Considerados os dois maiores
artistas da Renascença, os pintores viviam em conflito e não suportavam ficar
juntos na mesma sala
Retratos
de Leonardo da Vinci e Michelangelo, respectivamente - Wikimedia Commons
Em diferentes contextos, manter uma certa rivalidade
poder ser bastante positivo, já que, por vezes, a competição gera uma maior
produção. Quando a rixa é entre dois pintores, no entanto, as coisas são um
pouco diferentes.
Clássicos renascentistas, Leonardo da Vinci e Michelangelo foram
alvos da grande maioria das fofocas em Florença, em meados de 1504. Cada um com
as suas características, os dois artistas não faziam a menor questão de
conviver.
Naquela época, os dois rivais
estavam tão inflamados que uma simples escolha equivocada de palavras poderia
gerar a pior discussão que a Itália já viu. Por esse motivo, inclusive, Leonardo e
Michelangelo evitavam ficar no mesmo ambiente.
Retrato de Michelangelo por Sebastiano del Piombo / Crédito: Wikimedia
Commons
Batalha para além da tela
Naquele ano de 1504, o governo de Florença havia
decidido que a sua sede deveria contar com uma intervenção artística. Assim,
Michelangelo Buonarroti, de 29 anos, foi convidado para criar uma cena de
guerra, numa das paredes do Palazzo della Signoria.
Em troca da pintura, o Estado florentino oferecia uma recompensa
bastante avultada. Face a isso, Michelangelo não pensou duas vezes para aceitar
a proposta. O problema é que Leonardo da Vinci também fora convocado para a
tarefa.
Orgulhosos e perfeccionistas, no entanto, nenhum dos
dois artistas estava disposto a retroceder. Assim, ambos começaram a trabalhar
nas suas peças: duas cenas de batalha inspiradas na história recente de
Florença.
Auto-retrato de Leonardo da Vinci / Crédito: Wikimedia Commons
Cartas na mesa
Por algum tempo, o clima artístico na cidade ficou
suspenso. Todos queriam saber qual dos dois grandes renascentistas ganharia a
competição que se instalava. Qual obra, afinal, embelezaria o Palazzo della
Signoria?
Passaram-se
semanas e, ao contrário do que os entusiastas esperavam, Florença nunca
realmente descobriu quem ganhou o desafio. Entre 1505 e 1506, tanto
Michelangelo quanto Leonardo da Vinci interromperam as suas obras deixando-as
inacabadas.
Daquela vez, a rivalidade entre os dois pintores
chegou ao fim sem que os dois entrassem num
conflito real. Nos anos seguintes, no entanto, as batalhas indiretas e os
insultos por baixo dos panos tornaram-se constantes e frequentes.
Homem Vitruviano e outras anotações de da Vinci / Crédito: Wikimedia
Commons
Um mistério
Para Sigmund Freud, o único pensador a analisar a
frenética competição entre os artistas renascentistas, a tal rixa apoiava-se nalguns fatos distintos. Para começar, da
Vinci e Michelangelo eram muito parecidos.
Segundo o pai da psicanálise, ambos tinham
dificuldades com as suas figuras maternas ausentes e ainda compartilhavam o
mesmo fardo que era ser homossexual no século 16. Leonardo, no entanto, era um
tanto mais bem-resolvido do que o outro.
E, é claro, sempre poderia existir a questão da
inveja. Muito mais novo do que da Vinci, Michelangelo detestava o rival, mas
precisava estudá-lo, a fim de compreender as teorias do claro e do escuro, por
exemplo. Era quase uma admiração velada.
Sem contar que Leonardo era, de fato, um homem muito
mais confiante que o novato. Aos 51 anos, ele chamava a atenção por onde
passava e não se importava em usar túnicas cor-de-rosa, todas muito mais curtas
do que o padrão da época exigia.
PAMELA MALVA
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