sexta-feira, 14 de novembro de 2008

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Martim Borges de Freitas - CDS: Agora, não é, pois, tempo de escolher

14-nov-2008
Termina hoje, sexta-feira, o prazo para a apresentação de candidaturas à liderança do CDS. Eis a razão pela qual aqui deixo a minha opinião sobre como poderia estar hoje a ser visto o meu partido se, de há cerca de três anos e meio para cá, quando José Ribeiro e Castro ganhou o mais surpreendente e bonito de todos os Congressos do CDS, tudo tivesse decorrido normalmente. Já escrevi e disse o que hoje aqui vou dizer, noutras ocasiões e noutros fora. Se o volto a fazer é tão-somente porque, dada a data e tendo os militantes sido desafiados a pensar e falar sobre o CDS, considero oportuno voltar a dar a minha visão sobre o modelo de partido que defendo.
Numa qualquer Democracia, a priori e em tese, há pelo menos duas agendas políticas incontornáveis: uma, a do governo (seja ele qual for) e outra, a do país. Uma, construída; a outra, imprevisível. Os partidos da oposição, esses, tentam também elaborar as suas. Uns, ficam-se pela reacção à agenda política do governo ou do país; outros, porque estiveram anteriormente no governo, agarram-se à agenda de então, justificando-a; outros ainda – onde gostaria de ver o meu partido – tentam uma agenda nova. Para mim, um partido na oposição deve preocupar-se pouco com as agendas dos outros: tomando partido, a sua afirmação deve fazer-se pela proposta política que apresenta ao país e não por contradição com os outros. Sempre ambicionei o CDS não como um partido de protesto nem como um partido de causas ocasionais ou de bandeiras de oportunidade, mas como um partido de projecto e de poder, popular e de governo. Democrata-cristão, claro, e dirigido a todo o espaço político que começa onde acaba a esquerda e acaba onde começa a extrema-direita. Ultrapassada a fase da sobrevivência – concluída, com sucesso, em 1995 -, o CDS deveria ser hoje um partido do arco da governabilidade, visando voltar a ser governo em 2009. Como partido de projecto, o CDS deveria ter, portanto, uma agenda de governabilidade, que significa, tão simplesmente, que deveria ter trabalhado para ter uma política própria para cada área de governação. Tendo-o feito, esta seria, então, a agenda nacional própria do CDS, que deveria ser uma agenda de futuro, já que nem seria reactiva face às agendas do governo, do país e dos outros partidos da oposição, nem seria justificativa relativamente aos tempos em que o CDS esteve no governo. Seria, antes, uma agenda nova e global com questões de futuro. A par da agenda nacional própria, o CDS deveria ter também uma agenda política europeia e agendas políticas locais, já compatibilizadas e coerentes entre si. Bem sei que este trabalho, por não ser imediatamente visível, “não marcaria” no imediato. Mas, no decurso destes 4 anos, o CDS só precisaria de marcar a agenda política no tempo próprio. E o tempo próprio do CDS chegaria quando o CDS pudesse dizer a Portugal e aos portugueses que a Alternativa Política estava pronta. Para quê? Para que os portugueses, em vez de votarem no CDS por exclusão de partes, votassem no CDS por ser o partido por eles escolhido, por ser aquele que propunha as melhores soluções para Portugal, dispondo também dos intérpretes para as executarem. Este é que foi o grande desafio posto ao CDS em 2005. E se a única coisa boa que Sócrates deu ao CDS em 2005 foi quatro anos para tratar de si, falhar a preparação seria preparar o falhanço. O objectivo do CDS, o grande objectivo do CDS deveria ter sido - e foi-o em determinada altura - o de, um dia, mais cedo do que tarde, em todo o caso antes de 2009, fazer das suas propostas as mais debatidas e comentadas na sociedade portuguesa. Sem demagogias nem radicalismos, “apenas” com competência, consistência e coerência. Numa palavra, com credibilidade. Eis como o CDS poderia estar a ser visto. Eis como devia ser. Por razões que todos os que acompanham a vida do CDS conhecem, 21 de Abril de 2007 foi o culminar de um processo interno considerado, por mim e por muitos outros, a todos os títulos condenável. Esse processo levou o CDS a mudar de rumo e a seguir outro caminho. Foi nessa altura que tudo ficou decidido quanto a quem deveria conduzir o CDS na grande ronda eleitoral de 2009. Não é, agora, o tempo de escolher.
Martim Borges de Freitas

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