O nosso primeiro rei era filho de um pastor?
A versão oficial contada nos livros de história seria que D. Afonso
Henriques era filho do Conde D. Henrique mas que teria nascido muito fraco e
com debilidades de saúde. Conta-se que o seu aio, Egas Moniz, terá levado a
criança de Guimarães para Chaves na tentativa de o curar nas águas termais
daquela cidade transmontana. Naquele tempo a viagem entre Guimarães e Chaves demorava 3 meses, por entre
caminhos de terra e em carro de bois. Acontece que, o Infante D. Afonso
Henriques, terá falecido no caminho. Ao chegar a Vila Pouca de Aguiar, Egas Moniz ter-se-à cruzado com um pastor com um filho com uma idade aproximada à de
D. Afonso Henriques, mas muito mais saudável, com o vigor físico típico de um transmontano. Egas Moniz terá comprado o filho ao pastor e levou-o para Chaves, onde,
durante 4 anos, o educou e transformou num menino com educação típica da
realeza. Conta-se que o substituto de D. Afonso Henriques era tão saudável
fisicamente que aos 13 anos já media 1.80m, quando naquela época o normal era
medir 1.60m na idade adulta.
D. Pedro I: o Rei que serrou um padre ao meio por este ter violado uma
mulher
Ficou conhecido como o
Justiceiro e a alcunha foi muito bem entregue. O Rei D. Pedro I tinha o hábito
de praticar justiça implacável com as próprias mãos.
Já alguma vez se indagou porque razão o Rei D. Pedro
era conhecido como “o justiceiro” ou como “o cruel”? Este Rei, que ficou famoso
na História de Portugal por ter mandado arrancar o coração dos homens que
assassinaram a sua amante Inês de Castro e por ter exigido que beijassem o seu
cadáver estando ela sentada no trono, costumava fazer justiça pelas próprias
mãos, um pouco por todo o país.
D. Pedro I deslocava-se frequentemente por Portugal e gostava de ouvir as
histórias e as queixas de quem tinha sido injustiçado e, em vez de recorrer aos
tribunais, era ele próprio quem proferia as sentenças e, muitas vezes,
praticava as mesmas. São várias as histórias de justiça pelas próprias mãos a
ele atribuídas.
É conhecido o episódio bíblico em que o rei Salomão ordena que um bebé seja
cortado ao meio e repartido pelas duas mulheres que reclamam a sua maternidade,
sentença que uma delas aprova e a outra rejeita horrorizada, mostrando assim
ser a verdadeira progenitora. Também Portugal teve um Salomão, embora não tão sagaz. Foi D. Pedro I, o
dos amores com Inês de Castro, que, nos dez anos em que reinou, andou a
percorrer o País fazendo justiça pelas suas próprias mãos.
Em Santarém habitava um lavrador rico com quem o rei se dava. Um dia,
estando nessa cidade e como não visse o homem, perguntou por ele e apurou que o
filho o atacara à facada, deixando-lhe uma cicatriz na cara. O rei ordenou
então que o chamassem e pediu-lhe que contasse como as coisas se tinham
passado. O lavrador narrou a discussão que tivera com o filho e a agressão de que
fora vítima, na presença da mulher. “Ora, manda-me cá a tua mulher e o teu
filho”, ordenou o monarca. Quando a mulher chegou, perguntou-lhe: “Ouve lá, de
quem é o filho?” Ela gaguejou: “Meu e do meu marido, senhor.” O rei cofiou a
barba. “Hum!, não acredito. Se o teu marido fosse o verdadeiro pai, ele não o
teria acutilado daquela forma.” A lavradora acabou por admitir que o rapaz era filho de um frade confessor
que a teria violado. No dia seguinte, D. Pedro foi ouvir missa na igreja onde
em tempos ocorrera a violação. Concluída a cerimónia, mandou chamar o
religioso. Após curta troca de palavras, o rei mandou meter o violador num caixote e
serrá-lo ao meio. Como o rei não era um ilusionista daqueles que serram
mulheres sem que estas sofram beliscadura, o desgraçado teve uma morte
horrorosa. Esta é apenas uma das muitas histórias que se contam acerca da
actuação de Pedro I como juiz.
O episódio do bispo do Porto ainda é bastante recordado. Constou a D.
Pedro, sem ter provas, que o prelado mantinha relações íntimas com uma mulher
casada. Tanto bastou para que entrasse pelo paço episcopal e, pegando no
chicote, o punisse. De outra vez, ao saber que uma mulher enganava o marido,
condenou-a à morte. E de nada valeu ao enganado implorar de joelhos o perdão da
esposa, que decerto amava.
Mas há um aspecto da vida de D. Pedro I menos conhecido. Narra o cronista
Fernão Lopes que o arrebatado soberano teve uma assolapada paixão… pelo
escudeiro Afonso Madeira, ao qual “amava mais do que se deve aqui dizer”. Como este tivesse um caso com uma tal Catarina Tosse, o rei, furioso,
“mandou-lhe cortar aqueles membros que os homens em maior apreço têm, de modo
que não ficou carne até aos ossos que tudo não fosse cortado”. O pobre Afonso,
segundo Lopes, foi tratado, “curou-se, engrossou nas pernas e no corpo e viveu
alguns anos engelhado de rosto e sem barba e morreu depois de sua natural morte”.
Conta a tradição que D. Pedro mandou desenterrar o cadáver da sua amada
Inês de Castro e a coroou (ou o que dela fisicamente restava) rainha de
Portugal. Mas será verdade que Inês de Castro foi rainha depois de morta?Não existe prova documental de que o seu amor louco chegado a esse ponto,
mas o episódio entrou no imaginário. A sugestão, tremendamente romântica, foi
mesmo glosada por autores estrangeiros. Do que não há dúvida é de que D. Pedro
fez transladar com pompa os restos de Inês do Convento de Santa Clara, em
Coimbra, para o belo túmulo gótico do Mosteiro de Alcobaça, ao lado do que
destinara a si próprio, que ainda hoje podemos admirar.
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