quarta-feira, 21 de abril de 2010

REGRESSO AO PASSADO - (DESTA VEZ A CARGO DO AMADEUS SARABAND)

Introdução: Quando aqui há uns dias se recordou a Feira de S. Bento, entre vários comentários colocados na postagem, um houve que me chamou a atenção: não só pela história relatada plena de bom humor, pela maneira como nos é apresentada, mas, também porque reflecte o sentido do que se passava naquele dia, em que os namorados acertavam contas e onde solenemente na “barraca do Manitas” se inaugurava a abertura oficial da “imperial”.
Aqui transcrevo, após ter também em comentário pedido autorização ao autor (que desconheço), porque mais uma vez o lema é : RECORDAR É VIVER.


O CALMEIRO

Era, de facto, a feira dos calmeiros, como diz um comentador aqui acima.

Deixem-me contar-lhe os efeitos e consequências que um desses calmeiros teve em dois amigos meus.
A história passou-se há mais de cinquenta anos, natural será, portanto, que eu, por um lado, acrescente um ponto, e por outro, também retire um ponto. Ou mais.
É que estas coisas contadas de memória, por vezes, são muito traiçoeiras.
O casal em causa tinha tido um arrufo de namorados no baile da sociedade da música no domingo anterior.
Ele (J.A.), arrependido, pretendia fazer as "pazes" com ela durante a feira de S. Bento. Ela ( M.B.), também.
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(- aviso à navegação -)
J.A. e M.B., são nomes fictícios, não se ponham a querer adivinhar quem eram.
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Pois bem, ela chegou á feira primeiro do que ele e encontrou, à chegada, um parente afastado que era oficial da marinha. Depois dos cumprimentos deram uma ou duas voltas pelo recinto, exactamente na altura em que o J.A. vinha chegando. Quando este a viu com aquele garboso oficial, impecavelmente fardado, boné ao lado, calças boca de sino e ar altivo, foi o fim daquilo que todos pensávamos ser um grande amor.
Eu, que por essa altura já despejava umas beer's (médias, pois nesse tempo ainda não havia minis) numa das tendas instaladas na feira, é que tive que consolar o meu amigo.
Foi um resto de tarde de baba, lágrimas, ranho e copos, evidentemente. Que raio de feira a desse ano. A ninguém serviu de proveito.
Ela, a M.B., ofendida por o ainda namorado se ter ido meter nos copos e nem sequer lhe dirigir a palavra, continuou a passear com o primo, voltando ostensivamente a cara para o outro lado, quando passava em frente da tenda em que eu e o J.A. nos enfrascávamos.
Acabou tudo nessa tarde.

Ela rapidamente casou com o oficial da marinha.

Ele foi para a tropa e a seguir cumpriu serviço em África, como era inevitável nessa época, e por África ficou depois do serviço militar cumprido.
Casou por lá.
A vida deles podia ficar por aqui, mas não ficou, querem ver ?
Ambos tiveram filhos, mas nenhum dos dois casamentos resultou. Acabaram separados dos respectivos consortes.
Até que um dia, na festa da Boa Nova, quase trinta anos passados, se encontraram, se miraram, ainda os dois em muito bom estado, e acabaram a noite a comer um frango naquela barraca que costuma ficar logo ali abaixo da Igreja.
Hoje vivem juntos.
Nenhum deles é religioso, mas quando os visito, dizem-me que foi milagre de Nossa Senhora.
E eu, que também não sou religioso, acredito.

Amadeus Saraband

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