Transcrição da crónica diária transmitida aos microfones da :http://www.dianafm.com/
Martim Borges de Freitas - Hoje também somos todos americanos
07-nov-2008
Na semana em que terminou uma longa, envolvente e interessante campanha eleitoral e logo na maior democracia do mundo, de que outro assunto haveria eu hoje de falar? Pertenço àquele conjunto de pessoas que, nos bons como nos maus momentos, gosta dos Estados Unidos da América. Do que são, mas também do que representam. Do que representa este país e do que é este país. Do que fez pelo seu povo, mas também do que fez pela Europa. Do que fez pelo Mundo. Do que fez e – não nos iludamos – do que fará. Com esta Administração e com este Presidente. E com o próximo, seja este ou outro. É, gosto verdadeiramente dos Estados Unidos.
Se fosse americano teria votado McCain. Não teria ido atrás do entusiasmo que se gerou à volta da candidatura de Barak Obama, entusiasmo que também rodeou a campanha de John McCain, vivido, de resto, com forte intensidade. Tanto assim me pareceu que, se outros tivessem sido os candidatos, e pese embora a conjuntura em que vivemos, dificilmente estas eleições teriam tido a projecção externa e até a participação interna que tiveram. Estou disso convencido. Aliás, o candidato republicano, para surpresa de muitos, especialmente para surpresa de muitos europeus, foi mesmo capaz de impor respeito àqueles que, por regra, gostam de apoucar o partido republicano com os estereótipos que, sempre que podem, recuperam para arremessar contra os EUA. Gostei, em todo o caso, do discurso da vitória de Barack Obama. Civilizado. Mas gostei mais do discurso de John McCain. Se ser grande na vitória não está ao alcance de todos - e Obama foi grande -, sê-lo na derrota acho que só está ao alcance de alguns. Mas, é Barak Obama o Presidente, foi ele que foi eleito. Se dantes ele dizia que podia, agora, que conseguiu, já não tem margem senão para fazer. Quanto mais o que desejou se aproximar da realidade, maior será a dimensão histórica da vitória. O problema é que a inversa também é verdadeira, isto é, quanto menos a realidade se aproximar do sonho, menor será a dimensão histórica da sua vitória do passado dia 4 de Novembro. E aqui, Barak Obama, tem contra ele as expectativas criadas – as que ele criou e as que outros criaram por ele –, o que pode tornar o acompanhamento do exercício do seu mandato assaz interessante. Mas, agora, já, mesmo antes de tomar posse a 20 de Janeiro, o sucessor de George W. Bush na Casa Branca terá de começar a preparar uma resposta para a guerra ao terrorismo e para o unilateralismo versus multilateralismo, onde o líder da Al-Qaeda continua a monte, onde a ameaça nuclear cresce e onde novos rivais despontam e os velhos inimigos “apontam”; terá de começar a preparar uma resposta para a energia e para o ambiente, onde o petróleo, não sendo passado, exige já outras soluções que, com Quioto ou sem Quioto, voltem a conferir aos EUA o papel determinante que também aqui têm; e uma resposta para a economia e finanças, onde a crise financeira americana e mundial fez já inúmeras baixas, tantas e tais, que será pelo primado da Política que a recuperação se fará. Ao nível estritamente interno, Barak Obama terá ainda de preparar respostas para os sectores da Justiça, da Segurança Social e da Saúde, sectores relativamente aos quais os democratas não apenas prometeram responder, senão também corresponder. Termino esta crónica de hoje com uma pergunta: se John Mcain tivesse ganho estas eleições, será que a generalidade dos apoiantes não americanos de Barak Obama continuariam a gostar dos Estados Unidos da América como hoje dizem gostar? Perguntado de outra forma: será que seríamos, hoje, todos americanos?
Martim Borges de Freitas
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