Sócrates, sim ou não? - Eis a fria questão
Martim Borges de FreitaS
Sexta, 13 Maio 2011 08:53
Vou hoje fazer o que muitos comentadores costumam fazer: criar e comentar possíveis cenários. Neste caso, possíveis cenários governativos pós-eleitorais. Ou seja, vou hoje dar a minha opinião, a menos de um mês das eleições legislativas, sobre quais as mais prováveis possibilidades que ainda restam para a constituição do governo de Portugal saído de 5 de Junho e, ao mesmo tempo, o que vai, afinal, determinar, a limine e no limite, o voto dos portugueses.
Aquando da demissão do governo e da dissolução da Assembleia da República, pelo menos teoricamente, todos os cenários governativos pós-5 de Junho eram possíveis. O primeiro de todos eles seria o de um governo maioritário de um só partido, o que nos dava logo cinco possibilidades para a constituição do governo. Acontece que não é realista a existência nem de um governo maioritário do Bloco de Esquerda sozinho, nem do PCP sozinho nem do CDS sozinho. Só não excluo o PS nem o PSD, porque já tiveram maiorias absolutas sozinhos, embora seja muito improvável que qualquer deles venha, agora, a obtê-la.
Desde que o processo eleitoral se iniciou, foi ficando claro que, após 5 de Junho, vai ter de existir um governo maioritário. Todos os agentes políticos o reclamaram, todos se comprometeram a concretizá-lo. Dou, portanto, por adquirido que, das eleições de 5 de Junho, sairá um governo maioritário. Vamos, então, ver qual será esse governo ou, melhor dizendo, quais são as possiblidades que ainda restam e relativamente às quais os portugueses se deverão pronunciar.
Comecemos pela esquerda. Quer o Bloco de Esquerda quer o PCP, se autoexcluíram de qualquer solução governativa. Como qualquer solução governativa com os dois ou com qualquer destes partidos só seria possível com o PS, podemos concluir que só se o PS ganhasse as eleições e com maioria relativa é que qualquer daqueles partidos poderia ser chamado, pelo PS, a governar. Todavia, dada a sua autoexclusão, já para não falar da histórica rivalidade entre o PCP e o PS, mais antiga, e entre o PS e o Bloco de Esquerda, mais recente, o mais provável é que, das eleições de 5 de Junho, não saia um governo nem PS-PCP nem PS-BE nem PS-PCP-BE. Por conseguinte, PCP e Bloco de Esquerda não farão parte do próximo governo.
Por outro lado, também o CDS e o PSD se autoexcluíram de formar um governo com o PS de Sócrates, repito, com o PS de Sócrates. O que tem, desde logo, a implicação directa de ficarmos a saber que se o PS ganhar as eleições, nem Portas nem Passos Coelho farão parte do futuro Governo. Passos Coelho porque, perdendo as eleições, se demitirá imediatamente de líder do PSD e Paulo Portas porque, não se demitindo mesmo que Sócrates volte a ganhar ou que o CDS tenha um menos bom resultado, preferirá ficar de fora. Portanto, se o PS ganhar e não obtiver maioria absoluta, o mais provável é que haja um governo de Bloco Central, PS-PSD, em que o líder do PSD já será outro. Qualquer outro cenário, nomeadamente o de poder existir um governo de maioria PSD-CDS, com o PS como partido mais votado, parece-me ser pura fantasia.
À direita, temos os cenários que decorrerão de uma vitória do PSD com ou sem maioria absoluta. Se o PSD vencer com maioria absoluta, o PSD chamará o CDS para formar Governo e, eventuamente, o PS, já sem Sócrates, que, perdendo, se demitirá na noite das eleições. Ou seja, com maioria absoluta do PSD, poderá existir um Governo PSD sozinho, um governo PSD-CDS ou um governo PSD-PS-CDS. Se o PSD ganhar com maioria relativa, já não existirá um governo do PSD sozinho, mas mantêm-se os cenários de um governo PSD-CDS e PSD-PS-CDS, em que o líder do PS já não será Sócrates. Como acho que se o PSD ganhar com maioria absoluta nem o CDS nem o PS deverão fazer parte do governo, e como acho que se o PSD ganhar com maioria relativa o PS também não vai querer fazer parte do governo, em caso de vitória do PSD vão restar apenas dois cenários: o de um governo PSD sozinho com maioria absoluta ou o de um governo PSD-CDS.
Contas feitas, e dando de barato que, das próximas eleições legislativas de 5 de Junho, não sairá uma maioria de um só partido, o mais provável é virmos a ter um governo de Bloco Central, se o PS ganhar as eleições, ou um governo PSD-CDS, se o PSD ganhar as eleições. Isto, claro, se eles, os políticos, não derem o dito por não dito. Por conseguinte, se todos mantiverem a palavra, o PSD fará sempre parte do próximo governo. Ficará, apenas, por saber se o Primeiro-Ministro será Pedro Passos Coelho ou José Sócrates. E a menos que as sondagens comecem a evidenciar um claro vencedor, o que não é de excluir, a questão determinante para os portugueses vai ser a de saber qual a utilidade do seu voto: se vai ser útil para manter Sócrates ou se vai ser útil para correr com Sócrates. A contituição prévia de uma nova AD, teria, no entanto, tornado as coisas diferentes.
Lisboa, 12 de Maio de 2011
Martim Borges de Freitas
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