quarta-feira, 25 de maio de 2011

MEMÓRIAS DA INFÂNCIA

UMA HISTÓRIA DE AMOR

Outrora no Alandroal, e suponho eu, que noutras localidades, eram habituais grandes estadias de gentes do espectáculo, como circos e teatros. Chegavam a estar meses, e muitos criavam até raízes na terra. Lembro-me perfeitamente de uma companhia de teatro, que esteve longos meses a habitar nas casas onde funcionava a Casa do Povo e de um circo de nome DALOT, que prolongou a sua estadia por quase meio ano.
O ex-libris desse circo era o número onde um burro, depois de várias peripécias se fingia de morto e se fazia para gaudio da assistência o funeral do mesmo, e uma miudinha de dez anos que era a contorcionista da companhia.
Ora eu, com os meus oito aninhos, ainda mal acabado de entrar na escola primária, apaixonei-me profundamente pela artista circense. Paixão assolapada e digna de um Romeu, e como não era rapaz de me amedrontar, depois de muito matutar resolvi ir falar com o dono do circo, e solicitar autorização para namorar a dita.
Era o Dalot, o dono do circo e pai da artista, grande amante da pesca, onde consumia, na ribeira de Terena, os dias, …na mira de um robalo, carpa ou barbo que servisse para o sustento da família.
Decidi valentemente (tal era a paixão), abordar de “caras” o pai da pretendida e solicitar autorização para o namoro.
Sabendo ele, que na horta do Chico Garcias (onde passei a minha meninice) estava um bom canavial, com canas da índia, (material excelente para fazer canas de pesca), respondeu ao meu pedido de namoro nos seguintes termos “ trazes-me umas canas da índia, e eu deixo-te namorar com a minha filha”.
Dito e feito. O canavial já era, deixei uma para amostra e o resto em grande atado foi caminho da tenda do circo. Era o que o Dalot queria: de posse das canas, enfeixou - me uns tabefes e põe-te a andar senão ainda levas mais.
Mas não ficou por aqui. Quando deram que o autor da proeza havia sido eu, … bem, levei poucas.

Xico Manel

8 comentários:

Anónimo disse...

Chico a rapariga chegou a saber que gostavas dela?

Anónimo disse...

D. Francisco Tátá


Deixaste envolver-te até mesmo ao fim. Assim mesmo é que deve ser.
O senão desta cena, é que deitaste as canas antes dos foguetes.Ter-te-á faltado,a caminho do Circo, a sabedoria providencial de um Batata pelo meio?

De qualquer modo, é com muito agrado que te vejo agora na pele assumida de um Romeu alandroalense.
Fica para a tua história porque era mesmo o que te estava criativamente a faltar.E eu que não sabia.

Em aditamento,anoto que a minha Julieta era de Borba.Chamava-se completamente Dionisia Cristina Avó Cabacinho.Até no nome era original.

Mas já agora,há naquela minha desatinada paixão um,então, Novo Romeu (Ele saberá de quem estou a falar,j.r.) que se dançou com ela.
Atraente.Insinuante.Mastigando chocolate.
Impiedoso!Do Alandroal.

Ah,se o amor fosse justo que penas não me teria ele ainda hoje de pagar.

Ponto final.Porque estou quase e uma vez mais comovido.

Antonio Neves Berbem


PS: muitos anos depois encontrei a Zinita aqui num Bar em Lisboa.O desatino foi.Continuou.Só poderia ter sido o mesmo.

(Reenviar para j.r./ES)

Anónimo disse...

OBs.

Afinal levaste poucas ou muitas?
E aqui para nós, és capaz de dizer-nos que não terão sido mesmo bem dadas?

O que é que pensas que te fariam,por exemplo, os ciganos, se por acaso, te tivesses apaixonado por uma ciganita?

Pedias desculpa em Calé? Declaravas-te em Calé? Amavas em Calé? Beijavas em Calé? Fazias o teu número de Trapézio com o D. e o Burro distraído e morto a observarem-te?


Oh Chico, bem sabemos que o amor não mede caminhos,mas será que não mede as distâncias?...


ANB

Anónimo disse...

A inocência..., a primeira paixão..., trazem-nos estas ideias suicidas: falar com o pai da pequena (jamais)! O inevitável aconteceu..., ficaste debaixo de fogo cruzado.
Pelo gozo que me deu ler esta pequena grande "História de Amor", lindíssima, só de um grande apaixonado, envio-te um poema intitulado DEV, que bem podes enviar à pequena, caso ainda não lhe tenha acontecido o mesmo que ao doutor veterinário dos Açores amigo da Eveline.

DEV

A paixão que acontece
no fundo da minha alma,
ora finge que adormece,
ora parece que se acalma.

Foram os dias passando,
como a razão de viver,
e os dias fui contando
cada vez com mais querer.

Esta paixão anda comigo
até ao dia de morrer,
pois vivo sempre contigo
no íntimo do meu ser.

Como fumo que esvanece
deste fogo sem se ver,
dizem: quem nunca esquece
bem ama, sem nunca o ser!

Um abraço do AC

Anónimo disse...

O recado cifrado do Berbem foi recebido.
É necessário ter vivido aqueles tempos para o descodificar.

Aposto que essa nossa paixão pela Zinita não foi conhecida pela maior parte da malta.
E ainda bem.
Afinal, ficámos os dois a navios.

Mas lá que nos tocou, tocou.

Diz lá, agora que falas nesse assunto, e para eu arquivar definitivamente essa paixão adolescente, se ....

.... Quando a encontraste no bar, em Lisboa, ela mantinha aquela cor morena que nos fazia ficar desejando acariciá-la como se de veludo se tratasse ?
Passando a mão muito levemente !

E o rabo, mantinha-se alçado ?

E os peitinhos desafiantes ?

E os olhos .... os olhos .... sim, decerto conservavam aquele tom verde, que nem o verde da outra metade da lagoa das Sete Cidades consegue igualar !

Pois foi assim, amigo. Depois daquela beleza se ter mostrado em todo o seu esplendor, partiu p'ra outra e deixou dois marroquinos ainda a lamber as feridas, passados que são cerca de cinquenta anos.

Quanto ao Chico, estou d'acordo contigo: "apanhou as canas antes de deitar os foguetes" !

O outro

Anónimo disse...

OBs.

Naquele momento, em que a Vi,a miragem/Zinita,ainda tinha tudo o que agora Tu (j.r.) algo maquiavélico,tornaste a lembrar-me.

Eu sei.Tu dançavas,tu sussuravas,tu eras tudo levemente grandes levezas,E eu...era só dor,só distãncia,só sofrimento,só paixão.Achas bem?

Mas,diz-me,não acharás melhor que o último a rir tenha sido quem foi...Deus dormiu assim tão completamente tantas decadas?

Ainda assim quanto à ZINITA(olhos,corpo,sorriso,simpatia,envolvência,que miúda...) talvez,talvez tivesse agora, um tudo nada, a voz mais pastosa.Porventura mais uns quilitos.Mas quem é que os não tem? Quanto às maminhas (informo-te) continuavam lá.Vivas!Redondinhas!

E que importa agora tudo o resto?
Se todos nós sabemos que o amor é intemporal e não se mede nem pelo peso nem pela alturas.Como,aliás,Tu próprio, em tudo andas a testemunhar isso há decadas e com carteiros sempre à mão.

E dito isto,uma pergunta,mais uma, me ocorre.
A pergunta é louca.
Mas apetece-me mesmo fazê-la: imagina que a Z. mesmo que, em sonhos fosse, Nos dizia:seus árabes, querem os dois casar comigo?
Eu diria logo que sim.Imediatamente daria O Sim.Com o treino que tenho seria apenas a quarta vez. Mas que importa?

Por uma última vez, seria eu a dançar (se bem que mal) com Ela. E o j.r. a ver, a ver.E a minha avó Gertrudes/Chica,só diria, aí meu benjamim.
Venceste.
E eu,afinal, diria cá para os meus botões, tanto conta a primeira vitória.Como também pode contar o último triunfo.
Tudo conta.j.r.Um jovem beijo suave.Mas uma carícia, de todo em todo, fortíssima e inesperada não conta mais?
Ponto.

As melhores saudações


ANB

Unknown disse...

Ou sou neta do Artur Dalot, nessa altura só podia a minha mãe, o meu avô só teve duas filhas a outra é bem mais nova que a minha mãe, adorei ler estas memórias de vida. Beijinhos

Manel Augusto disse...

Puxa vida !!! E eu, na minha ingénua credibilidade e inocência, pensava que só a mim, calhavam romances destes !!! Não, não fui como o CHICO,já que, de canas não ofereci, até não ofereci nada....Mas tb me ficou a arder uma não correspondida paixão, já passava dos meus 10 anitos....E se ELA , era bonita !! talvez dois anos mais nova do que eu...Creio que ainda é viva e provávelmente nunca soube do meu sentimento, pois que, nunca lho disse....Agastado com a vida, olhando para os horizontes curtos, que por aqui, nesta charneca Alentejana, nos eram apresentados, zarpei para a VIDA e fui parar aos AÇORES....Aí, deu-me outra paixão, mais assolapada na medida em que,já mais maduro, pretendia outros desígnios !!! Neste caso, ouve reciprocidade...Sem problemas com o Pai (João CACHALOTE ) alentejano de Sines, tava tudo entre a mesma gente !!! Só que, a ocasião perdeu-se por via de uma nomeação para a 3ª Região Aérea....Pronto , perdi-lhe o rasto, anos mais tarde, soube que tinha casado e vive em S.MIGUEL.....Ora e eu, para não ficar a ver navios, tornei a apaixonar-me (a terceira é de vez), e foi para o resto da VIDA.....Portanto, ainda bem que nos ficaram algumas memórias, não sendo assim, teriamos vivido uma VIDA vazia, sem amargos e doces,sem certo ou incerto, e é nessas nuances que a VIDA tem valor e sentido....Aquele abraço e bebam um copo á saúde delas TODAS ....HOMERO