quinta-feira, 7 de setembro de 2006

RECORDAÇÕES DO PASSADO

Textos despretensiosos que nos recordam tempos nos quais imperavam valores que se perderam no evoluir da sociedade.
São pequenos contos que nos transportam no tempo e nos deixam um sorriso nos lábios.
Histórias que se voltam a publicar no Blog Alandro al


PEQUENAS MENTIRAS

Se pensam que só os Caçadores e Pescadores são mentirosos desenganem-se. Toda a gente gosta de pregar a sua mentira, umas vezes mais elaborada, outras nem tanto, mas sempre com a esperança de que o interlocutor seja mais parvo, e se possível que venha mais tarde a ser motivo de troça. Querem um exemplo?
No tempo da reforma agrária, quando as grandes Herdades eram ocupadas a velocidade de cruzeiro, faziam-se bons negócios, na medida em que o ocupado queria vender, para não perder tudo e o ocupante idem para fazer capital para as primeiras necessidades.
Foi assim que estando o Chambel, e o Tricano na oficina deste, viram chegar o Jeep da Herdade da Defesa com o Feitor da dita Herdade à porta da GNR, que fica uns passos à frente. O que lá foi fazer só ele sabe, mas entretanto chegou à oficina o Gisberto e o pai que na altura negociavam com artigos de lavoura e quinquilharias do género. Eh pá está ali o Jeep da Defesa!!! Ah tu não sabes? Foi mesmo agora ocupada a Herdade.
Não foi preciso nem mais uma palavra, olharam um para o outro e ala que eles aí vão caminho de Montes Juntos na mira de uma boa negociata… só que tudo não passou de mais uma aldrabice do Tricano. O Senhor Farinha só tinha passado e parado na GNR para cumprimentar uns amigos.
Mas o mentiroso que ficou para a história do Alandroal, foi o Senhor José Garcia.
Era o Zé “Garcias” homem de boas posses, o que se pode chamar de homem abastado. Possuía uma moagem, de onde provinha a luz eléctrica (privilégio de muito poucos), além de se dedicar à agricultura. Gostava muito de dar a sua léria, e volta e meia compunha o discurso com a sua mentirinha, nunca se constando que isso tivesse vindo a prejudicar alguém. Dizia ele que tinha visto com os seus próprios olhos, na altura da Guerra de Espanha, os aviões atirarem linguiças para matar a fome às pessoas, e que o Soromenho tinha tal prática na apanha das ditas que chegava a não utilizar as mãos para as apanhar, pois bastava empinar a cabeça para as mesmas ficarem como colares enfiados no pescoço. Chegava a apanhar às meias dúzias.
Foi uma das poucas pessoas que na altura possuíam automóvel. Tinha um “Dodge”, muito espaçoso, ao qual chamava o “berço” e onde frequentemente se deslocava em grandes passeatas.
Assim e depois de regressar de uma viagem por terras Nortenhas, contava ele aos criados: Aquilo só visto, belas terras, bastava deitar a semente à terra que daí a pouco era só ver crescer a sementeira, e como cresciam. Vejam lá que vi uma couve, de tal tamanho que à sombra da mesma “acarrava“ um rebanho de ovelhas.
Oh patrão a agricultura pode estar muito desenvolvida lá para o Norte, mas a verdadeira indústria está aqui no Alentejo. Outro dia passei a Beja e vi lá estarem a construir uma panela de ferro, que dez operários lá dentro, a martelar no ferro, não se ouviam uns aos outros.
Eh pá e para que querem eles uma panela desse tamanho?
Segundo me disseram era para cozer uma couve que vinha lá do Norte.


Saudações Marroquinas
Xico Manel

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