quinta-feira, 6 de novembro de 2008
CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM
Eduardo Luciano - Tanta parra… tão pouca uva
06-nov-2008
O candidato do Partido Democrata, ganhou as eleições presidenciais nos Estado Unidos da América. O facto de ser afro-americano e incluir no seu discurso a palavra mudança, está a provocar um entusiasmo contagiante não só naquele país como no resto do mundo. Milhões de pessoas dentro e fora dos Estados Unidos acreditam que a eleição de Obama trará mudanças radicais na política interna e externa americana, que alterarão de forma significativa aquelas realidades. Existe uma enorme expectativa em torno das opções daquele que será o 44.º presidente americano e uma imensa esperança em que se invertam as políticas dos oito anos negros de administração de George W. Bush.
As imagens televisivas que entram nas nossas casas mostram-nos cidadãos eufóricos de lágrimas nos olhos, sentindo que participaram num histórico momento de viragem. Não sendo certamente indiferente a eleição de Obama ou McCain, parece-me ser exagerada a dose de esperança depositada na eleição do candidato do Partido Democrata para a alteração da ordem mundial, ligada ao respeito pelo direito internacional, ao multilateralismo e à prevalência da diplomacia sobre a força das armas. Não creio que o futuro presidente tenha em mente abandonar o projecto de dominação do mundo pela única super potência militar da cena internacional. Ainda não passou a euforia causada pelo simbolismo que a eleição de Obama inquestionavelmente significa e já temos analistas de diversas origens a pôr água na fervura. Robert Munks, editor da revista britânica Jane’s, numa análise carregada de lucidez, afasta qualquer possibilidade de uma mudança radical na política externa norte-americana, afirmando que, apesar das promessas, a diferença entre a política externa de Obama e a de Bush “será mais na apresentação do que na essência”. Ou seja, segundo o mesmo especialista, o futuro presidente “tentará mudar as percepções negativas no exterior”. Este é apenas um exemplo de várias análises que podem ser lidas por esse mundo fora e que coincidem num ponto essencial: a mudança será muito mais de forma do que de conteúdo. Claro que alguma coisa mudará mas, em muitos aspectos da política externa, Obama seguirá o terrível caminho traçado pelo seu antecessor, pelos compromissos de longo prazo assumidos e pelo peso que o complexo industrial militar americano tem na vida do império. Os dois candidatos que poderiam ganhar as eleições (acreditem… existiam mais quatro a disputar o lugar), têm o mesmo objectivo: manter a hegemonia dos Estados Unidos no mundo. Talvez Obama prefira fazê-lo com pezinhos de lã. Para alguns já não seria mau de todo. Quanto a mim é euforia e esperança a mais para tão pouca mudança. Parece-me acertada a frase da candidata dos “Verdes”, Cynthia McKinney, “temos que fazer coisas nunca feitas antes, para obtermos coisas nunca tidas antes”.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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