RELACIONADA COM OS “PRAZERES”
Ao ler a história ontem aqui publicada da autoria do meu amigo Tói da Dadinha, acudiram-me de imediato várias situações vividas por altura da Festa de Nossa Senhora da Boa Nova.
Porque recordar é viver aqui lhes conto mais esta:
Tudo por culpa da janela ser alta e do carro do Seabra
A “ coisa” passou-se mais ou menos por volta de 1957 , 58.
Andava eu “ensigueirado” num namoro (???) com uma espigadota moçoila lá da terra.
O meu pai, na altura trabalhava na Barranca e só vinha “à roupa” nos fins-de-semana.
Mas por altura dos Prazeres as coisas invertiam-se e era minha mãe que logo na Sábado apanhava “a carreira” das seis e meia da tarde e se marchava para Terena, onde era esperada pelo meu pai e pernoitavam na Barranca.
Nesse ano e por motivos óbvios eu teimei em ficar pelo Alandroal, e só comparecer na Segunda-Feira, viajando numa das muitas viagens que o Cândido Belo proporcionava entre o Alandroal e Terena, “assegurando o regular transporte de todos os forasteiros entre as duas localidades” (era assim que vinha nos programas).
Convém dizer que minha mãe mostrou logo grande relutância nesta minha decisão, o que não obstou a que antes de partir para Terena não me deixasse a “roupinha” da Festa toda preparada, desde as calças ao casaco, passando pela camisa e com a ordem de só a vestir antes de partir na Segunda-feira para Terena.
“Tá bem dêxa” – foi só ela virar costas. Vestimenta da Festa envergada e vá, de mal a noite cair, ir “namorar” conforme previamente combinado.
Nessa altura… o namoro era à janela (e vá lá…vá lá). Mas a janela era alta (ficava pelo menos a 2 metros de altura) o que “nã dava jêto nenhum”.
Mas um pouco mais acima estava “estacionado” o carro de mula do Inácio Seabra. E se o carro se deslocasse até por debaixo da janela, de cima do mesmo eu já chegava lá.
Até que não era difícil (era a descer). Se bem o pensei…melhor o fiz. Foi só pegar nas varais e deslocá-lo.
Colocado no sítio certo agora era só subir pelas rodas.
Mas o homem tinha untado, e bem, o eixo da roda (talvez para se deslocar melhor logo de manhã até aos Prazeres) e azar dos azares ao subir na roda a falta de jeito foi tanta que a perna das calças roçou (e bem) pelo eixo, deixando uma nódoa de “unto” em toda a extensão das calças. Ficaram uma desgraça.
A vontade de namoro passou logo.
E depois… conseguia eu lá colocar o carro no local onde estava? É que a descer todos os Santos ajudam …mas a subir "tá quieto".
Por ali ficou. Um pouco mais abaixo claro!
Foi todo o Domingo a esfregar as calças para tentar tirar as nódoas. Tanto esfreguei que as rasguei no joelho.
E lá fui eu na Segunda Feira de Prazeres de calças rotas no joelho caminho da Festa.
Nem a Senhora da Boa Nova me valeu… valentes "orelhadas" eu levei....
Chico Manel
8 comentários:
bem feito. Fartei-me de rir!
Obs
É um lugar comum,dizer-se desde os gregos, que a sorte protege os audazes, dando portanto a impressão que merecias melhor sorte. Ou menos azar.Uma vez que se tratava de mostrar "À menina que estava à janela",o quanto inventivo,apaixonado e corajoso serias eternamente para aquele novo e tenríssimo amor.
As coisas correram mal,havia a pressa dos Prazeres,houve uma certa precipitação,o eixo estava demasiado oleado e,se calhar, não deves ter reparado que o Inácio Seabra sempre foi muito esperto...
Assim sendo, acho que tiveste aquilo que mereceste,os deuses do amor não dormem,a Menina lá no fundo dela mesmo, deve também ter-se rido.
E, tu, Chico, acho que confundiste um certo desejo carnal com a ideia mais romântica de namorares, à pura forma antiga.
À distãncia e tendo a Lua como única testemunha.
Sem tocar,sem macular,sem manipular,sem apalpar,sem estragar e sem excitar,digamos,
todos os ideais que um namoro puro naquela idade ainda deve manter.
Em sintese,aquela subida aos extremos dos pecados da carne teve o justo castigo dos deuses.
Se pensares bem,foi tão só o que te aconteceu.Por isso,a carga de orelhadas, foi a paga e a coisa mais justa que poderia ter-te acontecido.
Mesmo assim, parece-me que tiveste sorte.Imagina que a Menina te caía subitamente no carro?...
Sim,o que é que farias? O que faria Ela de ti? E os pais? A Arca da Fonte que diria?
Já viste bem,Chico?
Com as melhores saudações
Antonio Neves Berbem
Estou contente por terem contado e comentado com as vossas histórias a Festa dos Prazeres.
Não irei contar história nenhuma, mas o que constatei, hoje Segunda-Feira de Prazeres. Algumas pessoas ficaram indignadas com o desmantelamento do ninho da cegonha. O ninho está secularmente ligado ao Santuário. As cegonhas estão ligadas ao nascimento humano. Quem não se recorda do desenho de uma cegonha trazendo um bébé no bico? Quem não observou o seu cantar diferente do de outras aves? A sua elegância quando anda? E o seu suave voar?
Este ninho e este casal de cegonhas era um atractivo natural da Festa, que sem ele nos dará menos prazer. A confraria da Boa Nova que se reveja na suavidade e na transparência e brancura e transparência desta elegante ave.
Helder Salgado
02-05-2011
Li a tua fantástica aventura vendo o filme que montaste, tal é a veracidade do que relatas no mais ínfimo pormenor.
Por essa altura terias 12 anos... e já com ganas de trepar!
Tenho como certo que o Seabra quis pôr à prova a tua imaginação namorisqueira. E também sou levado a crer que rompeste as calças, mas não o namoro(s), nesses tempos uma actividade de ensaio sem tradução para os dias de hoje.
A tua trepadela, em parte muito bem sucedida, pois conseguiste pôr o carro no sítio(mesmo sendo a descer), criou em mim a convicção de que estamos a juntar matéria para, um dia destes, escrevermos um título: "Histórias da minha terra - Alandroal". E desde já fica o convite para o Prof. Victor Rosa e João Cardoso fazerem as ilustrações. Um sucesso..., certamente. Ao contrário da política, a arte une os artistas!
Grande abraço do LF
Chico, ainda aqui volto pela notícia que o Helder Salgado nos dá sobre o ninho de cegonha que, pelos vistos, estava junto à torre sineira da ermida. Não tem explicação a falta de sensibilidade que deita raízes por toda a parte. E eu que gostava de ter um ninho de cegonha no telhado de minha casa.
Vou muitas vezes visitar a ermida..., não na ocasião dos festejos, e a amigos de outra regiões do país a tenho dado a conhecer. Também acontece que no TV regiões, há uns anos, me pediram para gravar um pequeno comentário sobre a ermida fortaleza. Aquele ninho esteve sempre presente.
Aqui deixo expressa a minha indignação pelo seu abate.
LF
O Ninho da Cegonha.
A Confraria da Boa Nova numa arrojada ação de desprezo pela natureza e falta de respeito pelos que de verdade a amam, numa infeliz demonstração do "eu quero posso e mando", tomou uma iniciativa que demonstra bem a falta de sensibilidade dos seus componentes, que não merecem outra coisa senão repulsa pelo ato irrefletido que cometeram.
A Confraria da Boa Nova destruiu o emblemático e secular ninho de cegonha, que a Capela ostentava para gáudio de quantos, ao longo de muitas gerações ali se dirigiram em peregrinação ou simples romaria.
A Capela ficou mais pobre.
E uma certa turbação,
Oprime o meu coração
Por este ato menos nobre.
Coitada, pobre cegonha;
Não se ouve matraquear.
Mas o sino ainda sonha
Que ela um dia vai voltar!
Valia mais que tivesse apresentado atempadamente as contas do ano passado. Só as apresentaram no dia da reunião para a aprovação das mesmas e mesmo assim com tanto tempo para as fazerem estavam erradas. Coitada da senhora da Boa Nova.
AMIGO CHICO MANEL,
podes querer que no fim, até tiveste sorte!...
Por norma essas cambalhotas podem sair caras,mas parece que tudo correu pelo melhor...
É muiot preferivel rasgar as calças, do que outra coisa, credo SENHOR!?
Considero que tiveste uma bela saída á D.JUAN, portanto a tua face de macho em nada ficou "UNTADA", acima de tudo temos que saber inventar ou desenrascar!!!
Continua a escrever e não te esqueças, com a tua idade agora é um pouco perigoso, puxar o carro .
Um abraço,
Manel Augusto
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