quinta-feira, 20 de novembro de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM



Eduardo Luciano - Uns parados, outros enganados e parte da democracia suspensa

20-nov-2008
Nunca, como nos tempos que correm, a publicidade pendurada nos candeeiros distribuídos pela cidade de Évora foi tão eficaz. Quem chega à rotunda das portas da lagoa perto das 9 da manhã e tem de se dirigir ao Rossio, sabe que vai ter tempo para ler tudo o que essa publicidade promove. As intermináveis filas de trânsito numa cidade da dimensão de Évora têm tanto de estranho como de pouco razoável. De qualquer forma, sempre podemos tomar conhecimento das propostas que os pendões contêm. E nesta altura há propostas para todos os gostos. Da cozinha dos ganhões, à feira do montado. Todas estas iniciativas têm algo em comum: são organizadas por municípios vizinhos. Provavelmente por não sobrarem candeeiros para anunciar as propostas e iniciativas culturais organizadas pela Câmara local, não há nada sobre Évora.
Agora fui injusto. De facto existem uns pendões a anunciar uma coisa chamada “Évoranoivos” com a presença desse magnifico ícone cultural, a modelo Carla Matadinho. Évora parece cada vez mais destinada à promoção de iniciativas irrelevantes, sem capacidade de atracção de visitantes fora do circuito turístico dito normal, entregue a um marasmo que contrasta com a actividade dos territórios vizinhos, onde as autarquias assumem a organização de eventos ligados às actividades dos seus concelhos, projectando a cultura local e dinamizando os agentes culturais e económicos. A capital do distrito, cidade património da humanidade, parece condenada a funcionar como fornecedora de candeeiros para a colocação de cartazes que anunciam as iniciativas de outras paragens. A história do anúncio de grandes investimentos que, ou não se concretizam ou não duram, parece perseguir a região. Depois da fábrica de aviões que seria projecto de interesse nacional e que afinal não veio, tivemos notícia da suspensão da actividade de extracção de zinco das minas de Aljustrel, que ainda em Maio deste ano foi motivo dos mais rasgados encómios pelo primeiro-ministro, que nunca perde uma oportunidade de fazer propaganda, afirmando que o investimento realizado era exemplar. Exigia-se a Sócrates que, em defesa dos interesses dos trabalhadores e das populações afectadas, tudo fizesse para obrigar a empresa a manter a actividade produtiva. Nessa impossibilidade talvez não fosse descabido salvar aqueles postos de trabalho com o mesmo empenho com que garantiu os depósitos dos clientes do BPN. Também não ficava mal ao primeiro-ministro voltar a Aljustrel para, com a mesma pompa e circunstância, pedir desculpa por ter considerado exemplar o investimento realizado na mina que, afinal, à mínima perspectiva de redução dos lucros, ameaça lançar no desemprego umas centenas de trabalhadores. Ontem, Carvalho da Silva foi impedido de entrar nas instalações dos CTT em Cabo Ruivo, onde deveria participar num plenário de trabalhadores, motivando a intervenção da Inspecção de Trabalho. Parece que as palavras de Ferreira Leite sobre a suspensão da democracia por uns tempos, foram levadas a sério… pelo menos pela administração dos CTT.
Até para a semana
Eduardo Luciano

Sem comentários: