Muito
namoradeiro, irmão mais velho do João António da narrativa anterior.
Nunca se
casou.
Mas dizem
que deixou filhos entre Santiago Maior e Santiago Rio de Moinhos.
Nunca
cheguei a apurar a veracidade desses ditos.
Fosse
como fosse, foi esse feitio namoradeiro que lhe ditou a morte.
Lá pelo
fim dos anos vinte, apaixonou-se por uma espanhola de Cheles, moça muito
bonita, muito charmosa e atrevida de modos. Isto fazendo fé nos relatos que me
chegaram.
Mas… filha
de um figurão da política regional. Uma alta personalidade da região extremeña, ribeirinha
do rio Guadiana.
O romance
terá sido muito breve. Muito breve, mas intenso.
Terminou
quando a moça já estava de esperanças.
O tio
Santiago, como era seu hábito, passou à frente e à namorada seguinte.
E foi
assim que aquele portuguesinho descarado, de viola a tiracolo, entretendo a
mocidade com “Saias” à moda da região, sempre na mira da Guarda
Fiscal e dos Carabineiros, que estavam mortinhos por lhe deitar a mão, e das
raparigas bonitas que admiravam aquela desenvoltura, galhardia e ar canalha se
lixou.
Apareceu
morto no adro da Igreja de Nossa Senhora da Boa-Nova.
Ao lado
do corpo estava uma mochila, estilo saco cheio, com contrabando vindo de
Espanha.
Será
assim fácil deduzir que não o mataram para o roubar.
Isto
também deixa de lado a hipótese de uma acção das autoridades fronteiriças.
Continuando
a fazer fé no que me contaram, parece que aquilo foi um ajuste de contas.
Terá sido
– disseram os amigos do tio Santiago – um grupo de meliantes espanhóis,
contratado pelo pai da moça de Cheles, para assim lavar a honra de família que
o português manchara.
E parece
que o abate teria que ser em território português a fim de evitar especulações
e deixar pistas que pudessem conduzir as autoridades aos culpados.
Verdade?
Mentira? Estórias às quais se acrescenta um ponto?
Vá lá a
gente saber agora quando já passaram sessenta anos sobre o acontecido!
O que do
tio Santiago hoje resta são velhas e amarelecidas fotografias que mostram um
homem de estatura mediana, bigodes caídos, com ar de moina e chapéu de lado.
Rufino
Casablanca, Terena – Monte do Meio, 12 de Dezembro de 1990
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