sexta-feira, 20 de maio de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA FM

Dia seis pode já ser tarde
Martim Borges de Freitas

Sexta, 20 Maio 2011 10:10
Aproxima-se, a passos largos, mas ainda a uma distância excepcionalmente importante, o dia das eleições. Mas, à medida que a data se vai aproximando, vou, no entanto, ficando cada vez mais céptico quanto à qualidade e robustez do governo que delas poderá resultar.
Na passada semana, disse, aqui, que a probabilidade de podermos vir a ter um governo PSD-CDS é grande. Se nada mudar, acho mesmo que é isso que vai acontecer. Se assim for, dadas as contingências impostas pelo acordo produzido pela Troika e aceite pelo PS, PSD e CDS, a vida dos portugueses vai tornar-se bastante mais difícil. Piorando, a contestação ao governo começará cedo, com os portugueses, acicatados pela esquerda, por toda a esquerda, a não lhe conferirem qualquer estado de graça. O que me inquieta é que, por parte da generalidade dos agentes políticos, tem-lhes faltado capacidade para nos convencerem de que vão estar à altura dos acontecimentos uma vez passadas as eleições. Poderei estar a ser injusto nomeadamente para com os partidos à direita do PS, mas a verdade é que, justamente à direita, ainda não se deu o clique detonador que, por exemplo, a existência de uma nova AD, a meu ver, poderia ter proporcionado. De resto, uma certa oposição à oposição que, mais o CDS do que o PSD, têm vindo a fazer um ao outro, tem também dificultado a existência desse tal clique que poderia evidentemente existir mesmo sem uma nova AD.
Para o país poder respirar, não vai bastar a aquiescência do PS, do PSD e do CDS ao acordo proposto pela Troika nem a palavra dada por estes três partidos de que os compromissos internacionais de curto e médio prazo de Portugal serão honrados. Não. Pensando, como penso, que se as eleições fossem hoje o PSD as ganharia, precisando, embora, do CDS para formar governo, a verdade é que poderá abrir-se uma perigosa avenida de crescimento à esquerda portuguesa. No tal cenário mais provável, esta ficará sozinha na oposição a promover a contestação de rua que facilmente se gerará e propagará. Por esta via, tentará fragilizar o governo na mira de conseguir ganhar, depois das eleições, o que fora incapaz de ganhar antes, nas eleições. Portanto, mesmo existindo um governo com apoio maioritário na Assembleia da República e, sobretudo, se esse governo for PSD-CDS, o resultado poderá ser o de mais um governo que não chegará ao fim, desta feita, por força da crescente impopularidade provocada pela medidas a executar. É por isso que, face ao desenrolar desta pré-campanha, me parece que o risco do dia 5 de Junho “eleger” um governo frágil está a crescer. E é por isso que, por outro lado, o cenário de um governo monocolor de um só partido, embora apoiado na Assembleia da República por uma maioria bicolor ou tricolor, voltou à baila.
Ora, para que estas eleições façam mais sentido, é preciso que nas próximas duas semanas algo de verdadeiramente importante ocorra na esfera político-eleitoral. E há, a meu ver, uma informação que importaria conhecer antes das eleições e que poderia ser determinante para diminuir aquele risco e transformar o dia 5 de Junho num dia de mudança. Essa informação, já por muitos reclamada, mas que tarda em ser conhecida - vá-se lá saber porquê! -, é a da real e exacta situação financeira do país, não apenas quanto às rúbricas que concorrem para o apuramento do défice das contas públicas, mas de todas aquelas a que o Estado está obrigado e a que o contribuinte, mais cedo ou mais tarde, vai ser chamado a pagar. Conhecida essa informação, talvez, então, o PSD e o CDS dêem as mãos antes das eleições. De forma original, bem entendido, já que de outra maneira será legalmente impossível. Mas que, dessa forma, proponham esperança. E que, ao fazê-lo, produzam o tal clique que tem faltado. E que esse clique, qual chamamento, leve os cidadãos a sobressaltarem-se. E a irem votar. Massivamente. E a optarem por dar mais força a quem talvez possa, de facto, ajudar Portugal.
Lisboa, 19 de Maio de 2011
Martim Borges de Freitas

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