Os Empatas
Carlos Sezões
Quarta, 11 Maio 2011 10:11
Em duas ou três semanas, um conjunto de técnicos do FMI, BCE e Comissão Europeia construíram, não apenas um programa de ajuda financeira, mas todo um projecto de governo para Portugal para os próximos 3 anos.
Neste vasto conjunto de medidas que vai desde a fiscalidade à justiça, da economia à administração do território, não existe uma única que não tenha sido durante a última década, proposta por analistas, comentadores, economistas ou políticos da nossa praça. Conclusão: teremos de fazer coisas certas num período curto, em concreto fazer em 3 anos o que poderíamos e deveríamos ter feito em 15. O corolário lógico desta conclusão é que não houve da parte de quem esteve no poder a vontade ou a coragem para tomar decisões, responsabilizar-se por elas e levar até ao fim as reformas que se exigiam.
Portanto, na minha óptica, tivemos, nos lugares cimeiros dos últimos governos de Portugal os chamados “empatas”, aqueles que, de uma forma simples, não fazem nem deixam fazer. O empata é talvez a espécie mais comum na política portuguesa. Não é guiado por uma visão de longo prazo das questões, nem se preocupa muito com diagnósticos do passado ou projecções para o futuro. Está, acima de tudo, preocupado com a gestão do presente, com os seus interesses e os do seu partido, em não causar ondas ou turbulência que venham perturbar o seu poder. Não reforma, não toma decisões, empurra com a barriga, atira dinheiro para cima dos problemas na esperança que eles desapareçam. Está sempre atento às corporações de interesses, teme o seu poder e não faz nada para as afrontar. É um verdadeiro conservador, no sentido pior do termo. Os seus métodos também são conhecidos: criar grupos de trabalho para empatar decisões, produzir legislação ou regulamentação que depois não tem consequências, anunciar vontades e decisões que depois ficam a marinar e são esquecidas no tempo. É vulgar encontrar esta espécie nos lugares de ministro, secretário de Estado, director geral ou presidente de qualquer instituto público.
Como facilmente se compreende, não nos podemos dar ao luxo de ter, nos lugares mais importantes do nosso governo ou da nossa administração pública, pessoas com este perfil. Precisamos, na próxima década, de pessoas capazes, com conhecimento das matérias e bom senso na gestão, com coragem e liderança para fazer avançar as decisões que Portugal necessita.
Carlos Sezões
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