quarta-feira, 19 de novembro de 2008

PARA MEMÓRIA FUTURA

HOJE A CARGO DE AUGUSTO MESQUITA

Insigne Montemorense, colaborador no Jornal Folha de Montemor, Autor de vários livros que relatam episódios e factos passados que deram origem a Associações que ainda hoje permanecem, e que amavelmente acedeu a colaborar neste espaço.

Porque esta sua viagem pelo passado nos faz recordar episódios que nos são familiares, porque muitos leitores do Al Tejo ainda recordam a rádio no Alandroal, porque estes testemunhos devem ser preservados aqui lhes transcrevo a sua crónica publicada no último número da Folha de Montemor:

A Rádio Almansor surgiu há 25 anos

Os primeiros passos da história da rádio em Portugal remontam a 1914, com a primeira estação portuguesa, a Rádio Hertz, fundada por Fernando Medeiros. Todavia, as primeiras emissões radiofónicas de carácter regular só ocorrem em 1925, com a estação amadora CT1AA, de Abílio Nunes dos Santos.
Em 1933, realizam-se as primeiras emissões experimentais da Emissora Nacional, cuja inauguração oficial ocorre a 1 de Agosto de 1935. Criada à semelhança de congéneres estrangeiras, a Emissora Nacional assume-se como voz do regime, servindo como órgão privilegiado de propaganda do Estado Novo. Este, cedo se apercebe das potencialidades do novo “médium” e não a dispensa ao longo da sua acção governativa.
No início de 1957, o número de receptores existentes em Portugal, era de 534.063 e, em 1975, os rádios já ultrapassavam 1 milhão e meio.
Nos anos 80, dá-se o “boom” das rádios livres, também designadas por “rádios piratas”. Surgiram uma série de estações que emergem num quadro de ausência de qualquer disciplina legal. O sucesso destas estações adveio-lhe da novidade, da inexperiência, do imprevisto da comunicação, da linguagem popular que as aproximou definitivamente do grande público, ganhando uma força cada vez maior e captando o investimento publicitário. Outro factor do seu êxito residiu na abordagem dos problemas locais e regionais, muitas vezes ignorados pelas estações nacionais.
Montemor, não ficou a ver passar a banda, e criou a sua rádio local – a Rádio Almansor.
As primeiras emissões da Rádio Almansor datam de 1983 e decorreram até Novembro de 1985.
O local onde se iniciaram as primeiras emissões, foi na garagem do Senhor Constantino Ferreira, antigo funcionário do Hospital de S. João de Deus, e que infelizmente já não pertence ao número dos vivos. Os pioneiros da Rádio Almansor foram além do Senhor Constantino, a sua esposa D. Luzia Ferreira e o filho, João Ferreira. A estes, juntaram-se pouco depois os Senhores Manuel Trindade, André Casa Branca e Manuel Justino Ferreira.
Os primeiros programas emitidos resumiam-se a música e notícias. O horário de funcionamento era das 18 às 22,30 horas de segunda a sexta-feira e aos sábados e domingos funcionava durante todo o dia.
A segunda fase começou a 8 de Março de 1986, num anexo da Ermida de Nossa Senhora da Visitação, com uma grelha bastante ambiciosa, da qual refiro alguns programas: Arco da Velha, Boa Noite Tio Alfredo, Boa Tarde Montemor, Caixinha de Surpresas, Convidado da Semana, Convite para o Almoço, Desportivamente, Disto e Daquilo, Flash Desportivo, Flor de Lis, Gira Mensagens, Girândola à Portuguesa, Letras, Montemor é Praça Cheia (considerado o melhor programa tauromáquico transmitido pelas rádios locais), Música a Metro, Música em Pijama, Música para Todos, O Barco do Humor, O Céu Pode Esperar, O Clube dos Coleccionadores, Onda da Amizade, Ondas Hertzianas, Passeio da Juventude, Prevenção e Saúde, Quinta Desportiva, Sábado à Noite, Terra de Chegada e Top Mania, entre outros, além dos aguardados Noticiários.
Entretanto, o Grupo União Sport adquiriu em Setembro desse ano de 1986, a Rádio Almansor, passando esta a funcionar na sua sede.
A rádio atinge a nível nacional, a sua maturidade como meio de comunicação de massas, num figurino onde coexistem estações licenciadas e estações “piratas” à espera de legalização. Todavia, em 1986, é notória a necessidade de proceder ao reordenamento do espaço radiofónico. A sempre adiada Lei da Rádio, acaba por surgir no ano seguinte (Lei n.º 8/87, de 11 de Março). Contudo, só a aprovação de novo diploma (Lei n.º 87/88, de 30 de Julho) viria permitir o aparecimento de rádios locais, devidamente enquadradas por lei. Este diploma, que vigorou por mais de doze anos, foi revogado pela Lei n.º 4/2001, de 23 de Fevereiro, actualmente em vigor.
Em 1989, o governo abre concurso público para a atribuição de alvarás às rádios locais, sendo autorizadas a emitir 314 estações. Enquanto o concurso decorre, as estações “piratas” são obrigadas a cessar as suas emissões.
Por determinação governamental, todas as rádios foram forçadas a encerrar até à sua legalização. Impossibilitadas de voltar a funcionar, ficaram unicamente as que não concorreram à legalização.
A primeira fase do concurso de atribuição de frequências deixou Montemor-o-Novo sem rádio. O motivo? Não houve candidatos! A situação não foi única. Tal como Montemor-o-Novo, foram muitas as frequências não atribuídas, em especial no interior. Foi então decidido fazer novo concurso para estes casos. Para a frequência de Montemor-o-Novo surgiram dois candidatos: Rádio Castro Mália e a Rádio Janela Indiscreta. Da Almansor não mais se ouviu falar, não obstante a realização de uma campanha de angariação de fundos para a sua legalização.
No dia 15 de Março de 1990 realizou-se na sede do GUS uma Assembleia-geral Extraordinária, cujo primeiro ponto era destinado à Rádio Almansor. O Presidente Francisco Santos, usou da palavra para dar a conhecer aos sócios a disposição da Direcção em doar à Colectividade a sua parte na Sociedade “Janela Indiscreta”, e tentar negociar a restante para que o GUS seja o único dono da Rádio.
Foi no dia 23 de Dezembro de 1990 que se soube. O Diário da República dava, finalmente a conhecer os pareceres da Comissão Consultiva das Rádios, depois de quase 2 meses de espera. Em Montemor-o-Novo, para a frequência de 101.3 MHz, a escolha caiu no projecto apresentado pela “Janela Indiscreta” – Sociedade de Comunicações, Lda. Estava de volta a Rádio Almansor, pois foi este o nome escolhido pelos responsáveis da Janela Indiscreta. Para Francisco Santos, Presidente do Grupo União Sport, “a legalização da Rádio Almansor” é uma grande vitória da Direcção do Grupo União Sport.
De acordo com o previsto na lei, a frequência atribuída (101.3) teria de ser ocupada até ao dia 5 de Agosto de 1991, pois de contrário, seria retirado o alvará à empresa.
Poucos meses depois, do inicio do seu funcionamento legal, surge a Cooperativa Sulpress, com sede na Rua Professor Egas Moniz n.º 17 nesta cidade, composta por dez cooperantes, sendo um de Montemor e os restantes residentes em Évora, que passaram a explorar a Rádio Almansor. Esta entrou em nossas casas em 23 de Março de 1992, com programação da responsabilidade da Cooperativa de Informação “Sulpress”.
No dia 17 de Julho de 1992 transferiu-se o centro emissor da sede do Grupo União Sport para o alto da Senhora da Visitação.
Em Outubro de 1993, divergências internas, estiveram na origem da suspensão das emissões.
Em Junho de 1994 a RNL – Rádio Nova de Loures, passou a possuir uma quota de 250 contos na Janela Indiscreta. Em Novembro de 1994 a Rádio Nova de Loures passou a possuir 916 500$00 de quota.
A 15 de Janeiro de 1995, sucedeu a fusão da Rádio Almansor com a Rádio Nova Antena. A Rádio Almansor entra em simultâneo com a RNA a partir das 20,00 horas e vai até às 8,00 horas do dia seguinte.
Em Fevereiro de 1996 a Rádio Almansor / Nova Antena, instalou-se nos seus novos estúdios sitos no Beco do Matadouro n.º 4, nas antigas instalações da Fábrica das Carnes. O novo espaço, com cerca de 140 m2, estava equipado com as mais recentes técnicas ao serviço de radiodifusão.
Pouco tempo depois, a “Bairrista Rádio Almansor”, feita por amadores, homens e mulheres, cujo único objectivo era o progresso de Montemor-o-Novo, desapareceu e deu lugar à Rádio Nova Antena de Loures. Adriano Seixas de Sousa, Ana Isabel Casadinho, Ana Lagartixa, André Casa Branca, António Filipe Nabo, Betty Pires, Carlos Alberto Bacalhau, Carlos Alberto Parreira, Constantino Ferreira, Fernando Canas, Francisco Prates, Hélder Brejo, Hélder Pais, Isabel Vidigal Gomes, Jacinto Delca, João Ferreira, João Luís Nabo, Joaquim Casimiro Chapa, Joaquim José Ferreira, Joaquim Lagartixa, Júlia Costa, Laurentino dos Reis Júnior, Lena Espada de Sousa, Leopoldo Gomes, Luís Torres, Luzia Ferreira, Manuel Justino Ferreira, Manuel Russo, Manuel Trindade, Margarida Guerreiro, Paulo Canas, Pedro Coelho, Pedro da Piedade Carvalho Sancho Bexiga, Serafim Bravo, Simão Comenda, Vítor Facas, Vítor Gomes e Vítor Guita, entre outros, são alguns dos carolas que mantiveram durante treze anos, a Rádio Almansor no “Ar”.
Desde o dia 14 de Julho de 2000, a Rádio Nova Antena, passou a funcionar nas suas novas instalações, adquiridas para o efeito, na Rua Francisco José Mareco, lote 18.
Os jornalistas que todos os dias entram em nossas casas, são a Alice Barreiros, a Sílvia Canelas, o Tiago Barreiros, e o Paulo Canas (o único resistente), os quais têm defendido e bem, os interesses do concelho que os viu nascer. Por isso, são uns dignos sucessores, daqueles que fizeram a desaparecida, mas sempre lembrada, “Rádio Almansor”.

Augusto Mesquita

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