Textos despretensiosos que nos recordam tempos nos quais imperavam valores que se perderam no evoluir da sociedade.
São pequenos contos que nos transportam no tempo e nos deixam um sorriso nos lábios.
Histórias que se voltam a publicar no Blog Alandro al
PEQUENAS MENTIRAS
Se pensam que só os Caçadores e Pescadores são mentirosos desenganem-se. Toda a gente gosta de pregar a sua mentira, umas vezes mais elaborada, outras nem tanto, mas sempre com a esperança de que o interlocutor seja mais parvo, e se possível que venha mais tarde a ser motivo de troça. Querem um exemplo?
No tempo da reforma agrária, quando as grandes Herdades eram ocupadas a velocidade de cruzeiro, faziam-se bons negócios, na medida em que o ocupado queria vender, para não perder tudo e o ocupante idem para fazer capital para as primeiras necessidades.
Foi assim que estando o Chambel, e o Tricano na oficina deste, viram chegar o Jeep da Herdade da Defesa com o Feitor da dita Herdade à porta da GNR, que fica uns passos à frente. O que lá foi fazer só ele sabe, mas entretanto chegou à oficina o Gisberto e o pai que na altura negociavam com artigos de lavoura e quinquilharias do género. Eh pá está ali o Jeep da Defesa!!! Ah tu não sabes? Foi mesmo agora ocupada a Herdade.
Não foi preciso nem mais uma palavra, olharam um para o outro e ala que eles aí vão caminho de Montes Juntos na mira de uma boa negociata… só que tudo não passou de mais uma aldrabice do Tricano. O Senhor Farinha só tinha passado e parado na GNR para cumprimentar uns amigos.
Mas o mentiroso que ficou para a história do Alandroal, foi o Senhor José Garcia.
Era o Zé “Garcias” homem de boas posses, o que se pode chamar de homem abastado. Possuía uma moagem, de onde provinha a luz eléctrica (privilégio de muito poucos), além de se dedicar à agricultura. Gostava muito de dar a sua léria, e volta e meia compunha o discurso com a sua mentirinha, nunca se constando que isso tivesse vindo a prejudicar alguém. Dizia ele que tinha visto com os seus próprios olhos, na altura da Guerra de Espanha, os aviões atirarem linguiças para matar a fome às pessoas, e que o Soromenho tinha tal prática na apanha das ditas que chegava a não utilizar as mãos para as apanhar, pois bastava empinar a cabeça para as mesmas ficarem como colares enfiados no pescoço. Chegava a apanhar às meias dúzias.
Foi uma das poucas pessoas que na altura possuíam automóvel. Tinha um “Dodge”, muito espaçoso, ao qual chamava o “berço” e onde frequentemente se deslocava em grandes passeatas.
Assim e depois de regressar de uma viagem por terras Nortenhas, contava ele aos criados: Aquilo só visto, belas terras, bastava deitar a semente à terra que daí a pouco era só ver crescer a sementeira, e como cresciam. Vejam lá que vi uma couve, de tal tamanho que à sombra da mesma “acarrava“ um rebanho de ovelhas.
Oh patrão a agricultura pode estar muito desenvolvida lá para o Norte, mas a verdadeira indústria está aqui no Alentejo. Outro dia passei a Beja e vi lá estarem a construir uma panela de ferro, que dez operários lá dentro, a martelar no ferro, não se ouviam uns aos outros.
Eh pá e para que querem eles uma panela desse tamanho?
Segundo me disseram era para cozer uma couve que vinha lá do Norte.
Saudações Marroquinas
Xico Manel
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