quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM



Balanço

27-Dec-2007
Chegámos à última crónica de 2007. É comum que esta seja uma intervenção de balanço do que aconteceu durante os dias que decorreram entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro. Estaria, portanto, condenada a ser uma crónica perdida, com o cronista a olhar para trás e a alinhar assuntos nas colunas do deve e do haver. Por isso decidi que, sendo uma cróncia de final de ano, seria uma crónica a tomar balanço para entrar no ano que aí vem. Na linguagem de quem se dedica à política, 2008 será um ano charneira, que é como quem diz o ano de preparar as eleições de 2009. No plano autárquico, é a altura de quem exerce o poder começar a abrir os buracos que irá fechar no ano seguinte com inaugurações com a pompa e a circusntância que o orçamento e a proximidade ao poder central permitirem.
É também o último ano que o governo tem para levar a cabo algumas políticas impopulares antes da chuva de benesses que irão cair sobre nós antes do ano de todas as eleições. Vai ser um ano particularmente difícil para quem vive do seu trabalho. Os aumentos de preços anunciados para os produtos de consumo essencial, ultrapassam em muito a anunciada taxa de inflação que serve para balizar os aumentos salariais. As últimas notícias apontam, por exemplo, para que o aumento do gás natural em Évora seja dos maiores do país, respeitando a lógica que menos consumidores têm de pagar mais caro. Não se prevê que a taxa de desemprego diminua, havendo mesmo analistas que sustentam a ideia de que irá aumentar ainda mais umas décimas. As alterações ao Código de Trabalho que permitirão facilitar o despedimento e se propõem desregulamentar as relações laborais, estarão na ordem do dia, com as associações patronais a pedirem sempre mais e a maioria parlamentar a fazer-lhes o jeito. Consumar-se-à a negociata entre os dois partidos do bloco central com vista à alteração da lei eleitoral autárquica, que visa amputar a democracia dos princípios da proporcionalidade, transformando o poder local num exercício solitário de presidentes que se apresentarão ao eleitorado como homens providenciais que têm na mão a solução para todos os problemas. É a construção artificial de um sistema bipolar que o eleitorado tem rejeitado desde que existem eleições livres. Se tudo lhes correr bem, também alterarão as leis eleitorais para a Assembleia da República, desenhando a régua e esquadro um mapa que lhes garanta a hegemonia ad eternum. Teremos também uma nova Lei Quadro das Regiões de Turismo que centralizará em Lisboa as decisões mais importantes, retirando aos municípios o seu papel essencial nessas estruturas associativas. Como vos disse vai ser um ano difícil, de lutas intensas e de resistências tenazes. Compete a todos os que defendem um caminho diferente, tudo fazer para impedir que se consuma esta ofensiva contra a democracia. Entretanto, enquanto não chega o ano novo, alguns vão já dividindo entre si as fatias do bolo-rei. O BCP para ti, a Caixa Geral de Depósitos para mim. Para nós sobrará sempre a parte menos rica da guloseima, o buraco... obviamente.
Até para a semana
Eduardo Luciano

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