Por muito que
queira dar asas à imaginação e tentar escrever sobre outros assuntos,
eventualmente mais optimistas ou consensuais,
é difícil escapar à questão da pandemia. Infelizmente, os dias passam e parece
não haver uma luz ao fundo do túnel.
Esperamos
sempre, ansiosamente, tal como acontece desde o início deste pesadelo, pelos
dados da DGS, na expectativa de poderem ser confirmadas as nossas esperanças de
que tudo acabe. As redes sociais são invadidas por comentários e fake news, que
nos fazem desconfiar de tudo e de todos. Será que já cá chegou? Quem o trouxe?
Tudo isto alimenta as polémicas e as suspeições.
Dizem-nos
as fontes oficiais que a situação no nosso país está controlada, mas isso
parece não confirmar-se na realidade. A diário, surgem novos focos de infeção,
em diferentes lugares. No caso do Alentejo, aparecem nos boletins diários
alguns concelhos com casos registados, que no dia seguinte acabam por sair da
contabilização diária. Nem sempre as justificações para o efeito parecem ser
plausíveis para o comum dos mortais, mas ainda assim, damos algum benefício da
dúvida…
Mas
podemos realmente estar descansados? Apesar das mensagens positivas que os
responsáveis nos transmitem, penso que ainda é muito cedo para pensar que o
pior já passou. O discurso das entidades com responsabilidade nesta matéria
parece ser um pouco errático, com notícias que, passadas poucas horas, deixam
de ter validade. Usar máscara, sim ou não? O distanciamento social é suficiente
para ficarmos protegidos? Agora parece que o vírus já se transmite pelo ar…
Ficamos
baralhados com as teses que diariamente nos são apresentadas. Podem dizer-nos
que a doença é desconhecida, que pouco ou nada se sabe sobre a sua evolução,
mas penso que antes de serem feitas determinadas recomendações, há que ter o
cuidado de avaliar, tanto quanto possível, a sua validade. No meu entender,
tudo isto origina algum desnorte e causa alarme social.
Penso
que a maioria dos cidadãos tem a percepção clara de que tudo mudou, num curto
espaço de tempo. Não houve lugar para experiências ou adaptações; o mundo, tal
como o conhecíamos, alterou-se subitamente, da noite para dia.
Por
isso, tem que haver responsabilidade nos comportamentos individuais. Se
queremos que a economia não entre em colapso, temos que cumprir
escrupulosamente as regras. Só isso vai permitir que consigamos superar este
tremendo desafio. Isso parte de cada um de nós. Como tenho defendido, um dia,
mais tarde, será feito um balanço sobre tudo o que aconteceu neste fatídico ano
de 2020. Muitas decisões que agora foram tomadas, quer a nível técnico, quer a
nível político, serão julgadas no futuro.
Será
que os governantes e líderes mundiais, focados em manterem a economia viva e
tentarem minimizar os efeitos da crise que se avizinha, nos ocultam dados e
informações, para não semearem o pânico? Serão os registos diários do COVID 19
verdadeiros, ou são lançados a conta-gotas para causarem menos impactos? Haverá
motivos ocultos para nos induzirem em erro?
As
dúvidas são legítimas, na minha perspectiva.
Parece-me
claro que, no início, a OMS desvalorizou bastante o que estava a acontecer. E
muitos governos desvalorizaram e desvalorizam a gravidade da situação. É
necessário refletir sobre isto. Agora, há que tratar de travar esta ameaça, mas
essa avaliação, um dia, terá que ser feita.
Tiago Passão Salgueiro
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