UMA HISTÓRIA DE AMOR
Outrora no Alandroal, e suponho eu, que noutras localidades, eram habituais grandes estadias de gentes do espectáculo, como circos e teatros. Chegavam a estar meses, e muitos criavam até raízes na terra. Lembro-me perfeitamente de uma companhia de teatro, que esteve longos meses a habitar nas casas onde funcionava a Casa do Povo e de um circo de nome DALOT, que prolongou a sua estadia por quase meio ano.
O ex-libris desse circo era o número onde um burro, depois de várias peripécias se fingia de morto e se fazia para gaudio da assistência o funeral do mesmo, e uma miudinha de dez anos que era a contorcionista da companhia.
Ora eu, com os meus oito aninhos, ainda mal acabado de entrar na escola primária, apaixonei-me profundamente pela artista circense. Paixão assolapada e digna de um Romeu, e como não era rapaz de me amedrontar, depois de muito matutar resolvi ir falar com o dono do circo, e solicitar autorização para namorar a dita.
Era o Dalot, o dono do circo e pai da artista, grande amante da pesca, onde consumia, na ribeira de Terena, os dias, …na mira de um robalo, carpa ou barbo que servisse para o sustento da família.
Decidi valentemente (tal era a paixão), abordar de “caras” o pai da pretendida e solicitar autorização para o namoro.
Sabendo ele, que na horta do Chico Garcias (onde passei a minha meninice) estava um bom canavial, com canas da índia, (material excelente para fazer canas de pesca), respondeu ao meu pedido de namoro nos seguintes termos “ trazes-me umas canas da índia, e eu deixo-te namorar com a minha filha”.
Dito e feito. O canavial já era, deixei uma para amostra e o resto em grande atado foi caminho da tenda do circo. Era o que o Dalot queria: de posse das canas, enfeixou - me uns tabefes e põe-te a andar senão ainda levas mais.
Mas não ficou por aqui. Quando deram que o autor da proeza havia sido eu, … bem, levei poucas.
Xico Manel
8 comentários:
Chico a rapariga chegou a saber que gostavas dela?
D. Francisco Tátá
Deixaste envolver-te até mesmo ao fim. Assim mesmo é que deve ser.
O senão desta cena, é que deitaste as canas antes dos foguetes.Ter-te-á faltado,a caminho do Circo, a sabedoria providencial de um Batata pelo meio?
De qualquer modo, é com muito agrado que te vejo agora na pele assumida de um Romeu alandroalense.
Fica para a tua história porque era mesmo o que te estava criativamente a faltar.E eu que não sabia.
Em aditamento,anoto que a minha Julieta era de Borba.Chamava-se completamente Dionisia Cristina Avó Cabacinho.Até no nome era original.
Mas já agora,há naquela minha desatinada paixão um,então, Novo Romeu (Ele saberá de quem estou a falar,j.r.) que se dançou com ela.
Atraente.Insinuante.Mastigando chocolate.
Impiedoso!Do Alandroal.
Ah,se o amor fosse justo que penas não me teria ele ainda hoje de pagar.
Ponto final.Porque estou quase e uma vez mais comovido.
Antonio Neves Berbem
PS: muitos anos depois encontrei a Zinita aqui num Bar em Lisboa.O desatino foi.Continuou.Só poderia ter sido o mesmo.
(Reenviar para j.r./ES)
OBs.
Afinal levaste poucas ou muitas?
E aqui para nós, és capaz de dizer-nos que não terão sido mesmo bem dadas?
O que é que pensas que te fariam,por exemplo, os ciganos, se por acaso, te tivesses apaixonado por uma ciganita?
Pedias desculpa em Calé? Declaravas-te em Calé? Amavas em Calé? Beijavas em Calé? Fazias o teu número de Trapézio com o D. e o Burro distraído e morto a observarem-te?
Oh Chico, bem sabemos que o amor não mede caminhos,mas será que não mede as distâncias?...
ANB
A inocência..., a primeira paixão..., trazem-nos estas ideias suicidas: falar com o pai da pequena (jamais)! O inevitável aconteceu..., ficaste debaixo de fogo cruzado.
Pelo gozo que me deu ler esta pequena grande "História de Amor", lindíssima, só de um grande apaixonado, envio-te um poema intitulado DEV, que bem podes enviar à pequena, caso ainda não lhe tenha acontecido o mesmo que ao doutor veterinário dos Açores amigo da Eveline.
DEV
A paixão que acontece
no fundo da minha alma,
ora finge que adormece,
ora parece que se acalma.
Foram os dias passando,
como a razão de viver,
e os dias fui contando
cada vez com mais querer.
Esta paixão anda comigo
até ao dia de morrer,
pois vivo sempre contigo
no íntimo do meu ser.
…
Como fumo que esvanece
deste fogo sem se ver,
dizem: quem nunca esquece
bem ama, sem nunca o ser!
Um abraço do AC
O recado cifrado do Berbem foi recebido.
É necessário ter vivido aqueles tempos para o descodificar.
Aposto que essa nossa paixão pela Zinita não foi conhecida pela maior parte da malta.
E ainda bem.
Afinal, ficámos os dois a navios.
Mas lá que nos tocou, tocou.
Diz lá, agora que falas nesse assunto, e para eu arquivar definitivamente essa paixão adolescente, se ....
.... Quando a encontraste no bar, em Lisboa, ela mantinha aquela cor morena que nos fazia ficar desejando acariciá-la como se de veludo se tratasse ?
Passando a mão muito levemente !
E o rabo, mantinha-se alçado ?
E os peitinhos desafiantes ?
E os olhos .... os olhos .... sim, decerto conservavam aquele tom verde, que nem o verde da outra metade da lagoa das Sete Cidades consegue igualar !
Pois foi assim, amigo. Depois daquela beleza se ter mostrado em todo o seu esplendor, partiu p'ra outra e deixou dois marroquinos ainda a lamber as feridas, passados que são cerca de cinquenta anos.
Quanto ao Chico, estou d'acordo contigo: "apanhou as canas antes de deitar os foguetes" !
O outro
OBs.
Naquele momento, em que a Vi,a miragem/Zinita,ainda tinha tudo o que agora Tu (j.r.) algo maquiavélico,tornaste a lembrar-me.
Eu sei.Tu dançavas,tu sussuravas,tu eras tudo levemente grandes levezas,E eu...era só dor,só distãncia,só sofrimento,só paixão.Achas bem?
Mas,diz-me,não acharás melhor que o último a rir tenha sido quem foi...Deus dormiu assim tão completamente tantas decadas?
Ainda assim quanto à ZINITA(olhos,corpo,sorriso,simpatia,envolvência,que miúda...) talvez,talvez tivesse agora, um tudo nada, a voz mais pastosa.Porventura mais uns quilitos.Mas quem é que os não tem? Quanto às maminhas (informo-te) continuavam lá.Vivas!Redondinhas!
E que importa agora tudo o resto?
Se todos nós sabemos que o amor é intemporal e não se mede nem pelo peso nem pela alturas.Como,aliás,Tu próprio, em tudo andas a testemunhar isso há decadas e com carteiros sempre à mão.
E dito isto,uma pergunta,mais uma, me ocorre.
A pergunta é louca.
Mas apetece-me mesmo fazê-la: imagina que a Z. mesmo que, em sonhos fosse, Nos dizia:seus árabes, querem os dois casar comigo?
Eu diria logo que sim.Imediatamente daria O Sim.Com o treino que tenho seria apenas a quarta vez. Mas que importa?
Por uma última vez, seria eu a dançar (se bem que mal) com Ela. E o j.r. a ver, a ver.E a minha avó Gertrudes/Chica,só diria, aí meu benjamim.
Venceste.
E eu,afinal, diria cá para os meus botões, tanto conta a primeira vitória.Como também pode contar o último triunfo.
Tudo conta.j.r.Um jovem beijo suave.Mas uma carícia, de todo em todo, fortíssima e inesperada não conta mais?
Ponto.
As melhores saudações
ANB
Ou sou neta do Artur Dalot, nessa altura só podia a minha mãe, o meu avô só teve duas filhas a outra é bem mais nova que a minha mãe, adorei ler estas memórias de vida. Beijinhos
Puxa vida !!! E eu, na minha ingénua credibilidade e inocência, pensava que só a mim, calhavam romances destes !!! Não, não fui como o CHICO,já que, de canas não ofereci, até não ofereci nada....Mas tb me ficou a arder uma não correspondida paixão, já passava dos meus 10 anitos....E se ELA , era bonita !! talvez dois anos mais nova do que eu...Creio que ainda é viva e provávelmente nunca soube do meu sentimento, pois que, nunca lho disse....Agastado com a vida, olhando para os horizontes curtos, que por aqui, nesta charneca Alentejana, nos eram apresentados, zarpei para a VIDA e fui parar aos AÇORES....Aí, deu-me outra paixão, mais assolapada na medida em que,já mais maduro, pretendia outros desígnios !!! Neste caso, ouve reciprocidade...Sem problemas com o Pai (João CACHALOTE ) alentejano de Sines, tava tudo entre a mesma gente !!! Só que, a ocasião perdeu-se por via de uma nomeação para a 3ª Região Aérea....Pronto , perdi-lhe o rasto, anos mais tarde, soube que tinha casado e vive em S.MIGUEL.....Ora e eu, para não ficar a ver navios, tornei a apaixonar-me (a terceira é de vez), e foi para o resto da VIDA.....Portanto, ainda bem que nos ficaram algumas memórias, não sendo assim, teriamos vivido uma VIDA vazia, sem amargos e doces,sem certo ou incerto, e é nessas nuances que a VIDA tem valor e sentido....Aquele abraço e bebam um copo á saúde delas TODAS ....HOMERO
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