sexta-feira, 6 de maio de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/

Um combate do nosso tempo
Martim Borges de Freitas

Sexta, 06 Maio 2011 09:09
O Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, anunciou no domingo à noite que o líder da Al-Qaeda fora morto no Paquistão durante uma operação militar concretizada por serviços especiais norte-americanos. O sucessor de George W. Bush na Casa Branca acabou assim por fazer o que este, afinal, havia anunciado que os Estados Unidos da América iriam fazer. Se tivesse sido Bush a capturá-lo e da forma como foi capturado, ter-se-ia levantado um coro muitíssimo maior de contundentes críticas ao método utilizado. Nesta hora de rigozijo, é bom recordarmos o mal que Bin Laden causou ao mundo, não apenas nos atentados de 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, como em todos os outros, onde incluo os de 11 de Março de 2004, em Madrid.
Com a morte de Bin Laden não acaba nem o terrorismo nem a ameaça do terrorismo. Erradicar o terrorismo como ameaça global continuará a ser um objectivo a perseguir. O sentimento de terror, ao contrário do multifacetado conceito de terrorismo, é um sentimento que não oferece dúvidas. E embora até no Ocidente haja quem defina terrorismo de maneiras diferentes, a verdade é que, hoje, felizmente, o conceito de terrorismo parece ser – e é - muito mais consensual. Por isso mesmo, na União Europeia, como nos Estados Unidos – mas, sobretudo, nos Estados Unidos – os cidadãos dispuseram-se a abdicar de parte da sua liberdade individual em favor da segurança. Da sua segurança e da segurança de todos, da segurança comum. Hoje, somos muito mais controlados do que éramos antes dos atentados de 11 de Setembro de 2001. O paradoxo é que, apesar disso, foram precisos quase dez anos para encontrar Bin Laden. Mas também ninguém tinha grandes dúvidas de que mais cedo ou mais tarde os Estados Unidos da América haveriam de o encontrar...
Por cá, na União Europeia, vejo, no entanto, a luta contra o terrorismo a regredir. E não tanto pela circunstância de o terrorismo islâmico estar a perder no seu próprio terreno, como o provam as revoltas no Norte de África e no Médio Oriente. Espanha à parte, que vive intensamente o terrorismo da ETA e que, de entre todos os países europeus, talvez a par da Inglaterra, foi o que viveu de forma mais cruel e dura o terrorismo da Al-Qaeda, o que sinto é que o 11 de Setembro de 2001 já vai longe, talvez demasiado longe. Não vejo, por exemplo, o dia 11 de Março a ser assinalado como o dia europeu da luta contra o terrorismo, como foi proposto e de certo modo aceite pelas instâncias europeias após os atentados de Madrid de 2004. E seria bom que, quanto à luta contra o terrorismo, estivéssemos todos do mesmo lado. O mundo deveria assentar na ideia de que o terrorismo é para erradicar o mais rapidamente possível, punindo exemplarmente quem o tenta e o pratica, seja mentor ou, se permanecer vivo, executante. Enquanto houver quem pense que há razões que justificam o terrorismo e que com terroristas é possível negociar, o terrorismo existirá na nossa vida contemporânea. Mas devia ser o lado das vítimas a falar mais alto.
À nossa escala, à escala do cidadão comum, lutar contra o terrorismo é assinalar, não deixar esquecer e se possível participar nos momentos que marcam, positiva ou negativamente, o terrorismo. Esta, foi uma semana em que o terrorismo internacional sofreu uma pesada derrota. Eu bem sei que a agenda portuguesa é outra. Mas o terrorismo é um combate do nosso tempo e um combate do nosso tempo a que não se pode dar tréguas.
Martim Borges de Freitas
Lisboa, 5 de Maio de 2011

1 comentário:

Anónimo disse...

Penso sinceramente que a morte de Bin Laden é uma boa notica. A barbarie do terrorismo levou um duro golpe. Mas ao mesmo tempo fiquei um pouco triste e preocupado. As cenas de miles de pessoas rejubilantes e sorridentes nas ruas de Nova York pela morte de outro ser humano, terrorista o não, dao que pensar. Fez-me lembrar os linchamentos e condenações públicos na Idade Media. Sera que a humanidade tem evoluido tão pouco?
Penso que tinha sido melhor, em nome da justiça, que Bin Laden tivesse sido capturado vivo e condenado a cadeia perpetua. A forma de actuar das tropas de élite dos Estados Unidos não será tambem ela, uma forma de terrorismo?