quarta-feira, 2 de setembro de 2020

CINE CLUBE DOMINGOS MARIA PEÇAS

      Homenagem do Al Tejo a Domingos Maria Peças
                   ( hoje a cargo do Rufino Casablanca)
                              “O Fio da Navalha”

Filme da 20th Century Fox datado de 1946
O realizador era um emigrado inglês. Emigrado sem razões políticas pelo meio. Nada de confusões. Emigrou porque assim o quis, disse mais tarde. E também porque nos “States” pagavam melhor. Também foi ele que mais tarde o disse. Chamava-se Edmund Goulding e nasceu britânico, como já dissemos, ainda no século dezanove, mais exactamente em 1891, vindo a falecer em Los Angeles no ano de 1959.
“O Fio da Navalha” tem, a nosso ver, dois grandes motivos de interesse: Primeiro, porque se baseia num romance de Somerset Maugham, com título homónimo, e segundo porque tem como principal intérprete feminina Gene Tierney. É claro que tem outros motivos de interesse, como por exemplo o facto de ter sido produzido por Darriyl F. Zanuck, que era assim uma espécie de dono do cinema em Hollywood, um milagreiro que fazia e desfazia estrelas e astros de um dia para o outro, e que para além disso também era um dos maiores impulsionadores do cinema enquanto teve poder.
= Título Original = “Razor´s Edge”
= Título Português = “O Fio da Navalha”
= Ano de Produção = 1946
= Argumento = Lamar Trotti – segundo o romance de Somerset Maugham
= Música = Alfred Newman
= Realização = Edmund Goulding
= Elenco = Tyrone Power, Gene Tierney, Anne Baxter, Clifton Webb, entre outros
O filme é um melodrama, como na época se usava fazer, e conta a história de um piloto aeronáutico que tendo combatido na grande guerra de 14/18, ficou com grandes problemas emocionais que o levam a procurar as soluções mais extremas para resolver as angústias que o atormentam.
Gene Tierney era a grande sensação do momento em Hollywood, devido ao extraordinário desempenho que tivera no filme “Laura” de 1944, e esperava-se que este “O Fio da Navalha”, viesse a fazer jus ao nome que granjeara dois anos antes. Porém, não foi bem isso que aconteceu. Não porque ela tivesse perdido qualidades. Não porque o seu desempenho anterior tivesse sido um equívoco. Não que acontecesse algo de inesperado que a impedisse de se concentrar neste trabalho. Não. Nada disso.
O que aconteceu é que o papel que lhe atribuíram, simplesmente, não se enquadrava com o seu tipo físico e sobretudo não era compatível com o seu talento. O mesmo, em nossa opinião, se passou com o papel que foi atribuído ao principal intérprete masculino, Tyrone Power.
Contudo, com isso não se perdeu nada porque em compensação, os intérpretes secundários, Anne Baxter e Clifton Webb, desempenharam grandes papéis neste filme, tendo a Baxter ganho, nesse ano, o Óscar para a melhor actriz secundária.
Para além deste Óscar ainda o filme teve mais três nomeações para a estatueta mágica. A saber: Melhor Filme – Melhor actor Secundário – E melhor Direcção Artística.
Este foi a época de oiro dos melodramas.
Digamos que foi a forma que o cinema americano arranjou para responder a um cinema de novo tipo que chegava da Europa. Era ao neo-realismo, sobretudo ao neo-realismo do cinema italiano, que estas produções americanas pretendiam responder, mas enquanto os realizadores italianos, por falta de meios, pois o pós-guerra na Itália deixara a indústria italiana de cinema pelas ruas da amargura, sem dinheiro, dizíamos, os realizadores italianos filmavam tudo na rua, fazendo do povo o principal intérprete das suas fitas, ao contrário dos realizadores americanos de cinema que continuavam a filmar sobretudo no interior dos estúdios. Havia falta de autenticidade nestas fitas e seria necessária uma nova geração de cineastas americanos para que este problema fosse resolvido. Havia nestas fitas uma grande falta de realismo e o público americano começava a interessar-se por realizadores que lhe mostravam o mundo tal como ele era, isto é, com uma grande dose de realismo. E ainda estava para chegar o movimento francês a que se convencionou chamar “Nouvelle Vague”. Esse outro movimento cultural europeu ainda deu mais trabalho aos americanos do que o neo-realismo.
Ainda assim, achamos que “O Fio da Navalha” vale bem o preço do bilhete.
                                                                         The End
Rufino Casablanca
Terena – Monte do Meio – Maio de 1995

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