RABISCAR AS MEMÓRIAS

O ASSADO NO FORNO


Nos tempos em que não existiam as tais regras a bem da higiene, que vão limitando os mais novos a ter acesso a certas e determinadas iguarias, no tempo em que não havia ASAES e coisas tais, a proibirem a confecção de certos produtos mais saborosos confeccionados nos sítios certos, era hábito e ainda é, o consumo do tradicional assado, imprescindível pelo menos na Páscoa.
No Sábado de Páscoa era um ver se te havias, a caminho do Forno do Zé Cuco, que não dava à conta à cozedura de tantas frigideiras, devidamente assinaladas com caracteres a giz, determinando o proprietário de tal iguaria.
Eram “fornadas” atrás de “fornadas” e um corrupio de gente a ir buscar o “seu assado”.
Em casa dos meus pais também se confecciona o saboroso assado para ser saboreado no almoço do Domingo de Páscoa.
Minha mãe, logo pela manhã fez questão de depois de devidamente temperado de véspera, e coberto pelo “panal” branco durante a noite (para tomar gosto) o levar ao forno do Zé Cuco.
“Vão lá buscar o assado” que eu vou pondo a mesa. O pedido dirigia-se a mim e ao meu Tio Zé Luís.
E nós fomos…
Bendito assado que tão bem cheirava.
“Oh Chico e se nós fossemos provar o assado com um tintinho ali no Melão”?
“molhamos só um bocadinho de pão no molho e tiramos um “ossinho”.
E lá fomos.
Mas, molho puxa molho, ossinho puxa carne, um tinto puxa outro …e mais uns amigos que foram aparecendo, o dito ficou reduzido a metade.
Quando apresentámos os despojos que tinham sobrado:
"MOINANTES… TAMBÔR UM PÍFARO OUTRO".
Foi a frase mais adequada que minha mãe encontrou para qualificar tal acto.
Ainda hoje, quanto por qualquer motivo “meto o pé na argola” me acode à memória aquele =MOINANTE=., e por diversas vezes ainda, em exame de consciência o mesmo me serve como punição.
Chico Manel