quinta-feira, 28 de abril de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

 Abril e Maio
Eduardo Luciano

Quinta, 28 Abril 2011 09:35
Por esta altura temos o óptimo hábito de lembrar os exaltantes momentos da Revolução de Abril e o significado da comemoração do Dia Internacional do Trabalhador.
Foi aquilo que fiz ontem na reunião pública de câmara, em meu nome e dos meus camaradas de bancada, ao apresentar uma moção onde se falava dos 37 anos do 25 de Abril, dos 35 anos da Constituição da República e do significado do Primeiro de Maio.
A moção foi rejeitada com os votos do PSD e do PS e com a curiosa afirmação comum de que estariam de acordo com o primeiro parágrafo da referência à Revolução da Abril, estando em desacordo com tudo o resto.
Mas afinal o que terá sido que impossibilitou o PS e o PSD a associarem-se a esta singela moção.
Discordaram, por exemplo, do seguinte bocadinho de texto: “Perante as ameaças à soberania nacional e os riscos de uma intervenção estrangeira que promete transformar o nosso país numa espécie de protectorado do capital internacional, com a imposição de sacrifícios incomportáveis para a generalidade do povo português, faz cada vez mais sentido comemorar Abril e as portas que se abriram para a democracia e para perspectiva de uma vida mais digna para quem trabalha.”
Ou da parte onde afirmávamos “num momento em que se repetem os apelos a pactos de regime, faz todo o sentido lembrar os 35 anos da Constituição da República e exigir o integral respeito pela lei fundamental do país que, apesar das mutilações sofridas ao longo da sua vida, continua a ser uma bússola orientadora para um projecto de sociedade assente na liberdade e na igualdade.”
Parece que também não gostaram das referências ao Primeiro de Maio naquela parte onde dizíamos: “A Câmara Municipal de Évora saúda os trabalhadores do concelho na passagem de mais um dia 1.º de Maio, lembrando as jornadas de luta por direitos fundamentais e por avanços civilizacionais hoje postos em causa pela voragem com que se procuram novas formas de intensificar a exploração dos trabalhadores, através do aumento da jornada de trabalho, da precariedade, da redução de salários, do ataque à contratação colectiva e da desregulamentação das relações laborais.”
Ou seja para vermos aprovada uma moção sobre o 25 de Abril e o 1.º de Maio, o máximo que poderíamos dizer seria que as datas existem, são bonitas e quando está sol até podemos sair à rua.
Para PS e PSD comemorar Abril é comemorar qualquer coisa que aconteceu num passado mais ou menos remoto, que nos trouxe a liberdade, sem qualquer referência ao projecto de sociedade transportado nos seus ideais e que ficou plasmado na Constituição de 1976.
Ambos lamentaram que não tivéssemos apresentado uma moção mais consensual, ou seja, que não dissesse nada do que nos vai na alma quando falamos em Abril.
O que nos divide não permitiria tal coisa.
É que, como afirmou Jerónimo de Sousa, “Abril não é uma revolução acabada, é o futuro deste país”.
Até para a semana… quem sabe
Eduardo Luciano

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