sexta-feira, 10 de julho de 2020

O QUE A HISTÓRIA NÃO NOS ENSINA.

DO  CASAMENTO  INFELIZ  AO  POSSÍVEL  SUICÍDIO :  5  FACTOS  SOBRE  A  RAINHA CARLOTA  JOAQUINA  DE  BOURBON

Considerada a Rainha das Intrigas, a monarca nascida na Espanha conspirou contra o marido e criou problemas diversos na corte portuguesa

Dona Carlota Joaquina de Bourbon foi uma das rainhas mais caricatas e singulares da História Europeia, caracterízada pela sua autonomia e capacidade política, com a qual conspirou contra o marido praticamente a vida inteira. Nascida em Espanha, tornou-se rainha de Portugal e, por consequência, do Brasil, com as decorrências da invasão da Península Ibérica por Napoleão.
Uma figura repleta de lendas ao redor, que passam por lhe atribuir hábitos ninfomaníacos, a autoria da criação da caipirinha e uma série de boatos políticos de uma Europa conservadora. Foi ela um importante quadro do absolutismo no momento em que ele sofria uma grave crise.
Conheça cinco factos essenciais para compreender a trajetória política de Dona Carlota!

1. Casamento infeliz
A união entre Carlota Joaquina e o seu marido arranjado, Dom João de Bragança, tinha como origem uma busca por ambas as coroas de uma paz diplomática e uma união de interesses. Criando-se uma relação de confiança mútua, a associação entre Espanha e Portugal permitia uma vizinhança tranquila e a perda das ameaças de uma nova União Ibérica.
Porém, essas motivações políticas não permitiram que os cônjuges minimamente se gostassem. Com um ódio profundo pelo marido, com quem foi obrigada a casar, com apenas dez anos, era uma pessoa com personalidade diametralmente oposta a ela: mais bonacheirão, conservador e tranquilo, ele era incompatível com a pretensiosa, articuladora, autônoma rainha de personalidade forte.

2. Desprezo recíproco pela corte portuguesa
Ao ser levada a Lisboa em 1785, Carlota teve um choque relevante. Criada pelo rei espanhol Carlos III sob uma óptica mais liberal, aprendendo artes e a agir independentemente, ela era incompatível com a corte portuguesa. Uma mulher extremamente inteligente e livre, sofreu reveses de uma corte conservadora e fechada que  exigia postura e decoro.
Em contrapartida, a corte portuguesa também detestava Carlota. A sua atuação afrontosa e controladora (sabia ser disciplinada, mas não necessariamente queria), além das rixas com o próprio marido, levaram-na a ser represada pelos aristocratas lusitanos, que lhe deram o infeliz apelido de Megera de Queluz.

3. Pretensões de poder
Carlota Joaquina nunca escondeu a sua sede pelo poder, inclusive a  pretensão de assumir o trono de Portugal e da Espanha. Absolutista e pretensiosa, articulou diversas vezes golpes de Estado e movimentações obscuras no sentido de tomar o governo do próprio marido, que julgava ser um inapto. Associando-se com intrigas do interior da corte. No entanto, nunca conseguiu ascender como queria.
Porém, várias dessas articulações foram importantes no contorno das relações políticas da monarquia portuguesa. Uma das maiores pretensões da rainha era a de assumir, por sua origem espanhola, o controle das colônias hispânicas na Bacia do Rio da Prata e tornar-se rainha autônoma na América. Com isso poderia articular até um derrube da  coroa portuguesa e, no limite, criar uma nova União Ibérica centrada em si.

4. Exílio e separação
Com as invasões napoleônicas e a crise política gerada, a Família Real Portuguesa decide finalmente transferir as cortes para o Rio de Janeiro, o que desencadeara mais tarde no nascimento do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Carlota vê-se enojada com o plano, não vendo sentido uma rainha submeter-se a viver numa colônia. Para piorar, a vigem para lá foi degradante e marcada pela famosa epidemia de piolho que tomou os monarcas e os deixou carecas.
Chegada da Família no Rio de Janeiro / Crédito: Wikimedia Commons
Indignada com a situação em que estava, pelo menos conseguiu a abertura para fazer algo que já planeava: viver separada e distante do marido. Então, passou a viver fora dos círculos da monarquia, no Palácio de São Cristóvão, morando em locais mais bucólicos, como o Aterro do Botafogo. Ela e o marido apenas se encontravam em cerimônias oficiais, e mal  conversavam.

5. Intrigas políticas e morte solitária
Com a Revolução do Porto em 1820 e a exigência de retorno das cortes a Lisboa, Carlota voltou a conviver com membros da família real, no intuito de tomar o poder. O cenário político colocara os liberais constitucionalistas e os conservadores absolutistas em embate, e a rainha Joaquina passou a articular com o filho Dom Miguel em favor do segundo grupo, que se opunha a Dom João VI.
Recusando-se a jurar a Constituição, ela integrou a oposição forte ao governo do marido, mas com o tempo, minou também as suas relações com aliados. Gradualmente, isolou-se até entre os absolutistas, incluindo Miguel, passando a viver sozinha no Palácio de Queluz, onde foi assolada por uma depressão e morreu aos 54 anos, em 1830. Hoje, se discute se a rainha tirou a própria vida com envenenamento, o que é bastante plausível

Dona Carlota no fim da vida / Crédito: Wikimedia Commons

André Nogueira 

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