois bem, a rapaziada depressa encontrou uma outra utilidade a dar à referida “vereda”, e dai o título de espírito criativo.
Na altura, quando se fazia e desbaste das palmeiras da praça a rapaziada fazia bicha (melhor fila), para levar consigo o melhor cacho das maçanicas. Não pelas maçanicas, mas sim para utilizar como escorrega (cavalo, automóvel, comboio) para ir ladeira abaixo , por vezes com grandes “cambalhotas” até ao fundo da Cova dos Ginetes.

(foto Al Barram)
E havia até quem fizesse negócio com o seu cacho, trocando uma “voltinha” por meia dúzia de cromos da bola, uns vinténs para o jogo do botão, ou umas guloseimas trazidas para o lanche, sacrificado por uma escorregadela.
Ora digam-me lá se isto não se pode comparar com os actuais Skates, só que em vez de se escorregar com os pés se utilizava o rabo, ou pelas pranchas de windsorf, com a diferença de em vez de ondas tínhamos pedregulhos e terra dura q.b.
Boas “escorregadelas”
Chico Manuel

9 comentários:

Anónimo disse...

Boas

Passava aqui a tarde a contar histórias que se passaram na referida cova dos ginetes!

Era raro o dia que lá não iamos!

Bons tempos...

Martin

francisco tátá disse...

Força amigo conte e mande para cá. Tenho muito gosto em dá-las a conhecer. Reviver o passado por vezes é bom.
Obrigado pelo comentário
Xico

Anónimo disse...

Ora bem a cova era conhecida por nós como cova dos nêtes (essa dos ginetes é modernice do Xico) e de verdade só os valentes é que se atreviam a ir lá abaixo.
É verdade ou não é Xico'

Anónimo disse...

Obs


Por mim, a ideia que tenho da Cova dos Nêtes, era a de que havia lá monstros,Adamastores,pássaros maléficos.Cobras medonhas e muitos ratos...Vozes estranhas e escabrosas.Isto tudo junto,é obra.


E mais: só se podia ir lá a umas certas horas.Talvez à tarde.Nunca de noite, porque aí os fantasmas poderiam mesmo engolir-nos de vez.Esta era a ideia que tinha e mantive durante toda a minha infância.Aquilo, era mais do que um filme de terror com uma grande diferença:o terror era ali bem real,visível e indomavel.
Atacava ao mínimo suspiro, descuido e desrespeito para com a divindade encobertamente subterrânea.

É claro que, no meio disto tudo, também havia as influências maléficas dos Fátimas e outros fatais demiurgos.
"Os de Cima" que estavam sempre dispostos a amedrontar os menos afoitos e a não deixar que "Os de Baixo" penetrássemos nos seus territórios.
Algo sacralizados.Sempre a mesma coisa.

Escorregar nunca escorreguei.Não tinha travões adequados.Além disso havia sempre o risco de uma mão fatimida qualquer se descuidar atrás das nossas costas.

Portanto,se sabe bem recordar,também sabe bem dizer que os maiores fantasmas que o imaginário dos putos alandoalenses alimentavam moravam mesmo lá naquela Cova Funda dos Nêtes.É a pura verdade!

Ainda hoje quando por lá passo e com quem não quer a coisa,olho a modos que meio distante,meio receoso,meio encomendado aos irmãos fátimas.À sua protecção.Ou à sua desprotecção.Assim era.

Assim é.A minha maneira de reinventar e contar as coisas.
E terei dito alguma coisa que verdade possa não ser? Diz Chico e JR,Homero e Outros? Os Fátimas
eam ou não eram uns guardas pretorianos daquela fundíssima e cavernosa Cova?


Com as melhores saudações


Antonio Neves Berbem


PS. A mim, de uma vez quase que só me faltou pagar bilhete...apenas para ver;nunca para descer.

Anónimo disse...

Abri o Blog com a intenção de ver o artigo sobre o Endovélico e deparei com este.
Fez-me, de imediato, recordar o pego do Recôvado na Ribeira do Lucefécit, ontem tão e bem recordada no majestoso Mosteiro dos Jerónimos. A ribeira era para a rapaziada de Terena e não só a sua piscina, sem instrutores mas com bons nadadores, Ali, naquele paraíso de água, aprendemos a nadar e a pescar á lapa. O Recôvado era como a cova do Ginete, um perigo a desafiar. pois dizia-se que acravava nove homens de pé. Lá nadei sem nunca o atravessar.
Quis, com este pequeno comentário, associar-me, neste "REVIVER O PASSADO" ao F. Manuel.
Um abraço

Anónimo disse...

Pois era..., a cova dos nêtes!
Essa dos irmãos Fátima, de que o amigo TÓ ZÉ dá conta, não é do meu tempo, ou não recordo, mas eram, pelos visto, uma espécie de irmãos Dalton.
Eu estava proibidíssimo de ir a tal local demoníaco, e de quando em vez levei as minhas chapadas por saberem que tinha lá ido.
O que conto a seguir sobre esse buraco cavernoso, que deu asas ao imaginário da nossa infância, poderá ter alguma imprecisão, pois passaram muitos anos: um dia o Carlos Salgado, um miúdo das arábias, debruçou sobre a respectiva cova o respectivo traseiro, para fazer uma necessidade lá das alturas, penso eu que num ritual premeditado de se "cagar" para a fama do sítio. Lembro-me dele como um compincha foito e endiabrado. Pois ele dessa vez estampou-se lá de cima, vindo sem paraquedas até às funduras do antro. Um denso silvado brindou-o com alguns arranhões, mas saiu incólume do trambulhão..., sem qualquer osso partido. Mais coisa menos coisa o relato não foge da verdade.
Obrigado amigos, um abraço para todos. AC

Anónimo disse...

Meu caro AC


É só para te informar que o Carlos Salgado, à escala da idade que já vamos tendo, está na mesma.Precisamente na mesma.Sempre na mesma.Até no fisico.Já o pai assim também era.A mãe ainda é viva.

Amaluqueirado na maneira como ainda hoje sabe rir com as criativas diatribes que fazia.
Nas guerras e na baliza,como sabes, valia bem à vontade três inimigos.Desequilibrava.
E pronto.Até sem espada e sem redes nos ganhava.

Tem um andar aqui na Ericeira (com vista para o Alentejo e para o mar) onde almoçámos e de onde telefonámos para tudo quanto era amigo que estivesse registado no seu e no meu telemovel.
Pontualmente à CS falimos.Tivemos que ir recarregar.

E depois,meu caro AC,acabámos a tardada quando as mulheres já reclamavam justamente contra a madrugada que alto rompia.
Sempre com mais vista para o Alentejo do que para o Mar.
Lá nos despedmos a custo...armados em mui fiéis alandroalenses.E com um abraço no canto do olho.

Assim foi.Relato terminado.

Com as melhores saudações


Antonio Neves Berbem

Anónimo disse...

CRIATIVIDADE? Engenharia...Engenharia...meu Caro Chico.
É que, para além das "velocíssimas" escorregadelas até ás entranhas da Cova dos Ginetes montados nos ramos das palmeiras, das partes mais largas dos caules (após secagem) e com "navalhas furtadas" moldávamos pequenos e navegantes barcos logo usados (ousados?)nas sonoras águas dos chafarizes da Fonte da Vila e em alguidares de nossas casas.
MARES NUNCA ANTES NAVEGADOS...
Mas, também pela proximidade,sobre o Poço da Morte (Algar de Sto. António) deixo-vos este pequeno relato.
Nunca tinha penetrado até ás suas profundezas.
Fi-lo há alguns anos atrás pelos cerca de 50 degraus metálicos de união (abismal)até à 1ª. plataforma (no tempo em que o saudoso Zé Vicente lá ia todas as semanas medir a progressiva descida (falta) de água).
As estalagmites e as estalactites meus amigos!!!
D E S L U M B R A N T E!!!
E, estando lá mesmo em baixo, pensei: Olha se o Peixota se apercebesse da dimensão destas profundidades?
É que ele, Fátimas, Serrano, Gatilho,etc., etc. desapareciam "como que por encantamento" sob o velho estrado de barrotes e ripas de madeira apodrecida que "TAPAVA" O BURACO (lembram-se?).
Desapareciam por lá, simplesmente, sem se darem conta do perigo daquela profunda dimensão.
Sítios "DA ALTA" com alguma história.
Lendo e Conversando assim deles falarei um dia. Prometo.

Abraços para todos

Tói da Dadinha

Anónimo disse...

É cova dos Ginetes. Netes era o nome abreviado que lhe dávamos.
Todo aquele sítio era conhecido como Ginetes.Ainda hoje há um olival contíguo que se chama dos Ginetes.
Eu já sou algo de velho e sempre ouvi os mais velhos dizerem que as pedrs do castelo tinham sido tiradas das covas dos Ginetes,do Belo e do Lucas.
A quando da "guerra" dos de cima contra os de baixo íamos à cova dos Ginetes Arranjar lanças,espadas,arcos e setas que guardávamos religiosamente no quintal do Manuel Magarreiro.