Continuo a ensinar mas... sob protesto
(Foto: São Carneiro)
Reconheço que uma mudança para melhor pode significar algum sacrifício. Mas tenho de desabafar aqui uma coisa que me anda a apertar a goela há uns tempos. Enquanto a Escola Secundária estiver em obras, sinto-me uma ovelha no redil assim que entro naquele conjunto de monoblocos, nome pomposo para uns vulgares contentores. Porquê? Os pais e encarregados de educação que já lá estiveram sabem do que estou a falar: o calor nas salas é insuportável, o bar é exíguo, a tenda-polivalente funciona só de Verão, não há condições para a prática de desporto, a insonorização não existe e os alunos podem aprender Inglês, História, Francês, Geografia, tudo ao mesmo tempo, devido à proximidade dos monoblocos e porque a estreiteza dos corredores que os separam acaba por tornar o espaço de ensino-aprendizagem numa espécie de pavilhão multi-usos onde se conversa, canta, brinca, estuda, discute e se dá aulas. E onde diariamente se pode levar com uma porta no trombil se não tivermos o devido cuidado.
A culpa não é da direcção da escola, a culpa não é do corpo docente, a culpa não é dos funcionários nem dos estudantes. Todos nos esforçamos para a coisa deslizar o melhor possível. Na verdade, queremos uma escola nova, moderna, com todas as condições que a anterior não tinha e que este “acampamento” também está muito longe de ter. Estávamos dispostos a alguns sacrifícios, mas estes estão a ser demasiados. “E tinhas alguma alternativa, ó chico-esperto?”, perguntará um dia o Ministério, se chegar a ler este desabafo.Eu ter… tinha. Mas não sei se esta solução (nem nunca irei saber) seria viável. Mas aqui vai: construir a nova escola noutro espaço e ir mantendo a antiga, o melhor possível, até à mudança. Se aguentou trinta e muitos anos sem cair, não era agora que ia desabar de um dia para o outro. Com tantos terrenos para estádios de futebol, auto-estradas, campos-de-nada-para-nada, e mánasêquê, não haveria um espaço alternativo para a nova Escola Secundária de Montemor-o-Novo? O Governo Central não poderia ter entrado em negociações com a autarquia ou com proprietários privados (que eu disso não entendo muito)? Provavelmente, não.
Sei que não somos a única classe profissional a viver esta experiência. Por exemplo, os funcionários do Registo Civil e do Registo Comercial, sediados no Tribunal da cidade, também estão há largos meses em contentores e em condições que não lembraria ao diabo. Acreditem, caros leitores, a minha pica (como se diz agora) pelo ensino vai-se toda logo que entro naquele portão. Mas os alunos são, eles sim, os menos responsáveis de todos. E, por isso, disfarço e finjo (não sei durante quanto tempo vou aguentar mais) que está tudo bem.
Resta-me uma esperança. Se a moda dos contentores pega e com o país a precisar de reestruturação, penso que, por este andar, vai Portugal inteiro para dentro de contentores, enquanto aguardamos que se construa uma nova nação. De raiz. É que, mais uma vez, os políticos andam a ver tudo ao contrário: não é este velho país que precisa de escolas novas. As escolas velhas é que precisam de um país novo.
Pronto.
É pá! Chiça!!
(Eu e o Manuel Filipe Vieira - o único que se disponibilizou para minha testemunha de defesa, caso o processo avance. Tínhamos acabado de chegar ao fim da caminhada!)
É, pá! Palavra de honra que não sei como começar! Frustrado. É como me sinto. Porque continuo sem saber como hei-de expressar a minha raiva e o meu desgosto por ter sido achincalhado durante anos pelas Maiorias e pelas Oposições quem têm chupado Portugal até ao tutano, sentadas naquela Assembleia da República, onde se têm dito as maiores barbaridades e aprovado as leis mais absurdas e oportunistas, cortando o pio a quem vê a coisa de outra forma.
Burro. Tenho-me sentido burro, porque deixei de perceber o que querem os políticos de mim, da minha família, da minha comunidade, do meu país. Desconfio deles quando falam verdade. Não sei quando omitem a verdade. Ignoro as vezes que filosofam um chorrilho de mentiradas, porque as verdades são demasiado duras de se dizerem e porque esgotaram as soluções para os problemas que criaram e que nos permitiram, a nós cidadãos, ajudar a criar. E é devido a este meu estado de descrença, e por ter concluído que, infelizmente, muitas coisas que a gente aqui disse acabaram por ser verdade, que me apetecia fazer greve à escrita. Greve à opinião. Greve à participação cívica através desta coluna que, pelos vistos, não tem servido para nada.
Termino para informar os meus 9 leitores (10 - desculpa, Leonel) que estou tão deprimido que nem apetece fazer piadas fáceis com a minha fofa. E nem vou fazê-lo tão cedo. Pelo menos até o processo que ela me levantou e que já tem nome na imprensa (O Caso da Ecopista, da Fofa e das Amigas Caminhantes) estar resolvido em tribunal. Eu até já fui fazer uma caminhada, a conselho do meu advogado. Pode ser que me sirva de atenuante.
J.L.N.
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