Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Eduardo Luciano - Educação ou a falta dela
13-nov-2008
Oito meses depois uma classe inteira voltou a manifestar-se nas ruas da capital. Professoras e professores de todo o país, num total estimado de cento e vinte mil pessoas, exigiram a suspensão do processo de avaliação nos termos em que vem sendo aplicado. Já aqui tínhamos dado nota do ambiente que se vivia em muitas das escolas portuguesas, com os professores atulhados em grelhas de avaliação, em siglas mais ou menos ininteligíveis e em infindáveis reuniões.
As informações que chegavam do interior das escolas referiam-se a um enorme desconforto e cansaço e a uma desmotivação crescente que parece empurrar um cada vez maior número de professores para a baixa médica e para a reforma antecipada. A comunicação social mais atenta e menos engajada com o poder, foi noticiando o crescente descontentamento que se instalava entre os docentes. Aos pais começaram a chegar informações de que os seus filhos não estariam a ter o devido acompanhamento, pelo facto de quem devia estar a ensinar ter cada vez menos disponibilidade para preparar e planificar aulas, tão concentrados que estão na sua própria avaliação. Em muitas escolas os Conselhos Pedagógicos admitiam cada vez mais abertamente a possibilidade de suspender o processo de avaliação e todos os dias surgiam decisões plenárias no mesmo sentido. A todos estes sinais o governo respondia como se nada se passasse, afirmando e reafirmando que tudo corria pelo melhor, chegando mesmo a inefável directora regional do norte a afirmar que o processo de avaliação decorria normalmente em todas as escolas do país. Perante a força da manifestação, a ministra desdobrou-se em declarações à comunicação social, insistindo na velha teoria da manipulação política dos manifestantes, passando-lhes um atestado de menoridade cívica que deveria envergonhar qualquer um. O primeiro-ministro, veio a público reiterar convicções e teimosias assentes numa falácia que não se cansou de repetir: os professores não querem ser avaliados. E nem o facto de muitos militantes do seu partido, entre os quais uma ex-Secretária de Estado do governo de Guterres, terem dado a cara contra o processo e a forma como está a ser implementado, refreou a palavra a Sócrates. Não sei se o governo irá ou não recuar nas opções políticas que tomou para a área da educação, mas sei que os professores já ganharam a batalha pela salvaguarda da sua dignidade profissional e granjearam o respeito generalizado dos portugueses. Os próximos tempos serão determinantes para o sucesso desta luta e os caminhos a tomar terão de ser muito bem ponderados, para que o bem maior até agora conquistado, a unidade de toda a classe, não seja desbaratado inutilmente. O governo sabe que só dividindo os professores conseguirá sair deste beco sem saída onde se instalou, e tudo fará para que isso aconteça, havendo sempre quem esteja disponível para lhe fazer o jeito. Aos docentes exige-lhes a vigilância necessária para que tal não aconteça, mantendo a firmeza e a serenidade de quem sabe que tem a razão do seu lado. Estou convicto de que saberão dar a resposta a quem os tratou como “um mísero punhado de votos”.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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