Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
A busca das diferenças e a ocultação da alternativa
Eduardo Luciano
Quinta, 12 Maio 2011 09:12
Desde que o governo apresentou a sua demissão e particularmente desde que PS, PSD e CDS ficaram amarrados ao mesmo programa de governo, que a lista de comentadores que passam pela televisão tem feito um enorme esforço por encontrar diferenças entre um governo liderado pelo PS e um governo liderado pelo PSD.
São inúmeros os programas de análise e solicitações de comentários a gente alinhada com uns e com outros para justificarem a opção de voto num dos dois partidos.
Entretêm-se a discutir os efeitos da alternância e ocultam quem defende políticas alternativas.
Lógico seria colocar em pé de igualdade e em debate propostas verdadeiramente alternativas em vez da análise desinteressante das minudências que separam PS, PSD e CDS.
Mas quem manda prefere ouvir Eduardo Catroga repetir as mesmas receitas que nos trouxeram até aqui, por oposição a Sócrates e Teixeira de Santos que defendem exactamente o mesmo.
O interesse jornalístico desta opção é naturalmente reduzido, mas o interesse político dos proprietários dos órgãos de comunicação social é demasiado importante para ceder a esse luxo do interesse público.
Escrevo esta crónica de madrugada e com a televisão sintonizada num canal de notícias.
É impressionante a quantidade de figuras e figurões ligados à “troika” que nos tem governado nos últimos 35 anos que aparece a dar a sua opinião e a ditar a sua sentença.
Tirando um pequeno excerto de uma intervenção do secretário-geral do PCP, sempre com um grande plano sobre o cidadão mais idoso presente na sala, tudo vai no mesmo sentido.
Nas ruas sente-se o reflexo desta concertação, com os cidadãos a manifestar o seu desânimo perante a suposta ausência de alternativas.
Digo suposta porque, por muito que a ocultem, existe alternativa ao programa comum de governo de PS, PSD e CDS.
A CDU defende a renegociação da dívida, o reforço do investimento público, o aproveitamento integrado dos recursos naturais, uma forte aposta nas micro, pequenas e médias empresas, a reconstituição de um forte sector empresarial do Estado, uma intransigente defesa dos direitos laborais e sociais, o aumento de salários e pensões, uma política fiscal mais justa que alivie a tributação sobre o trabalho e aumente a tributação sobre os lucros dos grandes grupos económicos.
Que interessante seria ver, de forma equilibrada, analistas comprometidos com esta soluções a debaterem com os que defendem as soluções das inevitabilidades e dos caminhos únicos que levam sempre ao mesmo sítio.
Mas o que temos é gente a discutir quem é mais eficaz na execução do mesmo programa, quem é mais capaz de levar a bom porto as mesmas opções políticas.
Buscar as diferenças onde elas não existem parece ser mais interessante do que confrontar alternativas.
Assim garante-se que o resultado é sempre o mesmo. Ganhe um ou ganhe o outro, governem sozinhos ou acompanhados um pelo outro e pela sempre disponível muleta do CDS.
Até parece que estou a descrever um jogo viciado. Mas não estou. Cada votante é dono do seu voto e se todos os que anseiam pela mudança forem consequentes isto muda mesmo.
Até para a semana… quem sabe
Eduardo Luciano
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