PARA MEMÓRIA FUTURA

Onde se relembram factos aos quais estive ligado.
Também, e “isto” é digno que fique registado porque vejo que no Alandroal há jovens que se interessam pelo passado de tão nobre Vila.

Baptista Bastos : “a memória é a última coisa a morrer, não a esperança”

Miguel Torga :
“ter um destino é não caber no berço
Onde o corpo nasceu
É transpor as fronteiras uma a uma
E morrer sem nenhuma
(…)
Sem ver se foi vencido ou se venceu”

B.V.A.



Em nada contribui para a fundação dos Bombeiros Voluntários do Alandroal. Talvez alguma dadiva num dos muitos peditórios que se fizeram para levar a cabo tal empreendimento.
Tal mérito deve-se a Homens de boa vontade que muito se empenharam para que o Alandroal tivesse os seus Bombeiros. Sem dúvida alguma há que destacar o Senhor Bastos, O Sr. José Luís Coelho, o Sr. José Fontes, a Dona Bernarda Caritas e o Elenco Camarário da altura (alguns nomes me hão-de escapar, mas são contingências de quem se arrisca a escrever sobre estas coisas. Aos esquecidos peço desculpa).
Após um período de muito trabalho a montar as estruturas que tais iniciativas acarretam, e totalmente bem executado por uma Comissão Administrativa, presidida pelo Senhor António Bastos chegou a altura de formalizar uma Direcção.
Coube ao ainda Comandante dos B.V.A. José Fontes elaborar uma lista na qual teve a delicadeza de me incluir como Presidente e na qual constavam nomes como o Tói Coelho, o José Luís Coelho, a Bernarda Caritas, o Valente, O Sr. Ribeiro e outros.
Foi-me dada posse pelo então Presidente da Comissão Administrativa (Sr. Bastos) e a partir daí foi deitar mãos ao trabalho e lutar em defesa da causa mais justa até hoje inventada pelo homem: VIDA POR VIDA.
Se estou hoje aqui a recordar esses tempos é para que posteriormente conste que nunca um cargo desempenhado por mim me trouxe maior satisfação do que este e para que se saiba que nunca encontrei na minha vida HOMENS tão leais, tão amigos como todos os Bombeiros com quem tive o privilégio de trabalhar.
Não posso de aqui deixar expressa a situação vivida por mim, já num segundo mandato, quando numa situação muito difícil no capítulo da saúde o que me obrigou a internamento e operação em Santa Maria, quando foi solicitado doação de sangue a enfermeira chegou ao pé de mim e textualmente me disse : “Você tem lá fora um batalhão de Bombeiros do Alandroal que vieram dar sangue”. Ainda hoje, quando me cruzo com alguns não consigo evitar um nó na garganta.
Adiante:
Porque o motivo principal desta crónica é lembrar os primeiros passos desta prestimosa Associação, saibam que a Direcção reunia pelo menos uma vez por semana, reuniões que tinham sempre a presença do Sr. Presidente da Assembleia Geral, Senhor Rosinha, pessoa exigente, sabedora e que não permitia um único deslize. Também o Senhor Comandante estava sempre presente.
Saibam que, as primeiras secretárias, cadeiras e armários para instalação do que se pretendia ser uma secretaria foram adquiridas em leilão de material em desuso nos CTT?
Que não havia parque de ambulâncias e que as duas que havia assim como o único carro de combate a fogos ficava no espaço onde funcionavam os Bombeiros?
Que devido à excelente colaboração entre a Santa Casa e os Bombeiros se conseguiu encontrar a instalação onde agora ao alto da Rua é oficina de carros? Que deu muitas dores de cabeça a cobertura a cargo do Sr. Comandante de Reguengos do referido espaço? Que o mesmo foi motivo de algumas receitas graças à organização de bailes, de variedades? Que se tornou numa tradição os festejos de Carnaval no referido recinto?
Que as primeiras cadeiras pertença da Associação foram compradas a preço simbólico, para que a fábrica que as forneceu pudesse pagar o ordenado a uma funcionária?
Que ao fim de muitos anos foram os Bombeiros a levar cinema ao Alandroal? Que a máquina de projectar foi adquirida ao Senhor Domingos Peças, homem que levava o cinema ao Alandroal? Que tal só foi possível devido a um subsídio doado pelo Ministério da Cultura e arranjado pelo Dr. António Berbém?
Que graças à influência do Senhor Bexiga, amigo íntimo do Dr. Azeredo Perdigão, Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, a mesma nos concedeu uma ambulância?
Que foi esta primeira Direcção e com o muito empenho do Sr. Comandante que negociou o terreno com o Sr. Venâncio para a construção do novo quartel?
Mas também fiz asneiras:
Fui responsável por um acidente que deixou em péssimo estado o primeiro auto tanque da Corporação. Ainda que involuntariamente e tentando salvaguardar o bom-nome do Sr. Comandante, colocando-me no lugar dele, o que não me ficou nada bem, autorizei a saída do referido auto tanque, para fazer um rescaldo a um fogo em Terena. Tivemos azar e capotámos (havia bombeiros espalhados por todos os sítios, mas felizmente tudo não passou de um grande susto).
Foi um dos motivos, entre outros, que me levou a aceitar um segundo mandato, pois queria lutar para remediar os danos causados, o que foi conseguido e em vez de um passámos a ter dois (engenharias financeiras).
O outro motivo seria a construção do novo Quartel, mas Deus assim não quis e ao fim de pouco tempo do segundo mandato estava a contas com uma grave situação de saúde, que não me permitiu continuar no exercício das funções que tanto prazer me davam.
Felizmente o Isidoro que me substituiu e a restante Direcção e Comando que com ele trabalharam conseguiram levar a bom porto tal sonho.
Ainda hoje quando por ali passo não deixo de sentir uma pontinha de orgulho, mesclada com um sentimento de comoção quando olho a imponência do NOVO QUARTEL E O MAGNIFICO PARQUE DE VIATURAS.
Já sem idade para tal, mesmo sem farda, considero-me um Bombeiro e luto sempre pela
dignificação de todos aqueles que têm como lema VIDA POR VIDA.
BEM HAJAM


Tenho muito orgulho “dele”

Xico Manel